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Rússia envia exército para territórios separatistas

DW (Deutsche Welle) | com agências
21 de fevereiro de 2022

Reconhecimento da independência de Donetsk e Lugansk força Conselho de Segurança da ONU a reunir-se de emergência. Presidente ucraniano diz "não ter medo de ninguém". Países ocidentais anunciam sanções contra Moscovo.

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Russland Präsident Putin TV-Ansprache an Nation
Foto: Alexey Nikolsky/Kremlin/SPUTNIK/REUTERS

O Presidente russo Vladimir Putin ordenou ao seu ministério da defesa o envio de tropas russas de manutenção da paz para as duas regiões separatistas do leste da Ucrânia,  depois de ter anunciado, mais cedo, o reconhecimento de Moscovo da independência de Donetsk e Lugansk.

Putin assinou dois decretos que pedem ao Ministério da Defesa que "as Forças Armadas da Rússia [assumam] as funções de manutenção da paz no território" das "repúblicas populares" de Donetsk e Lugansk, segundo noticia a agência France Presse (AFP). 

Os decretos assinados pelo chefe de Estado russo também estabelecem consultas entre Moscovo e as repúblicas agora reconhecidas para o estabelecimento de relações diplomáticas e entram em vigor a partir do momento da sua publicação, refere o texto do Kremlin (presidência russa). 

Nos textos não foi divulgado nenhum cronograma de implantação ou a sua extensão. 

Ucrânia "não tem medo"

Entretanto, e após o anúncio de Moscovo sobre o reconhecimento da independência dos territórios separatistas, a Ucrânia fez saber que continua a considerar as regiões de Donetsk e Lugansk, incluindo as áreas controladas por separatistas pró-Rússia, parte de seu território. Em conferência de imprensa, pouco tempo após o anúncio de Putin, o secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional, Oleksii Danilov, salientou que Kiev continuará a cumprir "as suas obrigações" com "todos os habitantes" de Donbass.

Mais tarde, já na madrugada desta terça-feira (22.02), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que falava à nação na televisão estatal, afirmou que o reconhecimento da independência dos territórios separatistas e o subsequente envio de tropas por Moscovo para o país, é uma violação da soberania da Ucrânia, e garantiu que a "Ucrânia não tem medo de nada nem de ninguém".

Russland Präsident Putin Dekret zu abtrünnigen Regionen in Ost-Ukraine
Vladimir Putin assinou, esta segunda-feira (21.02), decreto em que reconhece independência dos territórios separatistas pró-Rússia no leste da UcrâniaFoto: Alexey Nikolsky/Kremlin/SPUTNIK/REUTERS

"A Ucrânia qualifica os últimos atos da Rússia de violação da soberania e da integridade territorial do nosso Estado", disse o Presidente ucraniano, acrescentando que os ucranianos estão "na sua terra", que "não têm medo de nada nem de ninguém" e que "não vão ceder uma única parcela do país".  

Zelensky disse ainda que espera um apoio "claro" e "eficaz" do Ocidente face à situação.

"Esperamos dos nossos parceiros medidas de apoio claras e eficazes", acentuando que, "agora, é muito importante ver quem é nosso amigo verdadeiro". 

Sanções para breve

Alemanha, França e os Estados Unidos fizeram saber, entretanto, que responderão "de forma conjunta" ao reconhecimento das repúblicas separatistas do Donbass pela Rússia. Num comunicado publicado, na noite desta segunda-feira (21.02), o governo de Berlim afirma que a decisão do presidente russo representa "uma clara ruptura" dos Acordos de Minsk que "não pode ficar sem resposta".

Os três países "condenam severamente" esse reconhecimento da Rússia e expressam sua "total solidariedade" ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

Também num comunicado publicado pouco depois do anúncio de Moscovo, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, indicou que Joe Biden emitirá "em breve" uma ordem executiva com sanções contra a Rússia. O mesmo documento dá conta que a ordem executiva presidencial proibirá novos investimentos, comércio e financiamento dos Estados Unidos para, de ou nos territórios separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia. 

"Prevemos um movimento como este por parte da Rússia e estamos prontos para responder imediatamente. (...) Esta ordem executiva também fornecerá autoridade para impor sanções a qualquer determinado indivíduo a operar nessas áreas da Ucrânia", indicou Psaki, acrescentando que os departamentos de Estado e do Tesouro norte-americanos fornecerão detalhes adicionais em breve.  

