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Agências de avaliação prejudicam economias africanas?

Daniel Pelz
2 de abril de 2019

Governos africanos questionam as avaliações feitas pelas agências de notação financeira Moody´s ou Fitch, sobre os seus países. Acusam as agências de apresentarem avaliações “subjetivas”.

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USA Wirtschaft Ratingagentur Fitch Ratings in New York Gebäude
Foto: picture-alliance/dpa

Segundo especialistas, uma nota de uma agência de notação financeira pode afetar uma economia inteira. E, em última análise, trazer "graça" ou "desgraça", atrair investidores ou afugentá-los. Uma agência de notação financeira avalia se o risco de investir num país é alto ou baixo… Mas esta avaliação não é feita apenas com base em números – há também um lado subjetivo.

Isto não agrada a muitos países africanos - que acreditam que as agências de rating podem estar a prejudicar as suas economias, por não conhecerem a realidade africana. A África do Sul planeia inclusive criar a sua própria agência.

Uma mudança numa letra ou num número pode fazer toda a diferença. Entre uma nota "Aa3", "Baa3" ou Ba2", as diferenças são muito grandes. É a diferença entre uma boa ou uma má nota - ou seja, "luz verde" para os investidores apostarem num país ou um "sinal de alerta" - afugentando possíveis credores.

Estas notas são dadas por agências de rating, que avaliam o risco de crédito. E só as notas dadas por três agências norte-americanas costumam ter peso no mercado global: as agências Moody's, Standard & Poor's e Ficth.

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Vários países africanos queixam-se das notas que recebem. 14 países, num total de 21 avaliados, foram considerados como economias onde o risco de crédito é "elevado" ou "muito elevado", segundo a Moody's. Os críticos dizem que as agências não entendem as especificidades dos mercados financeiros africanos, explica Sean Gossel, que dá aulas de economia na Universidade da Cidade do Cabo.

Agências de avaliação estão a prejudicar economias africanas?

"É muito subjetivo. Em parte, a crítica é que não é um processo sólido de análise. Há um forte grau de subjetividade. E uma das grandes críticas é que quem dá estas notas não percebe o contexto africano e não percebe os desafios que os países africanos enfrentam."

Uma má nota pode ter consequências nefastas, porque é uma nota que diz aos investidores para terem muito cuidado, antes de investirem numa economia. E como explica o investigador Kai Gehring, da Universidade de Zurique:

"Os bancos centrais e muitos fundos públicos de pensões têm instruções claras para só investirem em determinadas categorias."

As agências de notação são tendenciosas?

Contactada pela DW, a Moody's respondeu numa nota que não há um único analista a decidir sobre a notação de um país; as notações são compiladas por um comité, com um vasto leque de competências.

As agências avaliam vários fatores: se o país tem estabilidade política, se o Governo paga as dívidas a horas ou se há tribunais independentes, a que os credores possam recorrer em caso de incumprimento nos pagamentos.O investigador Kai Gehring diz que 80% das notações são explicadas por estes fatores. Mas há os outros 20%, mais subjetivos:

Gipfeltreffen der Brics-Staaten in Südafrika
BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)Foto: Getty Images/M.Hutchings

"É preciso perceber que parte desta avaliação é sobre o futuro. Não é só olhar para números do passado, tenta-se também projetar o futuro."

E isso significa que diferenças na cultura ou na língua entre o país onde a notação é dada e o país que está a ser avaliado podem influenciar a nota final, acrescenta Gehring.

A África do Sul planeia criar a sua própria agência de rating, com a ajuda do Brasil, da Rússia, da Índia e da China. No entanto, não se sabe se os investidores internacionais confiariam nesta agência. Já Sean Gossel, da Universidade da Cidade do Cabo, tem uma outra ideia.

"As agências de rating precisam de se envolver mais a nível local. Não basta voarem de vez em quando até um determinado país, recolherem os dados e irem-se embora."

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