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Afinal, o que aconteceu no Huambo?

António Rocha24 de abril de 2015

A UNITA e a associação Mãos Livres estão a conduzir investigações paralelas para tentar perceber o que aconteceu no Huambo, após a morte de várias pessoas em confrontos entre a polícia e fiéis da seita "A Luz do Mundo".

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Foto: Gianluigi Guercia/AFPGetty Images

Enquanto uma delegação Parlamentar da UNITA prossegue a sua missão na província angolana do Huambo, onde na semana passada morreram vários polícias e fiéis da denominada igreja "A Luz do Mundo", em Luanda, a associação angolana Mãos Livres anunciou que está a realizar uma "investigação independente" face às diferentes versões quanto aos acontecimentos e ao número de mortos.

A associação Mãos Livres, uma ONG de defesa dos direitos humanos, quer fazer um levantamento real de quantas pessoas morreram e em que circunstâncias, nos confrontos que tiveram lugar entre a polícia e os seguidores da seita do 7° dia “A Luz do Mundo”, no passado dia 16 de abril na Serra Sumé, na província angolana do Huambo.

Em entrevista à DW África, o advogado David Mendes, que lidera a investigação lançada pela associação Mãos Livres, falou das questões prévias que vão ser lançadas numa audiência já solicitada ao Procurador Provincial do Huambo.

Verurteilte Demonstranten in Benguela
David Mendes (primeiro à direita), lidera a investigação feita pela associação Mãos LivresFoto: DW / Sul d'Angola

“Queremos que nos seja garantido o acesso independente, sem qualquer coação para os locais, e que nos permitam que contactemos as pessoas de ambos os lados: tanto da parte da polícia como da parte do Governo, para que possamos então trabalhar sem quaisquer constrangimentos. E a partir daí também garantimos que não passaremos qualquer informação pública enquanto não concluirmos as investigações.”

“Onde houve mortes, não há como eliminar todas as provas”

Os incidentes ocorreram há mais de uma semana e por isso as provas no terreno já poderão ter sido removidas. Ainda assim, David Mendes acredita que um trabalho de investigação independente é possível.

“Acreditamos que haverá provas indiretas. Podemos não ter provas diretas, por várias razões, mas teremos as provas testemunhais. Onde morreram pessoas não há como se ocultar os cadáveres, não há como eliminar as testemunhas. Acreditamos que onde houve mortes, houve feridos e houve pessoas que fugiram, e essas pessoas poderão dar o seu testemunho acerca do que ocorreu", declarou o advogado.

Quando questionado acerca da presença no terreno de uma delegação Parlamentar da UNITA, que também realiza a sua investigação sobre os acontecimentos de 16 de abril, e sobre se isso não seria uma duplicação de trabalho e de esforços, o advogado das Mãos Livres afirmou que: “A investigação da UNITA é uma investigação política. Nós queremos fazer uma investigação neutra, sem qualquer posicionamento prévio, sem qualquer posicionamento político. Queremos uma investigação de factos. São os factos que nos poderão levar à verdade acerca do que se passou.”

Raul Danda
Raul Danda, líder parlamentar da UNITA, mostra-se indignado com a falta de colaboração de algumas entidades do Huambo.Foto: DW

A delegação Parlamentar da UNITA chegou na quinta-feira (23.04) ao Huambo, onde vai permanecer até domingo (26.04). Raúl Danda, o líder parlamentar do movimento do Galo Negro, falou com a DW África.

“Estamos perante informações bastante desencontradas. Nós recebemos informações públicas de que para além do número já conhecido de nove polícias, se falava também em 13 civis. Este número foi confirmado pelo Segundo Comandante Geral da Polícia. Por sua vez, o Secretário de Estado do Interior, Eugénio Laborinho, fala em 20 civis. Para um mesmo caso, não pode haver dois números diferentes: ou um deles é falso, ou são os dois. Por isso, estamos a iniciar contactos para apurar quantos civis terão realmente morrido. As informações que temos de diferentes fontes são que terá havido um verdadeiro massacre, e que terão morrido centenas de pessoas.”

UNITA ainda não conseguiu aceder ao local dos confrontos

Raúl Danda lamenta que a delegação ainda não tenha conseguido visitar a região onde se registaram os confrontos e as mortes: “A área continua a ter acesso limitado, pelo que temos tido dificuldade em obter acesso ao local, local esse que devia ter acesso facilitado. Queremos ir ver o sítio onde as coisas aconteceram, mas aquilo que nos dizem é que só estamos autorizados a ir visitar o local de acolhimento que foi feito, e onde estão a receber as pessoas que teriam saído da área deste líder religioso, mas não é isso que nós queremos. Já percebi que no local há sinais de que de facto terá havido este ataque contra a polícia.”

A DW África questionou Raúl Danda acerca do porquê de a sua delegação não se poder deslocar à Serra Sumé: “Há receios de que de facto tenha havido um verdadeiro massacre, e como os sinais não podem ser apagados da noite para o dia, está-se a impedir que as pessoas possam ir lá, inclusive nós, os deputados. Já tivemos até a informação de que com o anúncio da nossa vinda aqui para Huambo, estar-se-ia a fazer uma trasladação de corpos daquele local para um outro, justamente para impedir que esses corpos possam ser localizados. Só que uma coisa é certa, ninguém pode esconder centenas de corpos assim tão facilmente”, declarou o deputado.

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O líder parlamentar da UNITA mostrou-se indignado por até agora a delegação que chefia não ter conseguido realizar da melhor forma possível a sua missão, precisamente por falta de colaboração por parte de determinadas entidades da província.

“Está toda a gente a viajar para Luanda sem que haja aqui alguém para poder fazer seja o que for. Pensamos que talvez esta seja uma forma de dizer que quem tem o poder não está presente, e que quem ficou não tem poder de decisão nem capacidade para nos ajudar. Oxalá as nossas preocupações não sejam fundamentadas.”

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