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PolíticaAlemanha

Merkel condecorada com a mais alta Ordem de Mérito alemã

William Glucroft
17 de abril de 2023

O Presidente alemão,Frank-Walter Steinmeier, irá condecorar, esta segunda-feira, a ex-chanceler Angela Merkel com a mais alta Ordem de Mérito do país. Uma oportunidade para avaliar o seu legado.

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Deutschland Angela Merkel Kabinett Verabschiedung
Foto: Markus Schreiber/AP/picture alliance

Ela foi chefe de Governo. Ele é chefe de Estado. Ambos representam a Alemanha para o mundo. Esta segunda-feira (17.04), o Presidente Frank-Walter Steinmeier irá condecorar a antiga chanceler Angela Merkel com a mais alta Ordem de Mérito do país.

O Presidente alemão tem uma série de prémios e medalhas que pode atribuir a "indivíduos que tenham prestado serviços distintos à nação", de acordo com o gabinete presidencial.

A Ordem de Mérito é a mais distinta e, desde 1951, tem sido "atribuída a alemães ou cidadãos estrangeiros por realizações no domínio político, económico, social ou intelectual". As pessoas condecoradas não recebem qualquer recompensa financeira.

Deutschland Steinmeier Pavel PK in Berlin
Como Presidente, cabe a Frank-Walter Steinmeier a atribuição de distinçõesFoto: Metodi Popow/IMAGO

Embora na Alemanha tenham já sido condecorados com várias classes da Ordem de Mérito mais de 260 mil cidadãos, segundo o gabinete presidencial, Merkel será a terceira pessoa na história do país a receber a distinção mais elevada que pode ser entregue a cidadãos alemães: a "Großkreuz" (ou Grã-Cruz). Acima desta, existe apenas uma classe superior e que está reservada aos dignitários estrangeiros e ao próprio Presidente alemão.

Três condecorados

Os outros dois cidadãos agraciados com esta Ordem de Mérito foram também chanceleres, da então Alemanha Ocidental, e pertenciam ao mesmo partido conservador que Merkel, a União Democrata-Cristã (CDU). Konrad Adenauer, o primeiro líder do país depois de Adolf Hitler, foi galardoado com a "Großkreuz2 em 1954. Helmut Kohl, que governava o país aquando da reunificação alemã e deu luz verde ao euro para substituir o marco alemão, foi homenageado em 1998.

Adenauer e Kohl presidiram a períodos importantes da História alemã do pós-guerra. Em entrevista à DW, nota Albrecht von Lucke, comentador da revista alemã Blätter, independentemente das suas opiniões políticas ou das consequências das suas decisões, ambos foram forçados a fazer escolhas  "ousadas".

Algo que, na opinião de Albrecht von Lucke, não aconteceu na governação de Angela Merkel. Para este comentador, o tempo de Merkel no poder foi uma "era de 16 anos perdidos".

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"Estamos apenas a começar a ver como o legado de Angela Merkel é problemático", disse. "Dar este prémio a Angela Merkel é completamente prematuro e não é o prémio certo. Ainda não é claro quais foram os seus méritos e os seus fracassos".

Um legado aberto à interpretação

O agravamento da crise climática e a guerra na Ucrânia, que começou pouco depois de Merkel ter deixado o cargo, silenciaram o apoio generalizado de que desfrutou, tanto no país, como no estrangeiro, enquanto esteve no poder.

Apelidada de "chanceler do clima" no seu primeiro mandato, a Alemanha liderada por Merkel falhou frequentemente as suas metas na redução das emissões de gases com efeito de estufa. Segundo os críticos, Merkel foi demasiado branda com a Rússia, tendo a crescente dependência energética da Alemanha da Rússia durante o seu mandato sido um erro.

Numa rara aparição pública no ano passado, Merkel criticou a guerra na Ucrânia, mas defendeu os seus esforços diplomáticos.

"Não vou, portanto, pedir desculpa", disse ela em Berlim.

Deutschland | Besuch Wladimir Putin in Dresden im Jahr 2006
Merkel e o Presidente russo Vladimir Putin tinham uma relação de longa data como líderes dos seus respetivos paísesFoto: /AP Photo/picture alliance

Quem defende a liderança de Merkel nota que a sua política relativa à Rússia não era muito diferente da de outros chanceleres, independentemente do partido. A Alemanha alimentou durante muito tempo laços económicos, energéticos e culturais com a Rússia do que muitos dos seus aliados europeus, que não os viam com bons olhos.

Há por isso quem olhe para anos de Merkel como chanceler alemã como uma oportunidade perdida. Outros elogiam-na por ter defendido o "status quo” durante um período de muita agitação.

"Ela conseguiu manter a União Europeia unida e fortalecê-la em tempos tumultuosos", disse à DW Lucas Schramm, cientista político da Universidade Ludwig-Maximilians em Munique.

Era controversa

As crises da banca, da dívida e dos refugiados atingiram todas a União Europeia durante a era de Merkel. No mesmo período, o Reino Unido deixou o bloco e os Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, tornaram-se um país hostil.

"Chefes de Estado e de governo contemporâneos disseram recentemente que Merkel está a fazer falta nas cimeiras do Conselho Europeu por causa da sua autoridade", disse Schramm.

O debate sobre o legado de Angela Merkel está longe de ter terminado, e está sujeito a desenvolvimentos que ainda não aconteceram. Seja merecida ou prematura, a decisão de lhe atribuir a Ordem de Mérito coloca a ex-chanceler de novo no centro das atenções. Um lugar que Merkel evitou sempre, tanto durante o seu mandato, como agora na sua "reforma”, na qual tem permanecido afastado dos holofotes.

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