Fotografia
18 de agosto de 2009Thomas Struth e Rudolf Druschke formam uma dupla inusitada. O primeiro é um artista reconhecido internacionalmente e um importante fotógrafo alemão da atualidade. O segundo ganha sua vida com a venda da Fifty-Fifty, uma revista criada em Düsseldorf com o objetivo de garantir uma renda à população de desabrigados.
Druschke conheceu Struth há cinco anos, no início do projeto hoje denominado Desabrigados Fotografam Transeuntes. A ideia inicial era a de entregar aos sem-teto de Düsseldorf uma câmera fotográfica e pedir para que registrassem o universo pelo qual circulam, as ruas onde costumam ficar, bem como as pessoas que por ali passam.
Struth deu pessoalmente aulas aos participantes, cujos trabalhos estão expostos no Museu da Cidade de Düsseldorf (Stadtmuseum). "Ele é um perfeccionista absoluto. Eu poderia fazer uma foto atrás da outra, que ele ainda me pedia para tentar mais uma vez", conta Druschke ao comentar o trabalho com Struth.
Projeto bem-sucedido
O "ponto" de Druschke fica na região central de Düsseldorf, nas proximidades de uma loja de departamentos. Com seus cinquenta e tantos anos, um rosto tranquilo, olhos vivos e um sorriso acolhedor, o desabrigado é uma espécie de "tesouro local", que construiu um grupo assíduo de clientes na área. Esses procuram o desabrigado mais por sua forma de divulgar a revista que vende do que pelo conteúdo da própria.
"O Thomas Struth pareceu chocado com o fato de que eu tenha mesmo acabado nas ruas. Ele ficou me perguntando como isso tinha sido possível. Acho que aprendeu muito com o projeto e muito sobre as pessoas", conta Druschke.
A história do sem-teto Druschke é semelhante à de vários outros participantes do projeto conduzido por Struth: uma tragédia familiar leva ao alcoolismo, o vício faz com que a pessoa perca primeiro o emprego, depois então a casa, além de destruir a relação deste com mulher e filhos.
Encorajado pela amizade e pelo apoio de seus clientes, Druschke conseguiu, agora, dar a volta por cima. Encontrou uma nova namorada e está trabalhando no projeto de um livro – uma autobiografia e uma coletânea de histórias contadas pelas pessoas que encontrou na rua, conta o próprio. Um dia, espera ele, seus filhos irão ler este relato e compreendê-lo melhor.
Uma visão diferente
Outros dos desabrigados envolvidos no projeto de Struth não tiveram a mesma sorte. Vários deles, cujos trabalhos podem ser vistos na exposição do museu em Düsseldorf, morreram neste ínterim, em consequência do abuso de drogas e álcool. Para muitos outros, a vida na rua continua sendo uma luta diária pela sobrevivência.
A mostra Desabrigados Fotografam Transeuntes retrata a cidade através dos olhos daqueles que costumam parecer invisíveis para a maioria da população. Muitas vezes, os sem-teto mostraram, em suas fotografias, consumidores apressados andando pelas ruas da cidade, completamente alheios à presença do desabrigado munido de uma câmera fotográfica.
Outros registraram retratos afetuosos, sejam de uma mulher grávida que acaricia carinhosamente a barriga ou a transeunte que se aproxima de tal forma da câmera, causando a impressão de que seu rosto vai "saltar" do papel.
"A vida nas ruas é dura", conclui Druschke, "mas um rosto afável faz uma grande diferença".
Autora: Kate Laycock
Revisão: Simone Lopes