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Após escândalo de plágio, ex-ministro conclui doutorado

13 de agosto de 2020

Revelações de plágio arruinaram a carreira de Karl-Theodor zu Guttenberg, que perdeu posto no governo Merkel e título de doutor. Quase dez anos depois, ele defende discretamente nova tese e fala em "segunda chance".

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Karl-Theodor zu Guttenberg, em foto de 2017
Guttenberg, em foto de 2017: ex-estrela da política alemã deixou vida pública no país natal após escândaloFoto: imago/J. Heinrich

O ex-ministro alemão Karl-Theodor zu Guttenberg pode voltar a ostentar o título de doutor quase dez anos depois de um escândalo de plágio que arruinou sua reputação e lhe custou um posto ministerial no governo de Angela Merkel.

O ex-titular da pasta da Defesa confirmou nesta quinta-feira (13/08) aos jornais do grupo de mídia Funke que concluiu um novo doutorado na escola de negócios da Universidade de Southampton, no Reino Unido.

No site da universidade consta de fato uma tese de PhD em filosofia apresentada em 2019 por "Karl Buhl-Freiherr von und zu Guttenberg", uma das versões do longo nome do ex-ministro, que vem de uma família da antiga nobreza alemã. 

O documento com mais 400 páginas é descrito como "uma reconsideração analítica da natureza, escopo e importância do correspondente bancário e sua aplicação em precedentes históricos e estudos de caso selecionados". O documento cita 91 fontes primárias e cerca de 530 fontes secundárias, principalmente ensaios e livros.

A revelação sobre o novo doutorado foi feita na quarta-feira pelo tabloide Bild, que citou declarações do orientador de Guttenberg, que descreveu o trabalho como "notável" e "pesquisado de maneira excelente".

Nesta quinta-feira, Guttenberg confirmou que concluiu o novo doutorado e defendeu a tese no ano passado. Ele afirmou que não quis divulgar a informação publicamente. "Não fiz o doutorado para o público ou para uma volta à política – que certamente já não almejo –, mas apenas por motivos muito pessoais. Por isso não quero falar mais nada a respeito, exceto que estou muito grato de ter recebido uma segunda chance." 

Na seção de agradecimentos da tese, Guttenberg agradeceu "aos amigos que acreditaram em mim e no conjunto de valores que acompanham segundas chances".

Histórico

No início dos anos 2010, Guttenberg ocupava o prestigiado cargo de ministro da Defesa no governo da chanceler federal Angela Merkel. Sua carreira vinha sendo meteórica.

Em 2002, ele foi eleito deputado federal aos 30 anos. Menos de sete anos depois, assumiu o Ministério da Economia, se tornando o mais jovem detentor do posto no pós-guerra alemão. Cerca de oito meses depois, aceitou ser remanejado para a Defesa, após os liberais-democratas terem pedido a pasta da Economia em troca de formar uma coalizão com Merkel. Sua popularidade como ministro na época chegou a alimentar especulações de que ele poderia ser um possível candidato a chefe de governo no futuro.

Mas não tardaria para que os problemas de Guttenberg começassem a aparecer.

Guttenberg, em 2009, nos seus tempos de estrela ascendente da política
Guttenberg, em 2009, nos seus tempos de estrela ascendente da política Foto: picture-alliance/dpa/G. Breloer

Em fevereiro de 2011, um professor de Bremen chamado Andreas Fischer-Lescano resolveu escrever um artigo para um pequeno jornal sobre a tese de doutorado que  Guttenberg havia apresentado quatro antes na Universidade de Bayreuth. A tese abordava o desenvolvimento do Direito Constitucional na Europa e Estados Unidos.

Ao revisar o texto, o professor Fischer-Lescano notou que vários trechos tinham semelhanças com artigos publicados num jornal suíço, sem indicar a fonte. Logo mais indícios de plágio apareceram. Vendo que a história tinha potencial, ele contatou o jornal Süddeutsche Zeitung, de circulação nacional, que acabou publicando uma reportagem em 16 de fevereiro de 2011.

Nos dias seguintes, outras publicações também encontraram outros exemplos de plágio. Guttenberg inicialmente negou tudo e recebeu apoio de Merkel. Mas conforme o escândalo foi crescendo e novas evidências se avolumaram, ele se desculpou e admitiu que tinha cometido "erros sérios", que teriam ocorrido de forma "não intencional". Mas não foi suficiente.

Ele ainda seria questionado pela presidência do Parlamento alemão (Bundestag) sobre o uso de relatórios parlamentares em sua tese sem indicação de referência.

Em 23 de fevereiro, uma semana após a eclosão do escândalo, a Universidade de Bayreuth revogou o título de doutor de Guttenberg, a pedido do próprio ministro. No início de março de 2011, foi a vez de ele renunciar ao posto de ministro. Uma comissão da Universidade de Bayreuth posteriormente apontou dezenas de problemas na tese de Guttenberg.

A queda fez com que a ex-estrela do governo Merkel se retirasse da vida pública. Guttenberg hoje vive nos Estados Unidos e comanda uma firma de consultoria e investimentos.

Caçadores de plágios

O escândalo ainda inspirou em 2011 a fundação de um projeto colaborativo chamado VroniPlag Wiki, dedicado a buscar possíveis plágios em teses, monografias e dissertações apresentadas por políticos proeminentes da Alemanha.

Em 2012, um dos membros do projeto identificou mais de 90 problemas na tese de doutorado da então ministra da Educação Annette Schavan. Uma investigação da Universidade de Düsseldorf confirmou as acusações de plágio, e a instituição revogou seu título. Schavan renunciou logo depois.

O caso não deixou de provocar comentários maliciosos, já que no ano anterior ela havia criticado publicamente seu ex-colega Guttenberg, afirmando que "roubo intelectual não é coisa pequena". Ela recorreu à Justiça para recuperar seu título de doutora, mas perdeu nos tribunais.

Vários projetos colaborativos de "caça aos plágios" ainda estão em funcionamento na Alemanha. Segundo o jornal Frankfurter Allgemeine, eles já estão na trilha da nova tese de Guttenberg, que está disponível no site da Universidade de Southampton. Mas até agora softwares para detecção de possíveis plágios não encontraram nada de irregular. Parece que desta vez Guttenberg finalmente entregou uma tese impecável.

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