Transparência elogia esforços do Brasil contra a corrupção
25 de janeiro de 2017A Transparência Internacional elogiou os esforços de combate à corrupção no Brasil. Ao publicar nesta quarta-feira (24/01) seu Índice de Percepção da Corrupção, ranking produzido e divulgado anualmente, a entidade disse que "o país demonstrou neste ano que, através do trabalho de organismos independentes encarregados da aplicação da lei", é possível levar pessoas "antes consideradas intocáveis" a prestar contas à Justiça.
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A ONG reconhece, entretanto, que a pontuação do Brasil no ranking de percepção da corrupção "tem caído significativamente em comparação com cinco anos atrás, depois da revelação de sucessivos escândalos de corrupção envolvendo políticos e empresários de primeira linha".
No novo levantamento, o Brasil apresenta ligeira melhora de pontuação, com 40 pontos (dois pontos a mais que na pesquisa anterior), embora passe a ocupar a posição 79, ao lado de Belarus, China e Índia, de uma lista com 176 países. No ranking de 2015, o Brasil estava na posição 76, acompanhado de Bósnia e Herzegovina, Burkina Faso, Índia, Tailândia, Tunísia e Zâmbia. Em 2014, estava na posição 69, com 43 pontos. A margem de erro é de 4,3 pontos.
Surpresa
A leve melhora na pontuação deste ano surpreendeu até mesmo os especialistas da Transparência Internacional. "É uma surpresa porque o Brasil é um país que vinha caindo no índice e onde houve escândalos de corrupção nos últimos cinco anos. E neste ano, vemos que há uma pequena melhora", avalia em entrevista à DW, o diretor do departamento de pesquisa da Transparência Internacional, Finn Heinrich.
Ele considera que a população brasileira foi uma das responsáveis por isso. "O ano de 2016 realmente mostrou como brasileiros comuns foram às ruas, exigiram mudanças, fartos de corrupção", ressalta. "E também mostra como o Judiciário, as autoridades de aplicação da lei, estão levando a sério e começaram uma grande campanha para investigar a corrupção no nível mais alto", sublinha.
Neste ano, houve mais países descendo posições no ranking do que subindo. Das 176 nações que integram o Índice, 69% tiveram uma pontuação inferior a 50, em uma escala de 0 (percepção de altos níveis de corrupção) a 100 (percepção de muito pequenos níveis de corrupção). Segundo a Transparência Internacional, "isso deixa em evidência o caráter amplo e generalizado da corrupção no setor público a nível mundial".
"Os casos de corrupção em grande escala, desde Petrobras e Odebrecht, no Brasil, até o ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovitch, mostram como a colusão entre empresas e políticos tira de economias nacionais bilhões de dólares de arrecadação, desviados para beneficiar uns poucos, às custas da maioria", diz a Transparência Internacional, através de comunicado. "Este tipo de corrupção em grande escala e sistêmica redunda em violações dos direitos humanos, freia o desenvolvimento sustentável e favorece a exclusão social."
Governos não cumprem promessas
O novo índice de corrupção da Transparência Internacional confirma uma outra tendência que preocupa. Em todo o mundo, governos afirmam querer combater a corrupção, mas geralmente estas são palavras vazias. "Os governos sabem o que público e bancos querem ouvir, mas não transformam em ação as suas palavras", lamenta Heinrich, que avaliou, junto com sua equipe, os dados dos Índice de Percepção da Corrupção. O levantamento é realizado através de questionários respondidos por especialistas, instituições e think tanks de todo o mundo como, por exemplo, o Banco Mundial, a Fundação Bertelsmann ou a ONG internacional Freedom House.
Heinrich também salienta a relação entre desigualdade social e corrupção. Segundo ele, esta não é uma tendência observada apenas em países específicos, mas um fenômeno global. "Para mim, como pesquisador, a estreita relação entre a desigualdade e a corrupção foi surpreendente. Ambas andam juntas, e há um círculo vicioso, com mais corrupção e mais desigualdade."
Duas das melhores armas contra a corrupção são, segundo ele, uma opinião pública atenta e uma imprensa livre. Heinrich cita como caso exemplar os cidadãos brasileiros, que foram às ruas no ano passado para protestar contra a corrupção no país.