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Seca no sul de Angola afeta mais de um milhão de angolanos

Borralho Ndomba
12 de abril de 2019

A seca já abrange 6 das 18 províncias angolanas, sendo o Cunene a região mais afetada. Há milhares de pessoas a passar fome e os animais estão a morrer. Secretário de Estado lamenta falta de contribuição de ministérios.

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Foto: picture alliance/Anka Agency International

Para além do Cunene, que segundo as autoridades é a região mais afetada, as populações de Kuando Kubango, Huíla, Namibe, Benguela e Kwanza Sul estão sem água e alimentos.

Ainda não existem dados oficiais sobre o número de angolanos a sofrer com a seca, mas o coordenador da Associação Construindo Comunidades, o padre Jacinto Pio Wacussanga, que há longos anos acompanha a situação da fome aguda na região sul do país, calcula que "mais de um milhão de pessoas estão a ser afetadas de forma direta".

Bonn Padre Jacinto Pio Wacussanga aus Angola
Jacinto Pio Wacussanga, coordenador da Associação Construindo ComunidadesFoto: DW/J. Beck

"De 2012 a 2016 falava-se em cerca de um milhão e agora a situação agravou-se. Modestamente falando, estamos a falar de acima de um milhão de pessoas", presume o ativista que trabalha na região dos Gambos, província angolana da Huíla.

Segundo o padre Wacussanga, ainda não existem dados específicos sobre o número de pessoas que já morreram vítimas da fome, consequência direta da seca que se vive na região. "As pessoas estão a ficar debilitadas e se não houver uma cesta básica, vamos atingir a essa fase crítica", alerta.

Cesta básica para famílias afetadas

Como alternativa à atual situação, o padre Jacinto Pio Wacussanga sugere que o governo de prioridade a um programa de cesta básica para as famílias afetadas pela seca, tal como já faz o Brasil e a Namíbia. "Isso é que deve ser a prioridade do governo. Foram definidas planos de contingência que nunca saíram do papel para a prática", critica.

O presidente da Associação Construindo Comunidades lembra que Angola não tem um plano de contingência para combater a seca e a fome. "Numa fase intermédia, devia começar a erguer-se um sistema de retenção de águas", além de "outros trabalhos para se poder olhar para o desenvolvimento do setor da agricultura familiar e pecuária e do sistema de segurança alimentar no interior do país, defende o coordenador da ONG angolana.

Seca no sul de Angola afeta mais de um milhão de angolanos

O Executivo angolano, dirigido pelo Presidente João Lourenço, disponibilizou recentemente 200 milhões de dólares (cerca de 174 milhões de euros), para a construção de três barragens no rio Cunene, na região do Cafu, município de Ombadja, e outras duas no rio Cuvelai, nas zonas do Caluncuve e do Ndue. Essas obras têm por objetivo regular a distribuição de água em várias zonas da província. 

Os estudos do projeto começaram em meados de 2015 e terminaram em dezembro de 2018. A conclusão da obra vai durar 40 meses, segundo revelou o diretor do Instituto Nacional dos Recursos Hídricos (INRH), Manuel Quintino, numa entrevista recente à Angop.

Governo lamenta falta de contribuição de ministérios

O secretário de Estado do Interior para o Asseguramento Técnico de Angola, Salvador Rodrigues, citado pela Lusa, lamentou esta quarta-feira (10.04) a falta de contribuição de vários ministérios na elaboração de uma estratégia para combater a seca que atinge há quatro anos o sul de Angola.

As críticas foram feitas durante uma reunião de secretários de Estado e de representantes de instituições sobre o Quadro de Recuperação Pós-Seca 2018/2022 - uma estratégia nacional de apoio do Governo nas ações para combater os efeitos do fenómeno.

Salvador Rodrigues lembrou que, na primeira sessão, a 26 de fevereiro, houve "sugestões válidas" de diferentes departamentos ministeriais, mas as ideias ficaram apenas no papel. À Comissão Nacional de Proteção Civil só chegou um "número bastante ínfimo de subsídios", lamentou Salvador Rodrigues.

A DW África contactou Virgílio Tchova, governador do Cunene, a província angolana mais afetada pela seca, que prometeu uma entrevista para falar sobre o problema, mas não voltou a atender as ligações telefónicas.