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Butantan inicia produção da Coronavac

10 de dezembro de 2020

Doria diz que expectativa é produzir até 1 milhão de doses por dia na fábrica do instituto em São Paulo. Anúncio do estado inflama disputa política com governo federal em torno da vacina contra covid-19.

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Seringa sobre foto de um profissional de saúde
Acordo entre São Paulo e a Sinovac prevê 46 milhões de doses da vacina, sendo 40 milhões produzidas no ButantanFoto: Allan Carvalho/NurPhoto/picture-alliance

O Instituto Butantan iniciou a produção da Coronavac, vacina contra a covid-19 desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, no âmbito de uma parceria entre a empresa e o governo de São Paulo.

O anúncio foi feito nesta quinta-feira (10/12) pelo governador João Doria (PSDB), num momento em que alguns países já deram a largada para o uso em massa de imunizantes contra o coronavírus, e enquanto o Brasil vive um clima de disputa entre o governo federal e o paulista.

"Foi iniciada ontem a produção da vacina Coronavac aqui em São Paulo. É a produção brasileira do Butantan, que está fabricando com insumos que vieram da Sinovac. Um momento histórico que orgulha todos nós, brasileiros", disse Doria em coletiva de imprensa no instituto.

A produção será feita em turnos sucessivos, 24 horas por dia, sete dias por semana, com a meta de alcançar a capacidade máxima de até 1 milhão de doses por dia. 

A fábrica do Butantan, localizada na zona oeste de São Paulo, tem 245 profissionais, enquanto 120 novos funcionários deverão ser contratados para reforçar a produção da vacina contra o coronavírus, anunciou Doria.

Segundo o governador, o primeiro lote produzido terá aproximadamente 300 mil doses. Até janeiro, o governo de São Paulo prevê que tenham sido fabricadas 40 milhões de doses da vacina, além das 6 milhões a serem enviadas pela Sinovac, já prontas para uso.

Os números já constavam no acordo firmado em setembro entre a empresa chinesa e o Butantan, ligado ao governo paulista, que prevê a compra e a transferência de tecnologia para o instituto.

Até agora, São Paulo já recebeu da Sinovac um total de 120 mil doses prontas para uso, além de insumos para a produção de 1 milhão de doses, a serem envasadas no Butantan.

Estudos de fases 1 e 2 realizados na China demonstraram que a Coronavac é segura e não provoca efeitos colaterais graves nas pessoas vacinadas.

O imunizante, contudo, ainda está passando por uma terceira e última fase de testes, que vai revelar se ele é eficaz – ou seja, se de fato protege contra o coronavírus. Os ensaios clínicos já vêm sendo desenvolvidos no Brasil desde julho.

O governo paulista espera que os resultados da fase 3 sejam divulgados ao público já na próxima semana. Se os números forem favoráveis, o estado planeja pedir imediatamente a aprovação da vacina à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Na segunda-feira, Doria havia anunciado um plano estadual de vacinação, prevendo o início da campanha já em 25 de janeiro de 2021, embora isso dependa do aval da Anvisa.

Segundo a estratégia do governo paulista, profissionais de saúde, pessoas com mais de 60 anos e indivíduos vulneráveis como indígenas e quilombolas terão prioridade na imunização. A Coronavac requer a aplicação de duas doses, e ambas serão gratuitas no estado.

Disputa entre Bolsonaro e Doria

Enquanto São Paulo apostou na vacina chinesa, o governo federal deu preferência para o imunizante da AstraZeneca e da Universidade de Oxford, com as quais firmou um acordo para a compra de 100 milhões de doses. O tema acabou se tornando alvo de uma disputa política entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro, seu desafeto.

Em 20 de outubro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou a intenção do governo federal de comprar 46 milhões de doses da vacina chinesa. Porém, algumas horas após o anúncio, Bolsonaro desautorizou o ministro e disse que o país não compraria a Coronavac.

Em meados de novembro, o presidente elevou ainda mais a polêmica em torno da vacina ao declarar vitória após a suspensão dos testes da Coronavac depois da morte de um voluntário. "Mais uma vitória de Jair Bolsonaro. Morte, invalidez, anomalia. Essa é a vacina que Doria queria obrigar o povo paulista a tomar", escreveu Bolsonaro nas redes sociais.

A posição do presidente gerou várias críticas de políticos e de profissionais de saúde, que o acusaram de politizar o imunizante e de festejar a morte de uma pessoa.

A Anvisa autorizou a retomada dos testes no Brasil após as autoridades terem concluído que o óbito não estava relacionado com a vacina.

Depois de várias críticas, Bolsonaro recuou e admitiu a possibilidade de adquirir a Coronavac, caso seja aprovada pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde, e vendida a um preço que considere adequado.

Na quarta-feira, Pazuello também garantiu que o imunizante chinês fabricado no Butantan será usado no plano nacional de vacinação se for aprovado pela agência reguladora.

Doria, por sua vez, vem promovendo a ideia de a Coronavac ser a "vacina do Brasil". Segundo informou o político tucano nesta quinta-feira, 11 estados e 912 municípios já manifestaram interesse em adquirir doses do imunizante. Os estados são Acre, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Roraima.

EK/abr/ots