Nella Duro, a viver em Portugal, defende que o marido, co-arguido no processo do CNC e confrontado com sérios problemas de saúde, já devia estar em liberdade condicional desde 21 de abril de 2021.
A família critica a Justiça angolana porque o visado continua detido em Luanda, apesar de já ter cumprido metade da pena condenatória, e o Tribunal Supremo tem protelado a decisão de libertar o arguido, ex-diretor-geral adjunto para a área técnica do antigo Conselho Nacional de Carregadores (CNC).
"Desde essa altura até agora, já se passaram dez meses em que o Rui está ilegalmente preso. Um dos juízes, que disse que tinha o processo do Rui, olhou na minha cara e disse que, se tudo estivesse bem, ele saía em 24 horas", denunciou a esposa em declarações à DW, pouco antes de deixar Lisboa com destino a Luanda.
Ex-ministro dos Transportes Augusto Tomás
Nella Duro adianta que, durante os dias em que estiver na capital angolana, vai insistir junto da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Supremo Tribunal de Justiça para que publiquem os documentos de soltura do marido.
A mulher do co-arguido no caso CNC, que envolve o ex-ministro dos Transportes, Augusto Tomás, confirma que Rui Moita foi novamente enviado para a prisão de São Paulo, em julho do ano passado, depois de longos meses à espera da libertação. "Foi muito dramático porque as crianças mais novas não tinham conhecimento [dos factos]. Isto, consoante a lei de Angola, não era para acontecer porque ele já devia estar em liberdade condicional."
Nella Duro evita falar do julgamento do marido, condenado a cinco anos e dois meses de prisão no âmbito do processo CNC, mas diz que a nova lei penal, aprovada pela Assembleia da República, que visava simplificar a resolução de casos como este, é uma farsa.
"É tudo mentira. É tudo muito bonito em papel, mas nada funciona. Tivemos que repetir tudo da lei antiga", lamenta.
Assistência médica urgente
Neste caso mediático, Rui Moita é acusado dos crimes de peculato, abuso do poder, violação de normas orçamentais e recebimento indevido de vantagem, tendo sido preso, segundo a mulher, num processo onde uma série de procedimentos legais foram ignorados e violados. Perante o estado de saúde do marido, Nella Duro pede respeito pelos direitos humanos, porque ele precisa de assistência médica.
"O Rui é de altíssimo risco, é daquelas pessoas sobre as quais a Organização Mundial de Saúde e as Nações Unidas fizeram um documento em março de 2020 a dizer que não podiam estar presas. Tem todas as doenças crónicas que existem. É brutal o que estão a fazer com o Rui, é desumano. Nem os direitos humanos funcionam em Angola. O Rui está constantemente doente. É uma pessoa que nem devia estar lá, devia estar em liberdade há dez meses", sublinha.
Nella Duro diz que não sabe mais a quem recorrer. Precisa que os relatórios de médicos em Angola, Portugal e na Alemanha confirmem o estado de saúde do seu marido. O professor universitário morou 24 anos em Berlim, a capital alemã, onde prestava serviços de tradução à Embaixada de Angola.
A esposa de Rui Moita deslocou-se a Angola com a urgência de internar o marido, que está doente com várias patologias, sem ter sido ainda vacinado contra a Covid-19. Lembra ainda que, neste processo, já morreu um dos arguidos, Manuel António Paulo, antigo diretor-geral do Conselho Nacional de Carregadores (CNC), por falta de assistência adequada na prisão.
Processos políticos
O jornalista angolano Victor Hugo Mendes lembra que existem muitos casos do género em Angola cujas reais motivações são de difícil compreensão. "Conforme os processos têm sido tratados, deixa-nos com a evidência de que são processos literalmente políticos. Perante a descrição deste caso muito particular, se olharmos para aquilo que está agora aprovado em termos de lei, não faz sentido absolutamente nenhum que a injustiça continue a teimar em ser injusta", argumenta.
O jornalista e escritor apela para que se veja a forma como os arguidos têm sido tratados. Confirma, citando fontes seguras, que os réus têm tido um tratamento desumano na cadeia de Luanda. "Muito desumano, inclusive a mulher do próprio Augusto Tomás tem enormes dificuldades de estar com o esposo. O próprio esposo tem um tratamento que não é mental nem higienicamente saudável", diz.
