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Selo com navio russo que afundou é disputado por ucranianos

16 de abril de 2022

Navio que afundou na quinta-feira era o mesmo que figurava num selo lançado em março na Ucrânia como símbolo de resistência. Colecionadores têm enfrentado filas em agências postais para adquirir cópias.

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Selo que mostra o Moskva
Tiragem de selos foi lançada em março para celebrar militares de guarnição do Mar NegroFoto: Valentyn Ogirenko/REUTERS

Um selo postal que mostra a imagem de um soldado ucraniano mostrando o dedo médio em direção a um navio de guerra russo tornou-se um disputado item de colecionador para os habitantes da Ucrânia. Isso porque o selo é ilustrado com nada menos que a imagem do cruzador russo Moskva, que afundou na última quinta-feira (14/04) no Mar Negro, um episódio encarado como uma vitória ucraniana contra os invasores.

Na agência postal central da capital Kiev, centenas de ucranianos de todas as idades enferentaram filas por horas na sexta-feira para tenrar adquirir um dos selos, que fazem parte de uma tiragem inicial de um milhão de cópias.

"Aquele navio era o maior que eles tinham... Eles apostaram muito nele e nós o destruímos!" disse Yury Kolesan, de 22 anos, que esperou duas horas e meia para obter um conjunto de 30 selos. "É uma nova fase da guerra, uma de vitória!"

O selo também vem se provando um sucesso online. Após esgotar em muitas agências dos correios, exemplares tem aparecido para revenda em vários sites por preços que podem chegar a 100 euros (R$ 508).

"Queríamos imprimir mais, mas o bombardeio de ontem à noite em Kiev afetou o trabalho da fábrica e não conseguimos imprimir a quantidade necessária", declarou à agência AFP Igor Smelyansky, o diretor-geral da Ukrposhta, a empresa de correios do país.

O selo foi lançado na metade de março, com o objetivo de celebrar um grupo de soldados ucranianos de uma guarnição militar da Ilha das Serpentes, no Mar Negro, que se recusaram a se render para os russos nos primeiros dias do conflito.

Na ocasião, os soldados, cercados por navios russos, incluindo o Moskva, responderam aos ultimatos russos com insultos. "Navio russo, vá se f...*", disse um dos soldados por rádio.

Inicialmente, o governo ucraniano divulgou que os soldados teriam morrido após um ataque final dos russos, mas a informação foi posteriormente desmentida, com a confirmação que eles foram aprisionados pelos russos. Mais tarde, eles foram libertados em uma troca de prisioneiros com os russos. A troca incluiu o ucraniano Roman Grybov, que proferiu a frase. Ao voltar para casa, o militar foi condecorado pelo governo ucraniano.

A frase proferida pelo militar rapidamente virou um slogan na Ucrânia para levantar a moral da população diante dos ataques russos, tornando-se rapidamente um símbolo da resistência da Ucrânia.

Naufrágio

Já o Moskva, principal navio de guerra da frota russa baseada no Mar Negro, afundou na quinta-feira. Sua perda marcou um significativo revés para a capacidade de fogo da Rússia na região. Esse foi o maior navio de guerra perdido durante um conflito desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com a agência de notícias russa Tass, o Moskva entrou em serviço em 1983.

O prestígio do navio entre a frota russa era tão grande que em 2020 a Igreja Ortodoxa Russa, que tem laços estreitos com o Kremlin, encaminhou para o Moskva um suposto pedaço da "Vera Cruz", a cruz na qual Jesus Cristo foi crucificado. A relíquia consistia num pequeno pedaço de madeira -  na Idade Média, centenas de fragmentos similares passaram a ser exibidos em igrejas europeias, sem comprovação de que faziam realmente parte da Vera Cruz.

Moskva
Cruzador Moskva tinha 500 tripulantes. Não se sabe exatamente quantos foram resgatadosFoto: Alexey Pavlishak/REUTERS

Os motivos do naufrágio também se tornaram objeto de disputa de narrativas.. O governo russo afirmou que o navio sofreu uma explosão causada por um incêndio num comportamento que guardava munições. Inicialmente, a Rússia parece ter relutado em admitir a perda do navio, mas o Ministério da Defesa dopaís finalmente confirmou a informação na noite de quinta-feira, afirmando que o Moskva afundou após o incêndio por causa de uma "tempestade forte", enquanto era rebocado,.

O governo ucraniano, por sua vez, reivindicou para si o mérito pelo naufrágio, afirmando que o navio foi destruído após ser atingido por um ataque com mísseis.

Na sexta-feira, analistas militares dos EUA corroboraram a versão ucraniana ao apontarem que dois mísseis Netuno afundaram o navio. A reação de alguns comentaristas e políticos russos, que pediram retaliações contra a Ucrânia pela perda do navio, também indicam que o Moskva foi alvo de um ataque.

Neste sábado, o Ministério da Defesa da Rússia apresentou um vídeo que, segundo a pasta, mostra o encontro entre o chefe da marinha do país e tripulantes resgatados do cruzador Moskva. A embarcação tinha mais de 500 tripulantes.

Nas imagens, de cerca de 30 segundos, dezenas de homens vestidos com uniformes da marinha russa aparecem alinhados diante do chefe da força, Nikolai Yevmenov.

"O comandante em chefe da Marinha, o almirante Nikolai Yevmenov, e o comandante da frota no Mar Negro se reuniram com a tripulação do cruzador Moskva em Sevastopol", na Crimeia, declarou o ministério em um breve comunicado. O almirante "informou à tripulação do cruzador que os oficiais, aspirantes e marinheiros continuarão servindo à Marinha", acrescentou a instituição.

Estas foram as primeiras imagens divulgadas de supostos tripulantes do Moskva desde que a embarcação naufragou na última quinta-feira

 

jps (AFP, DW, ots)