Angolanos contestam novos preços dos transportes coletivos
16 de maio de 2024O Ministério dos Transportes determinou que a tarifa dos táxis coletivos a ser praticada em todas as rotas, numa extensão de até 16 quilómetros por rota, passa a custar a cada passageiro o valor de 200 Kwanzas, cerca 0,22 euros.
As a tarifa dos transportes públicos coletivos urbanos rodoviários de passageiros também sofreu alteração. A viagem de autocarros que custava 50 Kwanzas passa agora custa 150 Kwanzas (0,16 euros), nas rotas com uma extensão mínima de 20 quilómetros.
Para as demais províncias as novas tarifas serão fixadas localmente, em função das respetivas estruturas de custos.
A Associação Nova Aliança dos Taxistas (ANATA) aplaude a medida. Em declarações à DW África, Francisco Paciente, presidente da ANATA, disse que os associados já cobram a nova taxa, mas há uma moratória para os passageiros que estão disponíveis a pagar o valor anterior de 150 Kwanzas (0,16 euros).
"Neste momento os taxistas vão já exercendo a sua atividade no âmbito do preço atual. Os taxistas também estão sensibilizados a aceitarem aqueles que ainda queiram pagar os 150 Kwanzas que vigorava, por não terem tomado conhecimento", explicou Francisco Paciente.
Para os passageiros a medida é boa só para os operadores dos taxistas e é prejudicial para quem viaja de táxi. Populares ouvidos pela reportagem da DW já fazem cálculos entre o salário e o custo de vida, mas as contas não batem certo.
Os táxis privados de nove lugares, conhecidos como candongueiros ou "azuis e brancos", são dos meios de transporte mais baratos e populares em Angola, com destaque para a capital, Luanda, onde circulam milhares de veículos deste género.
O promotor de vendas, Mauro Jerónimo, vive no Cazenga e trabalha no Talatona. Num único trajeto pega três táxis. "Se fizer o mesmo trajeto 30 ou 28 dias durante um mês, vai ficar sem nada. Somando 500 Kwanzas mensal, já são 15 mil, se somar 1000, tens 30 mil Kwanzas para o táxi por mês. Ficas quanto nas mãos? Ficas sem valor nenhum".
"Não vou conseguir pagar a renda"
Maria Carlota é empregada doméstica e aufere um salário de 55 mil Kwanzas (cerca de 60 euros). Agora terá de gastar mais de 20 mil Kwanzas mensal só em táxis.
Será difícil para ela que cuida quatro filhos sozinha: "Não vou conseguir pagar as propinas dos meus filhos, não vou conseguir pagar a renda de casa, muito menos o lanche dos meus filhos. O que vou fazer com os 55 mil que ganho de salário?"
Waldemar Costa, outro passageiro, diz que atualização dos preços foi uma medida justa para os transportadores tendo em conta o preço alto dos combustíveis. Mas está preocupado com o futuro dos chefes de família de renda baixa.
"Não acho que o taxista é o mau da fita, porque tal como todos os angolanos, estão a sofrer com a desvalorização do Kwanza (moeda local). Esse aumento traz um bocado de justiça para os taxistas", diz.
O executivo deliberou o ajuste gradual dos produtos derivados de petróleo para níveis de mercado até 2025, iniciando o processo com a alteração do preço da gasolina em junho de 2023.
O Governo angolano deliberou o ajuste gradual dos produtos derivados de petróleo para níveis de mercado até 2025, iniciando o processo com a alteração do preço da gasolina em junho de 2023, que passou de 160 kwanzas (18 cêntimos) para os atuais 300 kwanzas (33 cêntimos).
Seguiu-se o gasóleo, no mês passado, que subiu de 135 kwanzas (15 cêntimos) para 200 kwanzas por litro (cerca de 20 cêntimos), segundo o Instituto Regulador dos Derivados do Petróleo.
A retirada da subvenção estatal ao combustível para os taxistas estava prevista inicialmente para 30 de abril, mas as autoridades decidiram prorrogar o prazo por mais 15 dias.