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Bolsonaro cancela participação no Fórum de Davos

9 de janeiro de 2020

Presidência fornece poucos detalhes para explicar ausência. Encontro de 2019 marcou estreia internacional de Bolsonaro, mas participação foi sacudida por notícias negativas envolvendo Flávio e atritos com imprensa.

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Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial em Davos, em 2019
Bolsonaro chegou a adiar uma cirurgia para participar do Fórum de 2019, mas ao chegar à Suíça fez pouco uso da vitrine oferecida pelos organizadores Foto: Reuters/A. Wiegmann

O porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, informou nesta quinta-feira (08/01) que o presidente Jair Bolsonaro cancelou a ida ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O encontro está previsto para ocorrer no final do mês.

"Está cancelada a ida do presidente, falei com ele há pouco. As razões para o cancelamento por parte do presidente são aquelas que já estamos esboçando há tempos", declarou Rêgo Barros.

Na segunda-feira, Bolsonaro indicou que poderia não ir ao fórum. Sem entrar em detalhes, o presidente disse na ocasião que "o mundo tem seus problemas, questão de segurança".

Nesta quarta-feira, Rêgo Barros também deu explicações genéricas para justificar a ausência de Bolsonaro no encontro.

"O presidente e os assessores analisaram uma série de aspectos: aspectos econômicos, aspectos de segurança, aspectos políticos. E o somatório desses aspectos, quando levados à apreciação do presidente, lhe permitiu avaliar que não seria o caso, neste momento, de participar desse fórum", afirmou o porta-voz.

O fórum deste ano acontecerá entre os dias 21 e 24 de janeiro. Entre os temas de discussão, estão "Economias mais justas", "Como salvar o planeta", "Futuros saudáveis" e "Tecnologia para o bem".

Com a ausência de Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, cuja viagem a Davos já estava programada, deve ser o principal representante do Brasil no evento.

Fórum de 2019

A decisão de cancelar a viagem em 2020 contrasta com a posição do presidente no início do ano passado. O Fórum de Davos de 2019 marcou a estreia de Bolsonaro em palcos internacionais. Foi sua primeira viagem ao exterior depois de tomar posse. Na ocasião, ele chegou a adiar uma cirurgia para retirada de uma bolsa de colostomia e assim garantir sua presença. O encontro anual de Davos reúne não apenas líderes mundiais, mas alguns dos principais nomes da indústria e das finanças do planeta.

Jair Bolsonaro ao lado de Iván Duque em meio a repórteres
A participação de Bolsonaro no fórum de 2019 foi marcada por atritos com a imprensa Foto: Getty Images/AFP/F. Coffrini

A presença de Bolsonaro no último encontro em Davos, no entanto, acabou sendo encarada como uma oportunidade desperdiçada por analistas e observadores internacionais. Na ocasião, coube ao presidente brasileiro fazer o discurso de abertura do fórum. Mas Bolsonaro falou por apenas seis minutos, sendo que os organizadores do fórum haviam reservado 45 minutos para o discurso e para uma rodada de perguntas.

Havia expectativa no encontro de que Bolsonaro detalhasse sua agenda e reformas e acalmasse qualquer receio no exterior sobre seu desempenho. Mas o presidente usou a oportunidade para repetir alguns temas que já haviam sido explorados nas suas falas durante a posse, como as afirmações de que seu governo não teria "viés ideológico".

Ele também explorou de maneira vaga alguns dos pontos que mais interessavam aos participantes, como a preservação do meio ambiente e uma maior abertura comercial. Temas como déficit público e reforma da Previdência ficaram de fora.

O discurso acabou sendo mal avaliado pela imprensa internacional e, à época, já despertou um temor de que o presidente começava a dar preferência ao núcleo "antiglobalista" do seu governo em detrimento do setor liberal e militar – o que efetivamente se concretizou ao longo do ano.

Para piorar, a viagem ainda foi marcada por notícias negativas envolvendo um de seus filhos, Flávio Bolsonaro, e pela disposição do presidente em antagonizar com a imprensa. Poucos dias antes da viagem, Flávio já havia atraído repercussão negativa após ter recorrido ao foro privilegiado para suspender uma investigação sobre as movimentações financeiras do ex-assessor Fabrício Queiroz.

E, enquanto Bolsonaro estava em Davos, foi a vez de Flávio ser envolvido em uma operação policial contra milicianos e um grupo de extermínio do Rio de Janeiro.

Em meio aos fatos negativos, a equipe de Bolsonaro decidiu cancelar em cima da hora uma entrevista coletiva no centro de imprensa do fórum. Além de Bolsonaro, eram esperados os ministros Sérgio Moro, Ernesto Araújo e Paulo Guedes. O cancelamento pegou de surpresa jornalistas brasileiros e internacionais. Sites e jornais reproduziram imagens das cadeiras vazias que haviam sido reservadas para Bolsonaro e seus ministros.

Inicialmente, um assessor da Presidência afirmou que o cancelamento foi motivado pela "abordagem antiprofissional da imprensa". Mais tarde, foi a vez de o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, afirmar que a coletiva não ocorreu porque o presidente estava cansado.

Depois, o próprio Bolsonaro reforçou a questão do cansaço e mencionou seu estado de saúde, mas também disse que "não tinha nenhuma novidade para apresentar à imprensa". Após o cancelamento, no entanto, Bolsonaro concedeu uma entrevista exclusiva à TV Record, aliada do seu governo.

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