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1,7 milhão assinam petição pró-biodiversidade na Baviera

Ines Eisele pv
14 de fevereiro de 2019

Iniciativa popular obtém recorde de assinaturas e força governo estadual a agir contra o declínio da biodiversidade. Aposta na simpatia gerada pelas abelhas se mostra acertada.

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Abelha numa flor
Abelhas e outros insetos são essenciais à agricultura e para a natureza devido às suas funções de polinização das plantasFoto: picture alliance/chromorange/D. D. Mann

A petição popular pró-biodiversidade "Salvem as abelhas" ultrapassou o número mínimo necessário de assinaturas na Baviera e, dessa forma, força o governo desse estado alemão a buscar soluções para a diminuição da biodiversidade. Cientistas e apicultores saudaram o engajamento dos cidadãos.

Eleitores bávaros podiam assinar a petição até a noite desta quarta-feira (13/02). No entanto, antes mesmo do fim do prazo já estava claro que a consulta popular superara a barreira das 950 mil assinaturas necessárias na Baviera.

Mais de 1,7 milhão de pessoas assinaram o documento em apenas duas semanas. Agora o Parlamento local deverá aprovar o projeto de lei que acompanha a petição, ou, se o Parlamento se omitir, este projeto de lei deverá ser submetido a referendo popular em até seis meses.

A ativista Agnes Becker, do Partido Democrático Ecológico (ÖDP), que é um dos iniciadores da petição ao lado do Partido Verde e da Associação Nacional de Conservação de Aves, mostrou-se satisfeita com o apoio da população. "Em número de assinaturas, somos o movimento popular bávaro de maior sucesso de todos os tempos", disse.

O projeto de lei da petição é altamente ambicioso. Habitats naturais devem ser interligados, as matas ciliares devem ser mais bem protegidas, e a agricultura orgânica no estado alemão deverá ser sistemática ampliada: ao menos 30% das terras aráveis na Baviera devem ser destinadas a produtos orgânicos a partir de 2030. Dados do governo indicam que hoje são 10%.

Além disso, 10% dos campos deverão ser cobertos por flores, e agrotóxicos não poderão mais ser usados em áreas agrícolas do Estado. Se tudo isso de fato virar lei, será uma revolução – com prováveis efeitos em toda a Alemanha.

Não é nova a percepção de que as abelhas melíferas, as abelhas silvestres e outros insetos são essenciais para a agricultura e para a natureza devido à polinização. Mas o debate social sobre se e como esses animais devem ser protegidos surgiu apenas nos últimos anos.

Na Alemanha, um estudo realizado em 2017 por pesquisadores da Associação Entomológica de Krefeld sobre o desaparecimento de insetos, que sugere um declínio dramático entre os insetos voadores, fez a opinião pública tomar amplo conhecimento do problema.

Robôs espiões ajudam a proteger abelhas

Alguns documentários e o best-seller A história das abelhas (Die Geschichte der Bienen, de Maja Lunde) reforçaram a nova popularidade das abelhas. Assim, ao optarem pelo lema "salvem as abelhas", os organizadores da consulta popular estabeleceram uma conexão emotiva direta com muitos cidadãos.

A possibilidade de a abelha melífera estar extinta em poucos anos – com consequências drásticas para o cultivo de frutas e vegetais e, portanto, para a economia – move os eleitores bávaros a ponto de eles encararem filas sob temperaturas congelantes para assinar a petição.

No entanto, o lema "salvem as abelhas" não é exato. Primeiro porque não se trata somente de salvar as abelhas, mas "uma lista cada vez maior de espécies de plantas e animais que estão ameaçadas de extinção" na Baviera, como disse Becker.

E, além disso, a situação das abelhas melíferas é boa em comparação com outras espécies de abelha na Alemanha, explicou o pesquisador de abelhas Kaspar Bienefeld, do Instituto Estadual de Pesquisa sobre Abelhas Hohen Neuendorf.

"Não há indicação de que as populações estejam em declínio. Pelo contrário, houve até um aumento nas colônias de abelhas nos últimos anos. No momento, definitivamente não é preciso se preocupar com as abelhas melíferas", afirmou.

Segundo Bienefeld, isso se explica em parte porque os apicultores, cujo número aumentou significativamente na Alemanha nos últimos anos, cuidam bem dos animais. Eles podem incrementar a alimentação das abelhas quando a natureza não fornece comida suficiente ou movê-las para outro local.

Já abelhas silvestres, mangangás (também conhecidas por abelhão ou vespa-de-rodeio) e outros insetos polinizadores estão sujeitos à própria sorte e assim mais expostos ao desmatamento, aos inseticidas e às mudanças ambientais.

O quanto exatamente eles são afetados não está claro. Até mesmo o respeitado estudo de Krefeld não fornece informações sobre o porquê da diminuição de insetos e quais espécies são mais afetadas. No entanto, o declínio das populações de insetos é comprovado.

Como esperado, a associação dos agricultores da Baviera se mostrou pouco entusiasmada com o sucesso da consulta popular. Seu presidente, Walter Heidl, acusou os organizadores de lançarem as pessoas contra os agricultores. "O que irrita os agricultores é que o que eles já fazem é completamente ignorado", disse Heidl, em entrevista à emissora ZDF.

Quase metade dos agricultores da Baviera participa de programas agroambientais. Porém, Becker criticou que as medidas prevista nesses programas são muitas vezes insuficientes e a estratégia de voluntarismo adotada pelo governo estadual da Baviera é equivocada. "É preciso reconhecer que precisamos de regulamentações jurídicas", disse.

O governador da Baviera, Markus Söder, quer sondar possíveis soluções num debate na próxima semana. Söder anunciou uma iniciativa própria, que deve levar em conta não apenas a proteção das abelhas, mas também os interesses dos agricultores.

O vice-governador Hubert Aiwanger disse em entrevista à rádio Bayerischer Rundfunk que o governo estadual provavelmente apresentará um projeto de lei próprio. Dessa forma, no referendo, os cidadãos bávaros terão a escolha entre o projeto do governo e o do movimento popular.

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