Os confrontos deste sábado (14.09) na localidade de Birao, perto da fronteira com o Sudão, envolveram elementos de dois grupos diferentes que já tinham combatido no princípio do mês, fazendo 20 mortos.
"Um capacete azul da MINUSCA (Missão das Nações Unidas para a República Centro-africana) também ficou ferido sem gravidade", afirmou à agência de notícias France Presse o porta-voz da missão, Vladimir Monteiro.
A calma voltou a Birao e não se registaram novos confrontos, mas "a situação continua tensa", afirmou Vladimir Monteiro.
Os confrontos opuseram membros da Frente Popular para o Renascimento da República Centro-Africana e do Movimento dos Libertadores Centro-africanos pela Justiça. Vários responsáveis humanitários mostram-se preocupados com o regresso dos confrontos entre os dois movimentos rebeldes. Os dois grupos lutam pelo controlo da fronteira por onde entram armas provenientes do Sudão – bens valiosos desde o embargo às armas imposto pelas Nações Unidas em 2016.
A RCA, um dos países mais pobres do continente, é palco de uma guerra civil desde que a Seleka, uma coligação de grupos armados, derrubou o regime do Presidente François Bozizé, em 2013. A 6 de fevereiro deste ano, o Governo e 14 grupos armados assinaram um acordo de paz em Cartum, com vista a pôr fim aos confrontos entre rebeldes e forças leais ao Governo, mas também entre grupos armados rivais, que controlam 70% do território.
Desde este acordo, a violência diminuiu de forma considerável, mas continuam a registar-se confrontos esporádicos, como em Birao, e alguns grupos armados atacam civis em algumas zonas do país.
A relativa calma levou, na terça-feira, ao levantamento parcial do embargo de armas imposto pela Organização das Nações Unidas em 2016, depois de um voto unânime no Conselho de Segurança que permite apenas o fornecimento de armas de calibre igual ou inferior a 14,5 milímetros, excluindo armas pesadas.
Brigada da MINUSCA em Bangui, capital de RCA, em 2016.
Sanções e desconfiança
Entretanto, para os habitantes de Birao, a violência de sábado agrava ainda mais uma situação já preocupante. "A cidade está completamente vazia", diz um funcionário humanitário que pede o anonimato, em declarações à AFP. Mais de 13 mil pessoas tinham já abandonado a região no início de dezembro, segundo a MINUSCA.
A pequena cidade de Birao, localizada no extremo oposto de Bangui, está ligada ao resto do mundo por estradas intransitáveis durante a época das chuvas. Desde 5 de setembro, a MINUSCA estabeleceu uma ponte aérea para fornecer ajuda médica e alimentar.
A 23 de agosto, a missão da ONU ameaçou sancionar as violações do Acordo de Cartum. Na quarta-feira, o Governo centro-africano pediu a implementação destas sanções. "Deve haver um preço concreto a pagar por aqueles que se opõem ao processo de paz", disse o porta-voz do Governo, Ange-Maxime Kazagui.
"O acordo de paz mantém-se", insistiu.
No entanto, os confrontos em Birao podem minar ainda mais a confiança entre os grupos armados e o Governo. Dois líderes rebeldes demitiram-se do Governo de coligação previsto no acordo de Cartum nas últimas semanas.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Refúgio no aeroporto de Bangui
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Milícias cristãs e muçulmanas promovem amargos combates. Um milhão de pessoas estão em fuga. Quase todos os muçulmanos deixaram a capital, Bangui. Entre os que permaneceram, algumas centenas encontram abrigo num velho hangar do aeroporto.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Perder tudo
O marido de Jamal Ahmed tinha guardado dinheiro suficiente para a fuga de sua família, quando as milícias cristãs chamadas "Anti-Balaka" invadiram sua aldeia natal. As poucas economias não foram suficientes - ele pagou com a vida. Jamal Ahmed vive no acampamento que surgiu no aeroporto: "Não conheço ninguém aqui. Não tenho mais nada. Não sei como será daqui para a frente.”
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Ver os netos mais uma vez
Aos 84 anos, Fatu Abduleimann está entre os moradores de idade mais avançada do campo de refugiados do aeroporto. Nas últimas décadas, Fatu assistiu a muitas dificuldades em sua terra natal. Mas nunca foi tão ruim quanto agora, diz a idosa. Seu único consolo: a maioria dos seus filhos conseguiu fugir para o Chade. Seu maior desejo: "ver os meus netos mais uma vez."
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Quilómetro Cinco, uma cidade fantasma
Exceto o acampamento de refugiados no aeroporto, quase todos os muçulmanos deixaram a cidade. Há alguns meses, o chamado "Quilómetro Cinco" era um animado centro da comunidade muçulmana. Mais de 100.000 pessoas moravam e trabalhavam aqui, a cinco quilómetros do centro da capital, Bangui. Agora, restaram apenas algumas centenas de pessoas. As lojas estão fechadas até nova ordem.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Esperar o momento certo
Quase todos os muçulmanos que ainda restam no "Quilómetro Cinco" querem apenas uma coisa: sair daqui. Os caminhões para a fuga estão prontos. Eles esperam que um comboio tenha como destino os países vizinhos como os Camarões ou o Chade.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
A cidade de campos de refugiados
Não apenas os muçulmanos temem por suas vidas. Por toda a cidade de Bangui pode-se encontrar acampamentos provisórios em que a maioria da população, cristãos e animistas, procura proteção - por medo de um retorno das milícias islamistas ou simplesmente porque não têm o que comer - e espera por doações de alimentos.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Ajuda sobrecarregada
O Pastor David Bendima recebeu, na sua igreja, mais de 40 mil pessoas que fugiram dos combates no centro da cidade. Mas ele também não pode garantir-lhes segurança suficiente. "Todas as noites ouvimos tiros e granadas explodindo. As pessoas estão com muito medo", diz o pastor. Ele parece cansado.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Últimas reservas
Chancella Damzousse, de 16 anos, vive em uma aldeia a meia hora de distância de Bangui. Ela prepara o jantar. "Tudo o que resta são alguns grãos de feijão e um pouco de gergelim", diz a jovem. 15 pessoas terão que se satisfazer com a refeição. Desde que milícias muçulmanas destruíram o lugar há alguns meses e mataram muitos cristãos, a família de Chancella recebeu vários vizinhos.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Vítimas, autores, centinelas
Ao lado da casa de Chancella, há um guarda da milícia Anti-Balaka. Os amuletos em seu corpo o tornam invulnerável contra balas, explica ele. A milícia tomou o controle da região. Seu trabalho é proteger os moradores da aldeia do ataque de outros rebeldes. No entanto, a sua proteção aplica-se apenas aos cristãos - há muito tempo os muçulmanos deixaram o local ou foram mortos.
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Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Presença internacional
Sete mil soldados da União Africana e da França têm a responsabilidade de garantir a segurança no país dilacerado. A situação humanitária está piorando a cada dia, no entanto. Em 1 de abril, a União Europeia lançou oficialmente a sua operação militar na República Centro-Africana, com um contingente de até mil homens para reforçar as tropas francesas e africanas por um período de até seis meses.
Autoria: Adrian Kriesch/Jan-P. Scholz