Após fortes críticas, rei da Espanha se desculpa por caça a elefantes

O rei espanhol Juan Carlos pediu desculpas, nesta quarta-feira (18/4), depois de ter sido criticado por participar de uma caçada a elefantes em Botsuana, na África, na qual fraturou a bacia. Uma imagem antiga do rei ao lado de um elefante abatido circula pela internet e intensifica ainda mais as discussões, já que o rei é presidente de honra da organização ambientalista WWF na Espanha.

"Sinto muito. Errei. Não voltará a acontecer", disse Juan Carlos na saída do hospital nesta quarta-feira.

A WWF espanhola pretende transmitir os pedidos e mensagens enviadas à organização, solicitando que o rei abandone o cargo de presidente de hora. Juan Carlos também é criticado por realizar uma viagem cara num momento em que a Espanha enfrenta grandes dificuldades financeiras.

A Deutsche Welle conversou com o porta-voz da WWF na Alemanha sobre o assunto.

DW.DE: O rei espanhol Juan Carlos foi alvo de críticas pois estava caçando elefantes em Botsuana, na África. O rei é o presidente de honra do WWF na Espanha – como o senhor vê isso?

Roland Gramlin: A WWF alemã sugeriu ao rei renunciar à presidência de honra da WWF. Nós nos unimos aos colegas da WWF espanhola, mesmo que a caçada do rei, pelo que podemos julgar, tenha sido legal. Isso, contudo, não é compatível com o cargo de presidente de honra da WWF. A função de exemplo a ser seguido e a dignidade inerentes ao cargo já não podem mais ser exercidas por Juan Carlos.  .

Como presidente de honra, o rei Juan Carlos não se comprometeu com certas regras da WWF?

Ele não se comprometeu a não caçar.

Como este acontecimento prejudica a imagem da WWF?

A opinião pública é clara: não se quer um presidente de honra da WWF caçando elefantes. A WWF pode entender e apoia. Mas acho que temos de dar a chance ao rei de ele próprio reconhecer que não pode continuar na posição.

O que a WWF pensa da caça legal?

A visão da WWF é que a África voltou a oferecer habitat suficiente para grandes manadas de elefantes e nós trabalhamos para isso. Constatamos que o pior inimigo dos elefantes é a caça ilegal. A cada ano, mais de 12 mil elefantes são vítimas da caça ilegal. Mas temos de aprender - o que é um desafio para os protetores da natureza - que sob certas circunstâncias é preciso tolerar a caça regulamentada, pois ela serve para reduzir a pobreza e, portanto, ajuda na luta contra a caça furtiva.

A condição para isso é que não sejam caçadas espécies ameaçadas de extinção, que a caça aconteça sob rigoroso controle legal, e que a população das espécies caçadas não diminua. Além disso, a receita da caçada precisa beneficiar os habitantes locais ou ser revertida à proteção ambiental. Então ela pode ser tolerada.

Mesmo assim, muitos ativistas consideram a caça de elefantes como cruel e inaceitável. Como controlar a caça de elefantes?

O importante é que nunca haja uma caça descontrolada e desregulada. Se a caça é feita sob controle legal, são caçados principalmente animais doentes ou velhos. O pior inimigo dos elefantes é a caça ilegal, no qual não se controla como o elefante é caçado. São mortas mães com filhotes, apenas por causa do marfim. A ideia de conservação não tem nenhuma importância neste caso.

Mas a caça ilegal não chega a ser um problema na região em que o rei Juan Carlos estava...

A caça ilegal ali não é mais um grande problema. Em Botsuana, a caça esteve proibida de 2001 a 2003 e o paradoxo foi que neste tempo houve um crescimento da caça ilegal. Depois que o governo a legalizou novamente, a caça ilegal diminuiu.

Como vocês esclarecem a alemães e europeus que fazem doações à WWF que a organização, por um lado, protege os elefantes e, por outro, recebe dinheiro dos organizadores de caçadas legais para financiar projetos de conservação?

(Hesita) Não aceitamos dinheiro de caçadas legais.

Seus projetos não são financiados com dinheiro das caçadas a grandes animais selvagens?

A WWF tolera a caça sob certas condições. É importante que os fundos e a receita provenientes da caça beneficiem os habitantes locais. Isso significa que as comunidades locais se beneficiam com a caça. É importante que as pessoas possam ver um valor na natureza.

Autoras: Irene Quaile/ Kamila Rutkosky
Revisão: Roselaine Wandscheer