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Luanda faz 448 anos e quer "voltar a ser linda"

José Adalberto
25 de janeiro de 2024

Luanda assinala hoje o seu 448º aniversário, com o foco na melhoria da sua imagem. A capital de Angola está atualmente mergulhada em lixo e vê-se a braços com muitos outros problemas, como a criminalidade.

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Luanda foi considerada uma das cidades mais bonitas e limpas do continente africano
Foto: José Adalberto/DW

Fundada a 25 de janeiro de 1576 pelo navegador português Paulo Dias de Novais, Luanda já foi considerada, na década de 60, como um das mais lindas e limpas do continente africano.

"Luanda já foste linda". É a saudade cantada na música de Teta Lágrimas, que retrata uma cidade que já serviu de fonte de inspiração de poetas, músicos e uniu pessoas, mas que com o decorrer do tempo foi perdendo a sua beleza e mística.

Quatro séculos após a sua fundação, a cidade enfrenta hoje vários desafios para recuperar o seu estatuto. As razões são várias e vão desde a pressão demográfica que a cidade viveu, sobretudo nas décadas de 80 e 90, fruto do conflito armado que assolou o país.

Com mais de nove milhões de habitantes, a cidade enfrenta problemas de vária ordem. Desde construções anárquicas, venda ambulante, saneamento básico, lixo nas ruas, criminalidade ou engarrafamentos.

Como enfrentar o problema do lixo em Angola?

"A cidade onde todos mandam"

Quem governa Luanda não tem apenas que se preocupar com os problemas sociais da cidade. As interferências políticas e administrativas são constantes, ao ponto de a cidade ser conhecida como "cemitério das carreiras políticas" ou "a cidade onde todos mandam".

O governador de Luanda, Manuel Homem, diz ter consciência das dificuldades de governar a cidade, mas pede apoio de todos para mudar o atual cenário. Há pouco mais de um ano no cargo, Manuel Homem prometeu, durante o seu discurso de tomada de posse, desenvolver um trabalho de equipa e descentralizado.

"Não é aceitável que pequenos problemas locais tenham que ser resolvidos na sede do governo da província. Não é aceitável que, por exemplo, a reparação de uma conduta de água ou de um cabo de eletricidade dependa da boa vontade das estruturas aqui, no casco urbano da cidade", disse na altura.

Mas quem vive em Luanda, mais do que apontar problemas, quer ver resolvidos os males que enfermam a capital.

João Afonso, morador de um dos bairros periféricos, aponta alguns setores que considera prioritários: "Temos muito lixo na rua, águas paradas e isso aumenta as doenças, como malária e febre tifóide."

Jacob Jangombe, outro morador, também espera melhorias na imagem da cidade. "Luanda é uma cidade muito bonita, mas tem muitas debilidades que afetam a vida dos cidadãos, tal como as vias de circulação e delinquência", exemplifica.

"Temos muito lixo na rua", queixam-se os moradores de Luanda, a capital de Angola
"Temos muito lixo na rua", queixam-se os moradores de LuandaFoto: José Adalberto/DW

Modelo de governação desadequado

Para o politólogo David Sambongo, o atual modelo de governação de Luanda está desadequado às novas exigências. "É preciso 'desluandizar' Angola, porque Angola não e só Luanda e isso poderá ajudar na gestão da cidade", diz.

Mas em Luanda, não são apenas os problemas de gestão que preocupam quem governa a capital. "O governo de Luanda não pode continuar a ser pensado como cemitério dos que governantes", alerta Manuel Homem.

O politólogo David Sambongo lembra que não estão em causa apenas questões de saúde pública e estéticas, os principais poderes políticos fundamentais para o funcionamento do país concentram-se em Luanda:

"É a capital económica e política do país, os ministros de Estado, os secretários de estado, líderes de partidos políticos com assento no parlamento. Portanto, um conjunto de entidades residem na capital do país", destaca.