Mendes considera que, deste modo, a imagem de Angola fica manchada. "Vamos ver se a Justiça se faz sentir, porque não fica bem para o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), não fica bem para o próprio Presidente João Lourenço e não fica bem, obviamente, para a imagem de Angola a nível internacional", avisa.
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MPLA por um fio?
A campanha eleitoral em Angola está a ser marcada por posições consideradas cada vez mais autoritárias e anti-democráticas por parte do Governo e do MPLA, em oposição ao que parece ser o apelo da maioria da população e também da UNITA, muito ativa na denúncia de irregularidades. Há uns meses, o MPLA afirmava que Adalberto Costa Júnior estava por um fio. Estará agora o partido-Estado por um fio?
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Líderes africanos agradecem exemplo de Mandela
O mundo assinala esta segunda-feira, 18 de julho, o dia internacional de Nelson Mandela. O líder histórico anti-apartheid lutou pela construção de uma vida melhor para o seu povo, garantindo a igualdade social, política e económica para todos os negros que viviam na África do Sul. Será que os líderes africanos seguem o exemplo de Mandela?
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"Ajuste Direto"
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O "cúmulo da partidarização" do Estado em Angola foram as palavras usadas pelo partido da oposição UNITA para descrever as recentes controvérsias que envolvem João Lourenço. O Presidente angolano está a ser criticado por usar a estrutura do Estado - como as deslocações às províncias e os próprios meios de comunicação presidenciais - para antecipar a sua campanha eleitoral às eleições de agosto.
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O Presidente da República de Angola, João Lourenço, ainda não respondeu a várias solicitações de audiência do líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior. A Igreja Católica também fez vários apelos ao diálogo que não foram ouvidos, além de ter pedido transparência nas eleições gerais, previstas para agosto. Aparentemente alheio a tudo isso, o chefe de Estado continua a "dialogar" com outros atores.
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O escritor moçambicano Mia Couto disse certa vez que os países africanos produzem ricos em vez de riqueza. Angola não é exceção.
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O Tribunal Constitucional chumbou o congresso da UNITA, que elegeu Adalberto Costa Júnior, e Isaías Samakuva reaparece em cena para assumir o comando do maior partido da oposição. O Presidente João Lourenço teceu rasgados elogios ao seu regresso. Poderá estar o chefe de Estado a fazer campanha contra si mesmo? Na visão de Sérgio Piçarra, lembra o "tiro no pé" de Savimbi e a "satisfação" de Zé Dú.
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O líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, foi acusado de "tribalismo, intrigas, desvios de fundos". Este mês, o MPLA disse que a liderança de Costa Júnior está "por um fio". Mas o maior partido da oposição sacode as críticas e ganha cada vez mais popularidade. O tiro terá saído pela culatra?
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Depois de uma semana marcada por reuniões e cimeiras, as políticas intercontinentais apontam a soluções... Mas antes de encontrarem as soluções... acha que já perceberam mesmo quais são os problemas no continente africano que precisam dessa tal solução?
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Será que só passa um canal nos média públicos angolanos? A imparcialidade da imprensa pública é cada vez mais questionada em Angola. O maior partido da oposição no país disse recentemente que, a um ano das eleições gerais, em 2022, os órgãos de comunicação social do Estado "foram instruídos e elegeram o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, como alvo a abater".
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Futuro, será que, face às chuvas em Luanda, que fizeram 24 mortos e milhares de desalojados, mudou alguma coisa? Alguém atende?
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O míssil Cafunfo
Várias organizações de defesa dos direitos humanos exigem uma investigação célere aos recentes incidentes ocorridos em Cafunfo, na província angolana da Lunda Norte, e que provocaram várias mortes e feridos. O ministro angolano da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, admitiu terem existido violações dos direitos humanos de parte a parte e garantiu a realização de um inquérito.
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Após a morte do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, o Governo liderado pelo Presidente João Lourenço e os filhos do ex-líder angolano entraram numa batalha sobre o local de realização do funeral. Tudo isto a poucas semanas antes do início da campanha para eleições gerais de 24 de agosto. Um "beco sem saída", como diz o cartoonista.
Autoria: Sérgio Piçarra