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Como o empresariado alemão vê Bolsonaro

18 de outubro de 2018

Executivos alemães no Brasil não parecem preocupados com um eventual presidente de extrema direita: importante é ele introduzir as reformas necessárias, dizem. Caso contrário, o agravamento da crise será inevitável.

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Showdown in Brasilien
Foto: SWR

Com grande probabilidade, o candidato nacionalista de direita Jair Bolsonaro será o próximo presidente do Brasil. Nas pesquisas de intenção de voto, ele aparece com grande vantagem à frente do petista Fernando Haddad. E a economia alemã e suas empresas no Brasil, que representam cerca de 10% do PIB industrial nacional, não parecem ter nada contra isso.

Conversas com meia dúzia de representantes da economia alemã em São Paulo nos últimos três dias permitem tirar um consenso: os empresários esperam que depois do 28 de outubro os tempos de instabilidade cheguem ao fim. Se 60% dos brasileiros se decidirem por um candidato, dizem, é preciso respeitar essa decisão.

Para a maioria dos eleitores, ponderam, o ex-militar parece mais convincente do que seu adversário em temas como o combate à corrupção, a segurança e, acima de tudo, a economia.

Os CEOs alemães não veem na crescente popularidade de Bolsonaro um indício de uma guinada política para a direita, mas, acima de tudo, um sinal de protesto: os brasileiros querem mudança na segurança, novas cabeças na política e um fim da corrupção. E um candidato como Bolsonaro, avaliam, também faz parte da democracia, é preciso lhe dar uma chance.

A glorificação da ditadura militar não os preocupa, tampouco os déficits do candidato em termos de Estado de Direito – a exemplo da defesa da tortura como instrumento legítimo nas investigações policiais.

Bolsonaro vai se confrontar com um Congresso, uma Justiça e uma mídia que acabarão regulando-o, esperam os executivos alemães, que tampouco antecipam uma maior tensão nas relações com Berlim, como sugeriram deputados social-democratas nos últimos dias.

Uma meta é finalmente organizar a segunda Consulta Governamental Brasil-Alemanha em abril ou maio próximo. Fora da Europa, Berlim só negocia nesse alto nível com os governos da China, Índia, Rússia e Israel. Em 2015, a chanceler federal Angela Merkel viajou a Brasília com uma dúzia de ministros e secretários de Estado para o primeiro encontro do gênero, e estavam previstos outros, que não se realizaram devido à crise política.

O passo decisivo agora, segundo os empresários, será Bolsonaro dar início imediato às reformas da aposentadoria e tributária, a fim de reduzir o déficit orçamentário: o Brasil precisa sinalizar que acordou em relação a esses temas. Também aqui em nada os perturbam as declarações do candidato sobre a economia, nas últimas semanas, que foram, na melhor das hipóteses, contraditórias.

Decerto é problemático, admitem, que não se saiba o que Bolsonaro realmente quer e o que é capaz de colocar em prática, se ele conseguirá formar alianças no Congresso a fim de implementar suas reformas. Para os empresários alemães, o clima positivo na bolsa de valores e nos mercados após o primeiro turno foi um fenômeno especulativo, mas não duradouro.

Para a economia, avaliam, é decisivo o fato de ele se mostrar fundamentalmente pró-mercado, ao contrário do oponente, Haddad. Os empresários tampouco criticam a intenção do populista de direita de povoar seu gabinete com militares. Segundo eles, os generais seriam competentes em assuntos como segurança e infraestrutura, da mesma forma que o guru econômico Paulo Guedes, provável ministro da Fazenda de Bolsonaro.

Caso também sob o novo presidente o Brasil falhe em trilhar um caminho de reforma econômica, aí o agravamento da crise será inevitável. Nos últimos dias chegaram mais dados comparativos decepcionantes sobre a posição do país na economia mundial.

Entre eles, os índices divulgados pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD): com 22% a menos no primeiro semestre, o Brasil acusou a maior queda de investimentos estrangeiros entre as nações emergentes.

Outro golpe é a nova perda de competitividade como centro econômico, segundo o Fórum Econômico Mundial: desde 2014, o país caiu da 57ª para a 81ª posição, de um total de 137, os investimentos das empresas alemãs se deslocaram cada vez mais para a Ásia.

Também o mercado interno de 210 milhões de consumidores perdeu atratividade, devido à recessão e à estagnação: as filiais brasileiras atualmente são responsáveis, em média, por apenas 2% do faturamento total dos conglomerados internacionais – apenas alguns anos atrás, esse percentual era de 5% a 10%.

Não só os investimentos estrangeiros minguam, apontam os empresários alemães: os próprios brasileiros não estão mais investindo. E como a indústria nacional não é mais competitiva, o país perde interesse como plataforma de exportações. A América Latina como um todo tem agora menor relevância internacional por culpa do Brasil, o qual precisa parar de anunciar uma decepção atrás da outra. O apelo central da economia alemã é: por favor, chega de notícias ruins do Brasil.

Será que um presidente Bolsonaro é capaz de realizar esse desejo?

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. Clique aqui para ler suas colunas. 

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