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A imensa logística por trás da futura vacina contra covid-19

Ashutosh Pandey
31 de agosto de 2020

Antes de chegarem até a população, vacinas que ainda sequer foram aprovadas já ganham local de armazenamento: gigantescas câmaras frias que garantem temperaturas de até -80 ºC.

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Instalações frigoríficas da empresa UPS na Holanda para armazenar vacinas contra o coronavírus
Câmara fria da empresa UPS se prepara para armazenar vacinas contra coronavírus Foto: DW/A. Pandey

Longos corredores paralelos flanqueados por colunas de congeladores de quase dois metros de altura, cada um ajustado para -80 ºC: aqui deverá ser armazenada parte das vacinas contra a covid-19, antes de chegar à população.

A enorme instalação, do tamanho de um campo de futebol, é uma das duas câmaras frias que a empresa de logística americana UPS está construindo para armazenar com segurança milhões de doses de vacinas anticoronavírus e enviá-las sem demora ao mundo todo.

As câmaras são parte de um esforço global no qual governos, organizações internacionais, empresas farmacêuticas e de logística liberaram bilhões de dólares para dar início à produção em massa de vacinas que ainda aguardam aprovação, e impulsionar as capacidades da cadeia de abastecimento, garantindo que não sejam apanhadas de surpresa quando as vacinas receberem sinal verde.

"No momento, estamos aproveitando [nossa experiência e know how], investindo e nos preparando para apoiar a indústria farmacêutica e a batalha contra o coronavírus", disse à DW Anouk Hesen, diretora de Logística de Saúde da UPS na Holanda.

As instalações, que estão sendo construídas perto dos centros de carga aérea da UPS nos Estados Unidos e na Alemanha, vão abrigar 600 congeladores, cada um com capacidade para armazenar 48 mil ampolas. Eles poderão armazenar inclusive as vacinas mais frágeis, baseadas em RNA mensageiro (mRNA), que produzem proteínas virais no corpo.

Hesen não revelou se a empresa já tem clientes para as enormes câmaras frigoríficas, limitando-se a dizer que está em negociações com "empresas farmacêuticas importantes", sem revelar nomes. As empresas americanas Moderna e Pfizer, e as alemãs BioNTech e Curevac são alguns dos principais nomes que trabalham com vacinas baseadas em mRNA.

A jornada das vacinas

Depois de prontas, as vacinas são levadas do laboratório até as câmaras frias em caixas especiais, muito bem isoladas, protegidas por gelo seco (dióxido de carbono congelado). 

"Não seria possível trabalhar nas câmaras frigoríficas sem o equipamento de proteção pessoal, como luvas e óculos de proteção específicos, para poder manusear os produtos lá dentro", relata Hesen. 

Para um novo transporte, as vacinas seriam colocadas de volta em caixas isoladas com gelo seco, capazes de manter a temperatura ideal por até 96 horas. Dependendo do rigor das especificações, a reembalagem ocorre numa sala com temperaturas de -20 ºC ou numa entre 2 a 8 ºC – a faixa de temperatura de armazenamento ideal para a maioria das vacinas – para garantir que as doses não fiquem comprometidas.

As vacinas serão então enviadas por via aérea. A empresa de logística afirma ser capaz entregar no prazo de um dia a quase qualquer parte do mundo, graças à proximidade de suas câmaras frias em Louisville, no estado americano de Kentucky, e na área de Venlo-Roermond, na Holanda, com seus centros de transporte aéreo. A empresa também pretende instalar unidades de congelamento profundo em outros locais, como Frankfurt, na Alemanha, e no Reino Unido.

Como as vacinas contra a covid-19 sendo desenvolvidas a toque de caixa, quase não há dados disponíveis sobre sua fragilidade ou estabilidade. A UPS está em negociações sobre como seria a cadeia de abastecimento com fabricantes de vacinas e autoridades dos EUA, incluindo a equipe da Operação Warp Speed – uma parceria público-privada iniciada pelo governo do presidente Donald Trump para acelerar o desenvolvimento de vacinas. Alguns especialistas dizem que os primeiros carregamentos de vacinas precisariam ser transportados em condições "atípicas para vacina", a -20 ºC ou mesmo -80 ºC – um grande desafio para as empresas de carga.

Apoio a testes clínicos

Paralelamente, a UPS está colhendo experiência prática essencial: uma de suas unidades participa da entrega de vacinas contra a covid-19 para experimentos clínicos, seguindo diretrizes rígidas. A empresa, com sede na cidade americana de Atlanta, Geórgia, também fez parte dos esforços globais, no auge da pandemia, para distribuir grandes volumes de kits de equipamento de proteção pessoal para profissionais de saúde, kits de teste de coronavírus e equipamentos para unidades de terapia intensiva.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), atualmente há cerca de 170 vacinas em desenvolvimento, com 30 delas na fase de testes clínicos. Nem todas precisam ser armazenadas a -80 ºC; as menos frágeis poderiam manter a eficácia mesmo em temperaturas mais altas.

Até mesmo para essas vacinas, a UPS está reservando espaço de armazenamento, como pode ser observado nas fileiras de prateleiras amarelas vazias num corredor com temperatura variando de 2 a 8 ºC, em suas instalações em Roermond.

Hesen não revelou quanto a UPS tem investido em seus esforços contra o coronavírus, mas disse que as câmaras frigoríficas fazem parte dos planos da empresa de expandir seu segmento de saúde.