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FutebolReino Unido

"It's coming home!": Inglaterra está na final do EURO2020

António Deus
8 de julho de 2021

A seleção dos "Três Leões" venceu a Dinamarca por 2-1, no prolongamento e vai jogar, pela primeira vez, a final de um EURO. Inglaterra e Itália decidem o título europeu no próximo domingo, em Londres.

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Euro 2020 - Semi Final - England v Denmark
Foto: LAURENCE GRIFFITHS/REUTERS

Football is coming home! Os adeptos da seleção inglesa já cantam: "O futebol vai regressar a casa!", que é como quem diz, a Inglaterra vai ganhar o EURO2020. Uma coisa é certa, a seleção comandada por Gareth Southgate é a primeira geração do futebol inglês a chegar à final de um campeonato da Europa de futebol. Vitória por 2-1 frente à Dinamarca - no prolongamento - e no próximo domingo (11 de julho), vai jogar a grande final em casa, frente à Itália.

Inglaterra 2-1 Dinamarca

Foi um jogo em que durante 120 minutos, o coração bateu na garganta dos ingleses e dos dinamarqueses, e de todos aqueles que se uniram emocionalmente à Dinamarca, depois do colapso de Eriksen a 12 de junho. 

Euro 2020 - Semi Final - England v Denmark
Damsgaard fez o 0-1 aos 30 minutosFoto: CATHERINE IVILL/REUTERS

A Dinamarca fez o que nenhuma outra seleção tinha feito até ao momento neste EURO2020. Aos 30, Damsgaard encheu-se de fé e num livre à entrada da área inglesa, meteu a bola por cima da barreira, ganhou um efeito descendente e bateu Pickford, quase a meio da baliza. Situação inédita neste Europeu, a Inglaterra tinha sofrido um golo e estava em desvantagem, que durou apenas nove minutos. Saka ganhou na velocidade pela direita, olhou para a área, onde tinha Sterling à boca da baliza para fazer o empate. A bola chegou lá, mas Kjaer antecipou-se e acabou por fazer autogolo.

Na 2ª parte, a Inglaterra cresceu no jogo, ao ter mais bola, mais jogo exterior (pelas alas) e foi empurrando a Dinamarca para trás, obrigando a seleção dinamarquesa a defender em 5-4-1. A linha ofensiva da Dinamarca correu muito e Hjulmand, técnico, teve de mexer no ataque e com isso, ajustou taticamente a equipa, para terrenos ainda mais baixos. Abdicou mesmo do 3-4-3 e aplicou de vez o 5-4-1, com Poulsen - que entrou para o lugar de Dolberg - a servir como a âncora ofensiva da equipa. No entanto, Poulsen ficou sempre muito sozinho na frente, pois os extremos, Braithwaite e Norgaard (médio, mas que jogou mais pela ala), foram obrigados a baixar na linha do meio-campo e na hora de transição, as pernas já não acompanhavam a cabeça.

Euro 2020 - Semi Final - England v Denmark
Harry Kane fez o 2-1 aos 104 minutos.Foto: JUSTIN TALLIS/REUTERS

O jogo foi para prolongamento. A Inglaterra continuava por cima, mas Southgate percebeu que a troca de bola era feita mais em esforço que em certeza. Sentiu o meio-campo desgastado, correndo o risco de sofrer em contragolpe, e colocou Henderson no lugar de Declan Rice. Que diferença! O médio do Liverpool fechou o meio-campo e a equipa subiu mais uns largos metros no terreno. Ao minuto 102, Sterling driblou dois adversários e o sr. Makkelie, árbitro da partida, assinalou um toque da perna de Maehle na perna direita de Sterling. O VAR confirmou e da marca de grande penalidade, Kane bateu, Schmeichel adivinhou o lado e defendeu, mas a bola "espirrou" para a frente e Kane não falhou a recarga. 2-1 para a Inglaterra, resultado que a Dinamarca já não teve pernas para igualar ou dar a volta. Vitória justa da Inglaterra.

"Southgate-ball"

O futebol ofensivo, vertical, sem olhar para trás, ficou no baú. Gareth Southgate, desde o Mundial 2018, colocou a Inglaterra sob um método de controlo, coesão defensiva e futebol apoiado. "Chuveirinho" para a área, transição com passes longos de 40 metros ficam para quando é necessário. Se possível, o treinador gosta que a seleção inglesa agarre o jogo taticamente (4-2-3-1) e depois comece a circular a bola, numa troca do esférico de forma curta, com muito apoio entre interiores e alas, a procurar colocar a bola com critério "inside the box", ou seja, dentro da área.

Euro 2020 - Semi Final - England v Denmarkg
Harry Kane (esq.) e Gareth Southgate (dta.)Foto: FRANK AUGSTEIN/REUTERS

No Mundial 2018, o 4º lugar já havia deixado uma nova imagem da seleção inglesa. Na altura, Southgate colocava a equipa a jogar num 5-3-2, muito ponderado, assertivo, sem espaço para loucuras e invasões à área contrária. Neste EURO2020, Southgate bebeu um chá que controle, mas que não iniba a vontade de atacar. Montou a equipa em 4-2-3-1 - alterou apenas uma vez, frente à Alemanha (3-4-3), e nota-se na disciplina tática da equipa tanto a defender como a atacar. Maguire é o patrão da linha a quatro defensiva, Declan Rice e Phillips surpreenderam no meio-campo, Kane é a âncora ofensiva e Sterling o jogador mais imprevisível para o adversário. Funciona, está na final...

Ovação de pé

Quem gosta de histórias como David vs. Golias ou outros relatos de superação, não ficou indiferente à campanha da Dinamarca no EURO2020. Quando a 12 de junho Eriksen colapsou em campo, a jogar em casa (cheia), todos pensaram: "Vai recuperar? Acabou?" O silêncio em Copenhaga foi arrepiante e criou-se uma onda emocional em torno da Dinamarca. Eriksen foi recuperado, saiu consciente do terreno, mas a seleção, de forma notória, não tinha a cabeça em campo. Ninguém lhes poderia apontar um dedo que fosse se quisessem desistir do torneio. Só quem viu um familiar, amigo, colega, ser humano partir à sua frente, seja em que contexto for, conhece essa dor.

Euro 2020 - Semi Final - England v Denmark
Foto: ANDY RAIN/REUTERS

Mas não... A Dinamarca, a pedido de Eriksen, continuou. E não há maior força que essa. Quando um dos nossos esteve em risco de partir, não há dor, cansaço ou desculpa nenhuma que possa superar a vontade de viver. E foi isso que a seleção dinamarquesa fez. Perdeu o primeiro jogo, perdeu o segundo e estava quase eliminada. Frente à Rússia, goleou por 4-1 e seguiu para os oitavos de final. Podia ter sido uma noite de inspiração, mas nos oitavos de final, "chapa 4" ao País de Gales. Afinal, já não foi só de momento... Nos quartos de final, 2-1 frente à República Checa e a chegada às meias-finais do EURO, que não acontecia desde 1992, ano em que ganhou o campeonato da Europa.

Os ingleses foram uma força irresistível demais, mas nenhum jogador dinamarquês saiu com o equipamento limpo e sem as marcas de "guerra" no corpo. As vitórias morais não ganham jogos, mas fazem-nos acreditar que tudo é possível. Quando achamos que estamos cansados, lesionados e que temos de aceitar que não conseguimos, há sempre alguém que não teve a oportunidade sequer de tentar. A Dinamarca está de parabéns!