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Zelenski convida Merkel para visitar Bucha

4 de abril de 2022

Presidente ucraniano pede que ex-líder alemã veja com os próprios olhos o que chamou de resultado de "política de concessões" feitas à Rússia nos últimos anos. Centenas de civis foram mortos em subúrbios de Kiev.

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Corpos de civis foram encontrados com mãos amarradas em Bucha
Corpos de civis foram encontrados com mãos amarradas em BuchaFoto: Vadim Ghirda/AP/picture alliance

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, convidou neste domingo (03/04) a ex-chanceler federal da Alemanha Angela Merkel e o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy para visitarem Bucha. Numa mensagem de vídeo, o líder ucraniano afirmou que as graves atrocidades cometidas por militares russos nos subúrbios de Kiev eram resultado da política adotada nos últimos anos em relação à Rússia

"Convido Merkel e Sarkozy para visitar Bucha e verem o que a política de concessões feitas à Rússia em 14 anos alcançou", afirmou Zelenski. "Eles verão com os próprios olhos os ucranianos torturados".

Zelenski criticou diretamente o que chamou de "recusa oculta" da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em aceitar a adesão da Ucrânia em 2008 por causa do "medo absurdo de certos líderes políticos em relação" a Moscou. Merkel comandou a Alemanha de 2005 a 2021. Sarkozy foi presidente da França entre 2007 e 2012.

Zelenski alegou que esses líderes "achavam que rejeitando a Ucrânia poderiam apaziguar a Rússia".  O presidente afirmou que, devido a "esse erro de cálculo", a Ucrânia vive um conflito que já dura oito anos no leste do país e agora enfrenta a "pior guerra na Europa desde a Segunda Guerra Mundial".

"Não culpamos o Ocidente. Não culpamos ninguém além dos militares russos e aqueles que lhes deram ordens", ressaltou Zelenski, no entanto. Ele acusou ainda Moscou de "genocídio" e os soldados russos de cometerem "atrocidades maciças" em Bucha.

O presidente anunciou a criação de um "mecanismo de justiça especial" para "investigar e processar" todos os crimes cometidos pela Rússia em território ucraniano. Esse trabalho será realizado por um grupo de especialistas nacionais e internacionais. "Este mecanismo irá ajudar a Ucrânia e o mundo a levar à justiça aqueles que iniciaram ou participaram de alguma forma nesta terrível guerra contra o povo ucraniano e crimes contra o nosso povo", explicou.

Após a declaração de Zelenski, Merkel defendeu a decisão de não aceitar a Ucrânia na Otan em 2008. Ela afirmou ainda estar ao lado de todos os esforços do governo alemão e da comunidade internacional para apoiar a Ucrânia e tentar acabar com a guerra iniciada pela invasão russa.

Massacre em Bucha

Com a retirada dos militares russos de regiões em torno de Kiev, cenas chocantes vão se revelando. Neste domingo, a procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, afirmou que 410 cadáveres de civis haviam sido encontrados em locais que estavam sob domínio de forças russas, alguns alvejados na cabeça e com as mãos atadas. O número total de mortos ainda é incerto.

Em Bucha, situada a noroeste da capital, numerosos cadáveres de civis e de soldados russos ladeavam as ruas. Jornalistas da agência de notícias francesa AFP contaram pelo menos 20 corpos em apenas uma rua.

Foto de satélite mostra aparente vala aberta ao lado de igreja em Bucha
Foto de satélite mostra aparente vala aberta ao lado de igreja em BuchaFoto: ©2022 Maxar Technologies/AFP

"Todos esses foram fuzilados", comentou o prefeito Anatoly Fedoruk, acrescentando que 300 residentes foram mortos neste um mês de ocupação russa, estando pelo menos 280 enterrados em valas comuns em diferentes pontos da cidade.

Repórteres da Reuters viram mãos e pés de vítimas despontando de uma vala ainda aberta no terreno de uma igreja. Seus colegas da Associated Press (AP) também registraram vítimas civis ao longo de uma estrada e no quintal de uma casa.

"Eles estavam simplesmente caminhando, e aí atiraram neles, sem razão", comentou um residente de Bucha, acusando as tropas russas em retirada dos homicídios indiscriminados.

Reação internacional

As imagens de Bucha se propagaram rapidamente pelas redes sociais, desencadeando indignação internacional. A secretária de Estado britânica para Relações Exteriores, Liz Truss, declarou-se horrorizada com as atrocidades e reforçou o apelo ao Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, para que investigue potenciais crimes de guerra na Ucrânia.

Moscou nega estar alvejando civis, descrevendo as imagens como uma "performance encenada", e rechaça toda alegação de crimes de guerra.

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, afirmou que militares russos haviam cometido "crimes de guerra" no subúrbio de Bucha, e que a Alemanha e países aliados iriam definir novas sanções contra Moscou nos próximos dias.

"O assassinato de civis é um crime de guerra, e devemos investigar de forma implacável esses crimes cometidos pelas Forças Armadas russas", afirmou Scholz em uma declaração na sede do governo alemão. "Nos próximos dias, iremos decidir com nossos aliados sobre as próximas medidas. O presidente [Vladimir] Putin e seus apoiadores sentirão as consequências."

O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu nesta segunda-feira a aplicação de mais sanções contra a Rússia. "É preciso enviar um sinal de que é a nossa dignidade coletiva e os nossos valores que estamos defendendo". Ele afirmou estar "extremamente chocado" com "as cenas insuportáveis" em Bucha.

"Há indícios muito claros de crimes de guerra". O presidente francês afirmou que o seu país vai ajudar as autoridades ucranianas na investigação.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, chamou as imagens de civis mortos na Ucrânia de "um soco no estômago". Ele afirmou que os Estados Unidos se unirão a seus aliados na documentação das atrocidades para responsabilizar os responsáveis.

CN (dpa, Lusa, AFP)