Subnutrição e obesidade de mãos dadas nos PALOP
6 de junho de 2014A Guiné-Bissau é o país da região subsaariana da África ocidental com a maior taxa de obesidade, revela um estudo publicado no final de maio pela revista Lancet. O estudo incide sobre 188 países e conclui que quase um terço da população mundial tem excesso de peso.
Entre os 19 países da África ocidental analisados, a Guiné-Bissau tem os resultados mais elevados, com uma taxa de obesidade de 24,2% nas mulheres 16,8% nos homens e cerca de 8% nos jovens de ambos os géneros.
A média na região é de 9,4% nos homens, 11,9% nas mulheres, 4,3% nos rapazes e 3,2% nas raparigas. O estudo do Institute for Health Metrics and Evaluation da Universidade de Washington nos Estados Unidos é o primeiro deste tipo, agregando dados de várias fontes de 188 países entre 1980 e 2013.
Epidemia dual
Tom Achoki é o Diretor de Iniciativas Africanas do Instituto e um dos investigadores que participou no estudo. O especialista explicou à DW África que “em vários países africanos assitimos a uma epidemia dual. Temos a subnutrição, doenças infecciosas, malária... Todos estes problemas, a serem sobrepostos por doenças de estilo de vida e as chamadas doenças não transmissíveis. E não é nenhuma surpresa que possamos ter este padrão duplo de doença. É um exemplo muito interessante que muitos destes países vão agora começar a ter que lidar com dois problemas.”
A obesidade, explica o investigador, é uma doença que tem crescido devido a alterações nos estilos de vida das populações. “O estilo de vida caracterizado por uma ingestão calórica elevada. As pessoas estão a comer mais. Estão a mudar as suas dietas das dietas tradicionais, que costumavamos ter, para dietas com muitos alimentos refinados. E também o facto de termos estilos de vida mais sedentários. As pessoas conduzem mais, não andam tanto a pé.”
Obesidade nos PALOP
Angola é o segundo dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) na lista, com valores também acima da média da região: 18,7% nas mulheres, 12% nos homens, e cerca de 6% nos jovens. Segue-se São Tomé e Príncipe, onde as mulheres têm uma taxa de obesidade de 17,6%, os homens 7,1%, os rapazes 4,4% e as raparigas 5,8%. Cabo Verde tem o valor mais baixo dos PALOP relativamente aos rapazes, com 3,3% por cento, mas fica em penúltimo lugar nas restantes categorias: mulheres com 15,4% por cento, homens com 7 % e raparigas com 5,2%. Já Moçambique regista valores mais baixos, com 9,2% nas mulheres, 3,5% nos homens e rapazes e 3% por cento nas raparigas.
Em todos os casos, as taxas têm registado um crescimento ao longo do período analisado. Por exemplo, na Guiné-Bissau a taxa de obesidade nas mulheres passou de 10,7 em 1980, para 17 em 2000 e 24,2 em 2013.
Intervenção dos governos
O investigador Tom Achoki sugere uma abordagem global a ser adotada pelos governos:
“Os governos podem criar incentivos para aumentar a atividade física. Também pode haver outros incentivos como programas de bem-estar que deveriam ser acompanhados pela criação de acesso fácil a atividades físicas. Deve-se sensibilizar as pessoas acerca da melhoria dos hábitos alimentares que é um aspeto desse bem-estar. Para que as pessoas comam comida melhor e tenham consciência daquilo que consomem. A quantidade da comida que as pessoas consomem tem vindo a aumentar, por isso, as pessoas devem reduzir conscientemente as porções de comida que consomem.”
Obesidade no mundo
A nível mundial, os investigadores concluiram que mais de metade dos obesos existentes no mundo vivem em apenas dez países: Estados Unidos, China, Índia, Rússia, Brasil, México, Egito, Alemanha, Paquistão e Indonésia. Na África subsaariana as taxas mais elevadas são registadas nas mulheres sul-africanas, com 42% por cento.
A obesidade pode ter vários riscos para a saúde como doenças cardiovasculares, cancro, diabetes e doenças renais crónicas, e corresponde a um índice de massa corporal igual ou superior a 30%, enquanto um índice entre 25% e 30% é considerado excesso de peso.