Ukraine Konflikt - Anerkennung von Donezk durch Russland
Residentes celebram assinatura, por parte de Vladimir Putin, dos decretos que oficializam independência das províncias separatistas ucranianasFoto: Ilya Pitalev/imago images/SNA

A porta-voz frisou que em causa estão "medidas separadas e adicionais às medidas económicas rápidas e severas" que os EUA estão a preparar "em coordenação com os aliados e parceiros, caso a Rússia invada ainda mais a Ucrânia". 

O mesmo fez saber a União Europeia. Segundo a presidência da República Francesa, o bloco vai adotar sanções contra entidades e indivíduos russos "proporcionais" aos anúncios de Vladimir Putin no leste da Ucrânia.

"A lista está a ser elaborada. Visaremos uma série de atividades localizadas no Donbass e diretamente relacionadas com os interesses russos, que adaptaremos aos desenvolvimentos atuais", anunciou o Palácio do Eliseu, especificando que o exame dessas sanções em Bruxelas vai começar esta terça-feira (22.02). 

Numa pequena nota no Twitter, também a ministra britânica dos Negócios Estrangeiros adiantou que o Reino Unido seguirá o mesmo caminho e anunciará "novas sanções" contra a Rússia. 

"[Terça-feira] vamos anunciar novas sanções à Rússia, em resposta à violação do direito internacional e ao ataque à soberania e à integridade territorial da Ucrânia", escrevei Liz Truss.

Também numa declaração emitida na noite desta segunda-feira, o chanceler alemão, Olaf Scholz, sustentou que o reconhecimento da independência das regiões separatistas da Ucrânia pela Rússia constituirá "uma rutura unilateral" dos acordos de Minsk de 2015. 

Conselho de Segurança preocupado

A pedido de Kiev, Estados Unidos, México e cinco países europeus,  o Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se na madrugada desta terça-feira (22.02). No encontro, a maioria dos membros do Conselho condenou a decisão do Presidente russo, Vladimir Putin.

Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU, voltou a apontar o dedo a Moscovo: "Ele [Vladimir Putin] anunciou que irá colocar tropas russas nestas regiões e chamou-lhes tropas para a manutenção da paz. Isto não faz sentido. Nós sabemos que tropas são estas".

Por seu lado, e em defesa do seu país, o embaixador da Rússia na ONU, afirmou que "permitir um novo banho de sangue em Donbass não é algo que Moscovo pretenda" e que a Rússia continua "aberta à diplomacia".

"Quem é o próximo a ser invadido?", questionou o embaixador da Albânia, Ferit Hoxha, condenando o que considerou ser "uma violação do direito internacional".

Na mesma ocasião, o representante da Índia, TS Tirumurti, expressou "profunda preocupação" e pediu "contenção de todas as partes". Já o ministro dos Negócios Estrangeiros japonês, Yoshimasa Hayashi, qualificou "a decisão russa intolerável". 

"O Japão acompanha a situação na Ucrânia com grande preocupação" e "coordenará a resposta civil, incluindo sanções, junto com a comunidade internacional e o G7", disse o diplomata japonês. 

"Pretexto para invasão"

Em reação ao anúncio da noite desta segunda-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, acusou o Kremlin de "fabricar um pretexto para invadir a Ucrânia novamente" e de "adicionar gasolina" ao conflito, ao conceder ajuda financeira e militar aos separatistas na região do Donbass ucraniano. 

Em comunicado, divulgado através da rede social Twitter, o político norueguês condenou a decisão da Rússia em "estender o reconhecimento à autoproclamada República Popular de Donetsk e República Popular de Lugansk". 

"[Esta decisão] prejudica ainda mais a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, corrói os esforços para a resolução dos conflitos e viola os Acordos de Minsk, dos quais a Rússia faz parte", destacou Jens Stoltenberg. 

Por sua vez, o secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou que o reconhecimento da independência dos territórios separatistas no Donbass ucraniano "é uma violação da integridade territorial e da soberania da Ucrânia" e "incompatível com os princípios da Carta das Nações Unidas".

Também a Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen e o Presidente do Conselho Europeu Charles Michel  condenaram a decisão de Putin, dizendo que se trata de uma "flagrante violação do direito internacional bem como dos acordos de Minsk".

Artigo atualizado às 05:13 Tempo Universal Coordenado (UTC) de 22 de fevereiro de 2022.

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