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Putin reconhece independência de territórios separatistas

Lusa | Reuters | DPA | tms
21 de fevereiro de 2022

O Presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto em que reconhece a independência dos territórios separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia. UE diz estar pronta para impor sanções contra Moscovo.

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Foto: Alexey Nikolsky/Kremlin/SPUTNIK/REUTERS

Moscovo reconheceu a independência das regiões separatistas pró-Rússia do leste da Ucrânia. A decisão foi confirmada na noite desta segunda-feira (21.02) pelo Presidente Vladimir Putin durante um discurso televisivo. 

"Creio que é necessário tomar uma decisão há muito esperada, reconhecer imediatamente a independência e soberania da República Popular de Donetsk e da República Popular de Lugansk", disse Putin, momentos antes de a televisão estatal mostrar a assinatura dos acordos de ajuda mútua com líderes rebeldes no Kremlin.

Antes, uma fonte do Kremlin avançara que Putin informou o seu homólogo francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, mediadores do conflito no leste da Ucrânia, desta decisão, tendo estes reagido com "deceção".

Vladimir Putin já tinha anunciado, horas antes, que iria decidir hoje sobre o reconhecimento das regiões separatistas pró-Rússia do leste da Ucrânia, apesar das ameaças de retaliação por parte dos países ocidentais, se o Presidente russo tomasse essa decisão.

Russland | TV Übertragung von Putin aus der Sitzung des National Security Council of Russia
Putin discursou na televisão estatal russaFoto: Anatoly Maltsev/EPA-EFE

Discurso contra Kiev

No discurso televisivo desta noite, Vladimir Putin atacou a Ucrânia, dizendo que os neonazis estavam em ascensão, que os clãs oligárquicos abundavam e que o antigo país soviético era uma colónia dos Estados Unidos com um regime fantoche.

Putin descreveu o Leste da Ucrânia como terras ancestrais russas e a Ucrânia moderna como um Estado criado pelos bolcheviques após a revolução de 1917. Disse ainda que Kiev nunca teve uma tradição de um Estado genuíno e queixou-se de que a Ucrânia pós-soviética queria tudo o que pudesse de Moscovo sem fazer nada em troca.

O Presidente russo afirmou também que a NATO tinha ignorado completamente as exigências de segurança da Rússia e acusou o Ocidente de tentar dar um pontapé nas principais propostas de Moscovo em matéria de garantias de segurança.

O reconhecimento anunciado pelo Kremlin diz respeito à independência de dois territórios pró-russos do Donbass ucraniano, que se autoproclamaram repúblicas, Donetsk e Lugansk, onde decorre um conflito há oito anos que já provocou mais de 14 mil mortes. 

Russland | Vladimir Putin
Vladimir Putin liderou reunião do Conselho de Segurança russo esta segunda-feiraFoto: Sputnik/Kremlin Pool/AP/picture alliance

Reações do Ocidente

Na sequência deste anúncio, o chefe da diplomacia da União Europeia disse que o bloco está preparado para impor sanções se Moscovo reconhecer a independência das regiões separatistas do leste da Ucrânia e instou o Presidente russo a não o fazer.

"Partimos do princípio de que o Presidente Putin não o fará, mas, se o fizer, colocarei o pacote de sanções na mesa dos ministros" europeus, advertiu Josep Borrell, no final de uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE em Bruxelas. 

Em Berlim, o chanceler alemão condenou as intenções do Presidente Vladimir Putin. O gabinete de Olaf Scholz acrescentou em comunicado que o chanceler disse a Putin, durante um telefonema, que qualquer ação desse tipo equivaleria a uma "violação unilateral" dos acordos de Minsk destinados a pôr fim a um conflito separatista no leste da Ucrânia.

Em Paris, o Presidente Emmanuel Macron convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional para discutir a crise na Ucrânia, na sequência do anúncio do Kremlin.

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Por seu turno, a ONU instou "todas as pessoas envolvidas a evitarem qualquer decisão ou ação unilateral que possa atentar contra a integridade territorial da Ucrânia", declarou hoje o seu porta-voz. 

"Sublinhamos o nosso apelo para o fim imediato das hostilidades, para a máxima contenção por todas as partes, a fim de evitar qualquer ação e declaração que agrave ainda mais as tensões", disse também Stéphane Dujarric, defendendo que todos os diferendos devem "ser abordados através da diplomacia". 

Consequências 

Um reconhecimento por parte de Moscovo destas repúblicas provoca um curto-circuito no processo de paz resultante dos acordos de Minsk de 2015, assinados pela Rússia e pela Ucrânia, sob mediação franco-alemã, já que estes visavam, precisamente, um regresso dos territórios à soberania ucraniana.

A decisão de Putin também pode abrir caminho a um pedido de assistência militar à Rússia por parte desses territórios, conduzindo à entrada justificada de forças russas nessas regiões, dando razão aos países ocidentais que acusam Moscovo de estar a preparar uma invasão da Ucrânia com o destacamento de 150.000 soldados junto às fronteiras do país.

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