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CriminalidadeAmérica Latina

Brasileiro é detido após tentar atirar em Cristina Kirchner

2 de setembro de 2022

Homem de 35 anos foi apontado como autor de tentativa de assassinato contra vice-presidente argentina. Segundo imprensa, brasileiro seguia perfis radicais nas redes sociais e tinha tatuagens associadas ao nazismo.

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Imagem captada pela Televisão Pública Argentina mostra arma apontando contra Cristina Kirchner
Imagem captada pela Televisão Pública Argentina mostra arma apontando contra Cristina KirchnerFoto: Television Publica Argentina/AP/picture alliance

Um homem foi detido nesta quinta-feira (01/09) à noite em Buenos Aires depois de tentar atirar na vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, nos arredores de sua casa, quando acontecia uma vigília em seu apoio, segundo confirmou à imprensa o ministro da Segurança do país, Aníbal Fernández.

A polícia identificou o homem como sendo Fernando Andrés Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos com antecedentes criminais que vive na Argentina desde 1993. Em março de 2021, ele foi detido ao portar uma faca de 35 centímetros no bairro La Paternal, em Buenos Aires, onde vive.

De acordo com o jornal Clarín, o brasileiro afirmou na época que usava o objeto para se defender, mas acabou sendo autuado pelo porte de arma. O jornal afirma que Montiel atuava como motorista de aplicativo.

Emissoras de televisão captaram as imagens de quando a ex-presidente (2007-2015) deixava seu carro, no bairro da Recoleta, e estava rodeada por uma multidão de apoiadores. Em certo momento, ela abaixa a cabeça quando alguém lhe aponta uma arma. Apesar de o gatilho ser puxado, o disparo falha.

De acordo com o jornal La Nación, Montiel seguia diversos perfis ligados a grupos radicais e de ódio, assim como páginas de "ordens maçônicas", de "comunismo satânico" e de ciências ocultas. As redes sociais do brasileiro foram deletadas durante a madrugada.

O Clarín afirma ainda que o brasileiro tem várias tatuagens em seu corpo, algumas que fazem alusão a mitologias vikings e germânicas, incluindo uma no ombro que representa um "Schwarze Sonne" (Sol negro, em alemão), símbolo ligado à filosofia ocultista do nazismo e utilizado pela organização paramilitar nazista Schutzstaffel (SS). 

Brasileiro portava uma pistola carregada

De acordo com informações da Polícia Federal da Argentina à imprensa, Montiel portava uma pistola Bersa 380, calibre 32 e de fabricação argentina, carregada com cinco balas. De acordo com as imagens, o brasileiro – que usava uma touca preta e uma máscara facial – chamou a atenção dos apoiadores da ex-presidente e foi agarrado no meio da multidão.

Ao ser flagrado, Montiel tentou fugir, mas foi agarrado pela camisa perto do prédio onde a ex-presidente mora. Ele foi preso e levado para uma delegacia na cidade de Buenos Aires.

"Uma pessoa indicada por pessoas próximas mostra uma arma e é detida pelo pessoal da segurança. Eles o afastam, a arma é encontrada. Agora a situação tem que ser analisada pelo nosso pessoal científico para avaliar os vestígios e a capacidade e disposição que tinha essa pessoa", declarou o ministro Aníbal Fernández à emissora de televisão C5N.

Segundo relataram fontes oficiais do Ministério da Segurança à agência de notícias Efe, membros da Polícia Federal Argentina, responsável pela segurança da vice-presidente, foram alertados por manifestantes que estavam no local que "um homem estaria armado entre eles".

Manifestações pró e contra Cristina Kirchner

No último dia 22 de agosto, o promotor Diego Luciani pediu 12 anos de prisão para Cristina, que é acusada de chefiar um esquema de associação ilícita e fraude ao Estado quando era presidente da Argentina.

Desde então, grupos a favor e contra a ex-presidente têm se manifestado nas proximidades da residência de Cristina no bairro Recoleta.

A tensão aumentou após a colocação de uma cerca ao redor da casa de Cristina e das acusações do partido governista em relação à repressão contra os manifestantes pelas forças do governo da cidade de Buenos Aires – opositor do Executivo argentino.

Além de problemas na Justiça, a vice-presidente enfrenta uma crise em seu governo ao travar uma disputa por espaço com o presidente Alberto Fernández. Em agosto, o governo argentino criou um "superministério" da Economia para tirar o país da crise financeira.

Presidente decreta feriado nacional

Depois da meia-noite, Alberto Fernández falou em rede nacional, onde expressou seu "forte repúdio" ao incidente e surpreendeu ao decretar feriado nacional nesta sexta-feira. Ele classificou o evento como "o mais grave que aconteceu desde que recuperamos nossa democracia". Segundo fontes próximas, ele teria telefonado para Cristina logo após o incidente.

No Twitter, o ex-presidente argentino e opositor Mauricio Macri repudiou o ataque sofrido por Cristina. "Meu repúdio absoluto ao ataque sofrido por Cristina Kirchner, que felizmente não teve consequências para a vice-presidente. Este fato gravíssimo exige um esclarecimento imediato e profundo por parte da Justiça e das forças de segurança", escreveu.

Deputados e senadores da base governista se manifestaram no Congresso Nacional contra o ataque. "Não a mataram porque Deus é grande", afirmou o senador governista José Mayans. O deputado governista Sergio Palacio pediu a investigação do caso.

Políticos latino-americanos manifestam solidariedade

Após o incidente, autoridades e ex-líderes de diversos países expressaram sua solidariedade à Cristina. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou no Twitter que "repudia veementemente esta ação que busca desestabilizar a paz do povo irmão argentino".

Na mesma rede social, o líder cubano Miguel Díaz-Canel escreveu: "De Cuba, consternado com a tentativa de assassinato de Cristina Kirchner. Transmitimos toda nossa solidariedade à vice-presidente, ao governo e ao povo argentino."

O presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou que a tentativa de assassinato merece todo o repúdio e a condenação de todo o continente. "Minha solidariedade a ela, ao governo e povo argentino. O caminho será sempre do debate de ideias e diálogo, nunca de armas ou violência", acrescentou.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, condenou o ataque e afirmou que "a direita criminosa e servil ao imperialismo não passará. O povo livre e digno da Argentina irá derrotá-lo".

Ao se pronunciar sobre o fato, o presidente Jair Bolsonaro lembrou a facada que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018. 

"Eu lamento. Agora, quando eu levei a facada, teve gente que vibrou por aí. Lamento, já tem gente que quer botar na minha conta esse problema. E o agressor ali, ainda bem que não sabia mexer com arma. Se soubesse, teria sucesso no intento."

O ex-presidente brasileiro Luiz inácio Lula da Silva escreveu no Twitter: "Toda a minha solidariedade à companheira Cristina Kirchner, vítima de um fascista criminoso que não sabe respeitar divergências e a diversidade. A Cristina é uma mulher que merece o respeito de qualquer democrata no mundo. Graças a Deus ela escapou ilesa."

Ele pediu ainda que o autor do ataque sofra todas as consequências legais. "Esta violência e ódio político que vêm sendo estimulados por alguns é uma ameaça à democracia na nossa região. Os democratas do mundo não tolerarão qualquer violência nas divergências políticas", acrescentou.

fc/lf (Efe, AFP, ots)