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Deputado conservador quer salvar clube de fetiche em Berlim

2 de dezembro de 2019

Ícones da vida noturna da cidade, KitKat e Sage tiveram contrato de aluguel rescindido e deverão deixar o espaço que dividem. Em reação inesperada, conservador se posiciona contra especulação imobiliária e gentrificação.

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KitKat em Berlim
KitKat é famoso por suas festas de feticheFoto: picture-alliance/imageBroker

Apesar da loucura que se tornou o setor imobiliário em Berlim, passando a ser tema constante no noticiário local, na semana passada duas histórias surpreenderam os berlinenses e chamaram a atenção até da mídia internacional.

A primeira foi a visitação de um apartamento disponível para locação, com um preço justo, que atraiu mais de 1,7 mil interessados. O imóvel de dois cômodos custava 550 euros por mês, pouco mais de 2,5 mil reais. O caso escancara a crise de moradia enfrentada pela cidade, que não para de crescer, enquanto os salários não têm acompanhado o ritmo do aumento dos aluguéis.

A média salarial na capital alemã varia de 2,6 mil euros por mês a 3,5 mil euros, dependendo do bairro. Esse valor é bruto, ou seja, sem os descontos com impostos que podem chegar a 42%.

A segunda surpresa da semana foi o anúncio da rescisão do contrato de aluguel dos clubes KitKat e Sage, duas das mais famosas instituições da vida noturna da cidade. Dividindo o mesmo espaço, os dois clubes devem deixar o local até junho do ano que vem. O dono do imóvel seria um investidor de Munique que deseja vender o terreno para um interessado em construir apartamentos de luxo no local.

A notícia foi mais um alerta sobre a devastação da especulação imobiliária que está destruindo o caráter de Berlim, transformando a metrópole em mais uma entre tantas localidades padronizadas pela gentrificação – o processo de valorização de áreas urbanas que se reflete na explosão dos valores dos aluguéis.

Conhecido pelas festas de fetiche, o KitKat é uma das discotecas legendárias da cidade. Fundado em 1994 pelo diretor australiano de cinema pornográfico Simon Thauer e sua companheira Kirsten Krüger, o clube ganhou esse nome em homenagem à famosa boate do filme Cabaret, de 1972.

O Sage também faz parte da história da vida noturna berlinense. Seu proprietário, Sascha Disselkamp, afirmou que tentou conversar em vão com o dono do imóvel. Ao jornal Berliner Zeitung, ele expressou a vontade de comprar o local onde ficam os clubes para transformá-lo num espaço cultural.

A prefeitura de Berlim, governada atualmente por uma coalizão formada pelo Partido Social-Democrata (SPD), Partido Verde e A Esquerda, disse que os dois locais "são ícones da cultura" da cidade e que está interessada em preservá-los. Em nome dos clubes, as autoridades estariam em contato com o proprietário do imóvel para tentar encontrar uma solução para o impasse.

Tal atitude já era de se esperar dessa coalizão, que vem tentando encontrar meios para conter o avanço da especulação imobiliária na cidade. O mais curioso nesse caso, porém, foi o apoio dado aos clubes por um deputado do partido da chanceler federal Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), que geralmente tem se mantido ao lado dos especuladores e criticado o governo local por sua posição.

"Estamos testemunhando infelizmente a extinção da cena noturna de Berlim", afirmou o deputado conservador Christian Goiny, acrescentando que a recente rescisão do contrato do KitKat e do Sage é mais uma triste prova disso. Ele propôs ainda que a cidade ofereça aos clubes um espaço alternativo, além de apoio financeiro a discotecas que enfrentam ameaças de fechamento.

Ainda não se sabe qual será o destino dos dois, mas há grandes chances que eles entrem para estatísticas dos clubes legendários que morreram devido à especulação imobiliária. Nos últimos anos, a cidade perdeu 250 discotecas e espaços de eventos. Cada vez mais locais famosos estão fechando suas portas, sucumbindo à gentrificação.

Essa transformação ignora ainda o poder econômico desses espaços. A cena de clubes de Berlim é famosa no mundo todo, atraindo turistas de vários países. O setor movimenta quase 1,5 bilhão de euros por ano.

Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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