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Dilma é eleita uma das mulheres do ano pelo FT

9 de dezembro de 2016

Em entrevista ao jornal britânico, ex-presidente fala sobre a vida pós-impeachment, critica sexismo na política e diz que PEC do teto de gastos é suicídio. Sobre sua sucessão, opina: "Governo de velhos brancos ricos".

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Brasilien Brasilia Dilma Rousseff Rede nach Amtsenthebung
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa

A ex-presidente Dilma Rousseff, que teve seu mandato cassado em agosto após um processo de impeachment, foi escolhida como uma das mulheres do ano pelo jornal britânico Financial Times. A petista ainda concedeu uma entrevista exclusiva ao veículo, publicada nesta quinta-feira (08/12).

Ao lado de Dilma, aparecem personalidades como a primeira-ministra britânica, Theresa May, a ex-candidata democrata à Casa Branca Hillary Clinton, a presidente sul-coreana Park Geun-hye, a parlamentar britânica Jo Cox, assassinada em junho, a cantora americana Beyoncé, entre outras.

"Para uma mulher que acabou de suportar um duro período de seis meses de julgamento político, que resultou em seu impeachment, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff parece surpreendentemente relaxada", escreve Joe Leahy, chefe da sucursal do FT no Brasil, logo no início do texto.

Durante a longa entrevista, concedida num hotel em Porto Alegre, a ex-presidente foi de assuntos leves, como sua nova paixão pelo ciclismo – "a melhor coisa que um ser humano pode fazer é pedalar", disse –  a críticas sobre a PEC do teto de gastos públicos e o sexismo no mundo político.

"Quando você é uma mulher no poder, eles dizem que você é dura, fria e insensível, enquanto um homem na mesma posição é forte, firme e encantador", disse a petista, brincando ter sido frustrante ser taxada como "ogra", enquanto os homens na política brasileira "tinham cheiro de rosas".

No texto em que faz um perfil de Dilma, Leahy diz que ela ainda deve estar chocada com a reviravolta de sua trajetória política – que, segundo o jornalista, combina com a trajetória brasileira, "indo de um milagre econômico de mercado emergente a um desapontamento em poucos anos".

O jornal destaca o contraste com seis anos atrás, quando a avaliação de seu governo "fazia inveja a qualquer líder mundial". "Ela foi a mulher que finalmente quebrou o teto de vidro na política brasileira, que se fez campeã das minorias e dos pobres através de programas sociais", diz o texto.

Screenshot Financial Times

Leahy descreve que Dilma – "uma ex-marxista que chegou ao poder em 2010 com o apoio daquele que era um dos movimentos operários mais bem-sucedidos do mundo, o PT" – mostra uma indignação nervosa a qualquer menção sobre o governo de Michel Temer, que a substituiu.

"É um governo de homens brancos, velhos e ricos, ou que pelo menos querem ser ricos", disse ela, insinuando uma longa lista de acusações de corrupção contra membros da coalizão de Temer.

A petista ainda comentou sobre a proposta de emenda constitucional (PEC) 55, antiga 241, classificando-a como uma loucura. "Durante uma recessão, uma política de austeridade é suicídio", afirmou. A proposta, uma das prioridades do atual governo, fixa um teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos. "No curto prazo, você tem que aumentar o investimento público."

Sobre o futuro, Dilma declarou que não disputará mais nenhum cargo eletivo, mas continuará "politicamente ativa". Ela é membro do conselho da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, e disse que pretende viajar mundo afora para informar sobre o retrocesso imposto pelo governo Temer.

EK/ots