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Protesto em Luanda por mais medidas contra contra a pobreza

4 de julho de 2020

Jovens marcharam em Luanda, capital de Angola, reclamando medidas mais adequadas na luta contra a covid-19, mas também mais justiça e apoios sociais. "Queremos cesta básica, não queremos rebuçado"

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Anfola Luanda Antiregierungsproteste Notstand
Foto: DW/M. João

Pouco mais de duas dezenas de cidadãos angolanos marcharam este sábado (04.07), em Luanda, capital de Angola, contra a má distribuição da cesta básica e fornecimento de água potável em tempo de covid-19. Durante a marcha, protegida pela polícia, os manifestantes exigiram também a exoneração do ministro do Interior Eugénio Laborinho e mostraram-se solidários pela morte de um comandante da polícia na capital angolana.

"Estamos descontentes com as medidas do Executivo. Estamos numa fase muito sensível em que a saúde pública está em perigo, mas o Estado nunca deixa de ser Estado. Para além de se criar medidas de biossegurança, também tem que se criar medidas de intervenção social”, disse à DW África, Timóteo Miranda, um dos organizadores.

Os manifestantes começaram a concentrar-se junto do cemitério de Santa Ana, por volta das 11:00, para prepararem os seus cartazes, mas só partiram às 13:00, desfilando em direção ao Largo das Escolas, gritando as palavras de ordem que expressam as suas preocupações: Luz, Água, Pão, Educação.

Timóteo Miranda explica que a marcha teve vários objetivos, entre os quais chamar a atenção para a situação que se vive devido à pandemia.

"Nós temos, por exemplo, zonas como Rasta no Kilamba Kiaxe, Sapú onde não há acesso a água de forma fácil. O Governo anunciou que faria chegar água a estas comunidades. Mas o trabalho de campo que fizemos vimos apenas uma cisterna. Será que esta comunidade não precisa de água?”, questiona o ativista Miranda.

Falta de água potável

Anfola Luanda Antiregierungsproteste Notstand
"Existem bairros em Luanda que estão a viver mal, chega a doer o coração. Foi prometida cesta básica mas não foi dada cesta básica a essas pessoas", dizem.Foto: DW/M. João

"Entendemos que é necessário nos higienizarmos contra a covid-19, mas entendemos também que é necessário que o executivo crie condições para que a água chegue aos pontos mais distantes do país”, reivindicou.

O ativista falou em vários problemas, desde os professores das escolas privadas, que estão sem receber salários há meses, ao escasso acesso à água das comunidades mais vulneráveis.

"Eles dizem que as pessoas devem protegerem-se. Nós só nos vamos proteger se se criar condições para tal nas comunidades. Quer dizer, cada administração municipal nesta fase deve redobrar o seu esforço. É necessário que tudo aquilo que o Executivo planeou para a luta contra covid-19 seja concretizado e, para isso, é necessário que haja uma rigorosidade institucional”, desabafa.

"MPLA é pandemia”

Durante a marcha, foram entoados alguns cânticos como "exigimos justiça, cuidado com MPLA, ele também é pandemia” entre outros. E foram exibidos cartazes com dizeres como "prendam os corruptos e queremos soluções JLO”.

"Como é que vamos exigir que as pessoas fiquem em casa, se as pessoas não têm o que comer, se grande parte depende do mercado informal”, questionou, criticando "a perseguição sistemática das zungueiras [vendedoras ambulantes], que fazem o seu negócio”, disse um dos responsáveis da manifestação.

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Nos cartazes artesanais liam-se contestações ao partido no poder em Angola há mais de 40 anos.Foto: DW/M. João

"Há carência de água e saúde no seio da população. Isso me faz participar nesta marcha”, disse Walter Sebastião "Lúcio Lara”, um dos participantes.

O jovem ativista acrescenta: "Eles dizem que dão, mas não dão nada. O povo passa fome. O governo diz que está a dar cesta básica, mas nunca vimos nada. Isso é lamentável”, disse ainda Walter Sebastião.

Demissão do ministro do Interior

Os manifestantes também exigiram a exoneração do Ministro do Interior, Eugénio Laborinho, por supostamente ter permitido que a sua filha violasse a cerca sanitária, sem o teste da covid-19, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro. O avião da polémica que trouxe a sua filha, chegou a Luanda no passado dia 17 de março vindo de Lisboa, Portugal.

 "Estamos a pedir a exoneração do senhor ministro Laborinho porque ele permitiu a sua filha romper com a cerca sanitária da covid-19, sem a realização de nenhum teste”, afirma Walter Sebastião "Lúcio Lara”.

Também Fernando Simões, um dos participantes da marcha disse os motivos que o levaram a exigir a exoneração do ministro: "O ministro disse que a polícia não estava na rua para distribuir rebuçados. Quer dizer que deu autorização aos seus efetivos para usar força mesmo nos momentos desnecessários”.

"Nós vimos que na primeira fase de estado de emergência a polícia nacional matou mais cidadãos angolanos do que a própria covid-19”, conclui.

Jovens solidários

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Jovens queixam-se de violência policial durante o estado de emergência devido à pandemia.Foto: DW/M. João

A morte de Manuel António Luamba, comandante do bairro da boa-fé, em Viana, assassinado, esta semana por marginais em plena atividade, mereceu a solidariedade dos ativistas. Os manifestantes exigiram justiça. "Também é necessário que a sociedade não consinta apenas a morte do comandante. Que se consinta também pelos cidadãos que foram mortos durante o estado de emergência: do cidadão morto por não usar máscara, ou da zungueira morta pela polícia”, lembra Miranda que é um estudante de Ciências de Educação, de 21 anos.

Esta semana foram apresentados cinco presumíveis autores do assassinato do comandante. Fernando Simões, afirmou que os ativistas vão acompanhar este caso.

Nos cartazes artesanais liam-se contestações ao partido no poder em Angola há mais de 40 anos – "o MPLA é uma desgraça” -, mas apelava-se também por soluções ao executivo liderado por João Lourenço e à prisão dos corruptos.

Entoando "ativistas unidos jamais serão vencidos”, os jovens que se juntaram à manifestação, onde era obrigatório o uso de máscara para cumprir as medidas de biossegurança, foram acompanhados pela polícia até ao Largo das Escolas, onde foi lido um manifesto com as reivindicações e o protesto terminou, sem incidentes, pelas 15:30.

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