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A vida dos angolanos está cada vez mais difícil

25 de novembro de 2019

Preços dos produtos e serviços continuam a subir em Angola e os cidadãos queixam-se da perda de poder de compra. Governo apela à calma e promete inverter situação. Economista diz que há que apostar na produção interna.

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Supermercados vazios passaram a ser um cenário comum em Luanda Foto: DW/J. Beck

A vida dos angolanos está cada vez mais difícil. As queixas ouvem-se um pouco por todo o país: os preços estão muito altos. "O Governo tem que baixar os preços nos mercados, nas lojas. Ele é que tem que saber quanto deve custar o saco de arroz, a caixa de óleo e a fuba de milho. Estão muito caros", reclama Manuel Marcos Francisco, de 43 anos, que mora em Luanda e trabalha como segurança numa empresa privada.

Agora, o seu salário já não chega para cobrir as despesas. "Quando o meu salário era 15 mil e o saco de arroz dois mil, eu conseguia economizar um pouco. Quando subiu para cinco mil era normal. Pelo menos que seja cinco mil", pede Manuel Francisco.

Também a residir na capital angolana, Catarina Alberto vê-se forçada todos os meses a "esticar" o ordenado para fazer as compras no supermercado. No fim, não sobra nada. "A vida está muito difícil mesmo por causa da subida dos preços. Não sei se é o tal IVA (Imposto de Valor Acrescentado) ou a subida de dólares. Eu compro arroz, massa, óleo e tudo acaba. Não fica nada para cuidar da saúde", lamenta.

Quando o saco de arroz é mais famoso que o vice-Presidente

A subida dos preços dos bens e serviços tem estado a marcar o dia-a-dia da população em Angola. Nas redes sociais, circulam fotografias de angolanos abraçados a sacos de arroz e embalagens de massa, sinalizando a raridade dos produtos nas cozinhas.

Angola Markt in Viana
Arroz está cada vez mais caro em AngolaFoto: DW/P. Borralho

O tema está também a marcar a atualidade política. Na semana passada, aquando da discussão e aprovação na generalidade do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2020, no Parlamento, Lourenço Lumingo, deputado da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), disse mesmo que o saco de arroz estava mais famoso que o vice-Presidente angolano, Bornito de Sousa, numa clara alusão à dimensão que o assunto atingiu. 

"Nós estamos aqui, lá fora a população está em pânico pelo custo de vida que está cada vez pior. O salário nem para alimentação está a servir para não falar de quem anda desempregado por causa de políticas públicas mal gizadas", criticou o parlamentar.

Governo diz-se "preocupado"

O Governo diz que está a acompanhar o assunto com alguma preocupação. O Presidente João Lourenço garante que o seu Executivo continua à procura de soluções para se inverter a atual situação económica e social dos angolanos. "Estamos preocupados, mas estamos a trabalhar no sentido de melhorar a situação. O Executivo tem comunicado as medidas que tem vindo a tomar de evitar a especulação que alguns comerciais estão a fazer, aproveitando-se a entrada em funcionamento do IVA", disse o chefe de Estado.

A vida dos angolanos está cada vez mais difícil

A introdução do Imposto do Valor Acrescentado (IVA), a desvalorização do kwanza e a dívida pública angolana são os três flagelos que abalam o consumo no país. O economista angolano Faustino Mumbica entende que o Governo quer criar um bom ambiente de negócio para o investimento estrangeiro tomando estas medidas.

Mas também é necessário olhar para a produção interna. "É compreensível a grande preocupação do Executivo em atrair investimento externo e em função disso não há dúvidas de que essa, não diria desvalorização, mas depreciação da moeda, decorrente sobretudo da taxa de câmbio adoptado. Mas é importante que estas medidas fossem acompanhadas por outras medidas como a produção interna", explica.

Por outro lado, é preciso apostra na construção de infraestruturas, "empresas ligadas a gestão das águas, da energia e das infraestruturas como estradas e caminhos de ferros", precisa o economista.

Entretanto, as famílias angolanas continuam a perder o poder de compra e muitas empresas estão a fechar portas. O desemprego já chegou aos 30%. "O cenário lá para frente não é muito animador, não obstante o optimismo com o que o Executivo apresenta o orçamento. Quando nós o lemos, quando olhamos para nossa realidade, o quadro ainda continua a ser desolador", sublinha Faustino Mumbica.