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Angola: Falta de peixe ameaça pesca artesanal no Namibe

Adilson Liapupula
5 de julho de 2021

O fenómeno da redução de peixe na costa do Namibe está a fazer com que os pescadores se arrisquem em alto-mar, com embarcações artesanais. Pelo menos dez resgates são realizados por ano, mas muitos desapareceram.

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Porto do NamibeFoto: Adilson Abel/DW

A pesca é a principal atividade económica de várias comunidades na costa da província do Namibe. Mas os pescadores da região estão a notar há algum tempo uma redução no volume de peixes que retiram do mar. Muitos acreditam que as alterações climáticas estão a influenciar a captura do pescado de tal modo que estão a ser obrigados a mudar as áreas de pesca. Algumas rotas escolhidas acabam por ser arriscadas, porque as embarcações dos pescadores não são propícias para deslocações tão distantes da costa.

Avelino Tyamba e Manel Calenga são pescadores artesanais há mais de dez anos e temem ficar à deriva. Avelino Tyamba revela as dificuldades que estão a enfrentar:

"Sou marinheiro há 14 anos. A nossa vida é mesmo a pesca artesanal, nós trabalhamos com as viseiras e, quando há pouca captura, então temos que sair daquele sítio e mudar para outro. Tem-se pescado, há dias que dá certo, há dias que não conseguimos capturar [peixe]... temos que trocar de zona. Por exemplo, aqueles marinheiros que ficaram perdidos no mar é por causa da avaria no motor".

Angola | Avelino Tyamba
Avelino Tyamba pesca há 14 anos e agora vê a sua atividade profissional ameaçadaFoto: Adilson Abel/DW

Por seu turno, Manuel Calenga diz que antigamente o volume de pescado era suficiente para as comunidades. Hoje, parece que o peixe desapareceu.

"Proibiram a pesca e a venda de carapau, quase não temos mais. O jeito é ficar em casa, [e tentar] conseguir [algo] para ajudar a [pôr comida] panela. Estamos a remediar mesmo assim (…)", conta o Calenga, acrescentando que há "casos de outros [pescadores] que desapareceram" na tentativa de conseguir pescar em alto-mar.

Resgates

Segundo Albino Ngombe Ongonga, chefe de segurança marítima da Capitania do Porto do Namibe, mais de dez resgates são feitos por ano devido à mudança nas rotas de pesca. Geralmente, os pescadores são resgatados a mais de 50 quilómetros da costa.

"Eles se fazem ao mar com o limite não apropriado, já fomos felizes muitas vezes, já recuperamos muitos marinheiros em alto-mar e a embarcação praticamente nessa altura fica sinalizada naquele local, agora os desaparecidos por vezes ficam dois, quinze, dez dias... Por vezes aparecem nas buscas que temos feito conjuntas. Já tivemos até buscas por via aérea, marítima. Mas outros mesmos infelizmente damos mesmo como desaparecidos", lamenta.

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O diretor-provincial das Pescas e do Mar no Namibe, Jorge Matistis, diz que o Governo busca regularizar a atividade pesqueira na região para dar mais segurança aos próprios pescadores.

Informalidade

Segundo Matistis, que admite que "a pesca artesanal é uma atividade que está na sua maior parte de forma informal", cerca de 950 embarcações são usadas para a pesca na costa do Namibe, mas apenas 400 estão legalizadas para a pesca artesanal.

"Está-se a trabalhar uma forma que formalize todo processo da atividade da pesca artesanal, mas vai levar um tempo porque muitos cidadãos não têm documentos pessoais, não têm Bilhete de Identidade, não são contribuintes... Enfim o processo vai levar o seu tempo o importante é termos começado", reconhece.

Entretanto, o chefe do Instituto de Investigação Pesqueira e Marítima no Namibe, Quilanda Fidel, diz que atualmente vigora na região uma proibição da pesca e venda do carapau, devido a uma "paragem biológica".

Mas Fidel aponta outros fatores para a redução do volume de peixes na costa da província: "Podemos dizer é que há sobrepesca, pesca ilegal e as alterações climáticas, que fazem com que os peixes no mar procurem melhores condições. Os fatores são muitos", conclui.

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