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Entrevista com Cacau

12 de maio de 2010

Em entrevista à Deutsche Welle, o atacante da seleção alemã nascido no Brasil elogiou a forma como a Alemanha tem acolhido e integrado os estrangeiros. Para ele, será uma honra representar seu segundo país na Copa.

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Cacau marcou 13 gols na última BundesligaFoto: AP

Em 27 de março de 1981, quando Claudiomir Jerônimo Barreto nasceu, na cidade de Santo André, na Grande São Paulo, alguém até poderia imaginar que ele jogaria futebol, mas dificilmente que ele se tornaria alemão. Hoje, 29 anos depois, Cacau está na lista de pré-convocados por Joachim Löw e tem grandes chances de representar a Alemanha na Copa do Mundo de 2010. Dos 27 atletas já selecionados, apenas 23 vão disputar o torneio.

Em entrevista à Deutsche Welle, Cacau contou como se tornou um alemão, depois de dez anos jogando no país. O atacante fez também um prognóstico sobre o que a seleção pode fazer na África do Sul – um time que, com jogadores como Jerome Boateng, Marko Marin, Mesut Özil e Sami Khedira, mostra a pluralidade da Alemanha contemporânea.

NO FLASH DFB Nationalmannschaft Training
Cacau ao lado de Löw em treino da seleçãoFoto: picture-alliance / M.i.S.-Sportpressefoto

Imagino que você, como todo jogador, tenha sonhado sempre com a Copa do Mundo. Mas quando você era criança, o sonho era com outra camisa. Como é este sentimento, de estar tão perto da Copa pela seleção alemã?

É isso mesmo, todo mundo sonha em estar numa Copa. É claro que as minhas circunstâncias mudaram, já que vivo há mais de dez anos aqui e estou tendo agora a oportunidade de participar da Copa pela Alemanha. Estou muito feliz pela oportunidade que estão me dando e por ser parte deste time que vai para a África representar o país. Eu me sinto totalmente alemão no sentido de ir lá representar meu país.

E como foi esse processo? Como você, nascido e criado no Brasil, se tornou um alemão em dez anos?

Eu vim para cá em 2000, para jogar na quinta divisão da Alemanha, em Munique (por um clube chamado Türk Gücü), onde me destaquei. Dali eu fui para o Nurembergue, no segundo time. Jogávamos então na quarta divisão. Mas acabei subindo para o primeiro time, e joguei na Bundesliga, tendo a oportunidade de me destacar. Depois vim para Stuttgart, onde já estou há sete anos. Com todo o sucesso e as boas atuações, acabei me destacando no Campeonato Alemão. No ano passado, recebi a cidadania. Eu e minha esposa conversamos bastante e achamos que seria bom para nós, como família, dar aos nossos filhos essa oportunidade, caso no futuro eles queiram estudar na Alemanha ou viver aqui. Passando dois meses, recebi a notícia de que o treinador da seleção alemã (Joachim Löw) queria conversar comigo e perguntou se eu tinha vontade de jogar pela seleção alemã.

Fußballer Cacau in der Kirche Comunidade Cristã de Stuttgart
Cacau na Comunidade Cristã de StuttgartFoto: Comunidade Cristã de Stuttgart

E a vontade veio na hora ou foi preciso refletir?

Na verdade, foi todo um processo. Já se estava especulando e aí você já começa a pensar se vale a pena, se é isso mesmo que está no coração. Com o tempo, acabei vendo que era isso mesmo que eu queria. Eu me sinto em casa aqui na Alemanha, junto com a minha família e seria uma honra defender a seleção alemã.

Como é a relação do torcedor alemão com você?

Como vivo aqui na região de Stuttgart, recebo muito carinho do público, até por jogar no time da cidade. Em relação à seleção, também tive só experiências positivas, só tenho coisas boas para falar do relacionamento com a torcida. É muito especial o que eu tenho vivido.

Antes de você, outros dois jogadores nascidos e criados no Brasil também passaram pela seleção alemã (por exemplo, Paulo Rink e Kevin Kuranyi), mas você deve ser o primeiro a jogar uma Copa. Você acha que eles romperam uma barreira? Qual foi a importância do trabalho recente deles?

É difícil dizer qual o papel deles, não sei se há influência, já que diretoria e comissão técnica mudam muito. Fato é que a Alemanha é um país que tem trabalhado muito na integração dos estrangeiros que vieram de vários países e têm vivido e crescido aqui. A Alemanha tem dado oportunidade para essas pessoas, não só para os jogadores, mas para a população em geral. A Alemanha tem se tornado um país multicultural e é claro que isso reflete na seleção alemã. A gente tem descendentes de turcos, de tunisianos, de sérvios, de brasileiros… São várias culturas que se encontram. Acho que o que tem acontecido na seleção alemã é reflexo do que tem acontecido no país em geral.

Messut Özil
Boateng, Marin e Özil: descendentes de imigrantesFoto: AP

Como está a disputa pelo ataque? Foram seis pré-convocados e alguém pode ser cortado. Podolski e Klose são homens de confiança de Löw. Como você vê sua disputa contra Kiessling, Muller e Gomez?

É difícil dizer. Espero que eu tenha boas chances através de bons treinamentos e bons amistosos e que possa permanecer na seleção. Há pouco saiu na imprensa que o treinador teria falado que os seis atacantes irão para a Copa. Se isso se concretizar, será uma coisa muito especial que me deixará muito feliz.

O que você espera da Alemanha na Copa do Mundo?

Há várias outras seleções que têm muita qualidade. Inglaterra, Itália, França, Argentina, Espanha e Brasil estão entre os principais favoritos e a Alemanha está aí nesse bolo. Creio que, fazendo uma boa campanha e crescendo como grupo, algo que é o forte da seleção alemã, a gente tem grandes chances de chegar à final e ganhar o título.

E se a final for Brasil x Alemanha?

Seria um jogo muito emocionante em que eu defenderia 100% a seleção alemã e esperaria, é claro, uma vitória da seleção alemã.

Autor: Tadeu Meniconi
Revisão: Simone Lopes