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Segunda onda de covid-19 pode estar próxima

Gudrun Heise
28 de julho de 2020

A pandemia pegou a maioria dos países despreparados. Mas, desde o início, especialistas alertam que uma segunda rodada de contaminações pode ser tanto ou mais perigosa. Foi assim com a gripe espanhola.

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Bar em Nova York: reabertura precoce pode favorecer nova onda
Bar em Nova York: reabertura precoce pode favorecer nova ondaFoto: picture-alliance/AP/J. Nacion

Há meses virologistas já previam uma segunda onda de infecções por coronavírus. Eles afirmavam que, quanto mais liberais fossem as medidas de restrição, maior seria o risco de essa nova onda acontecer. Agora, parece que ela está chegando.

Em muitos países, como Espanha, Bélgica, França e Reino Unido, restrições de movimentação estão sendo novamente reimpostas, de modo a evitar que uma segunda onda de infecções chegue com força. A primeira pegou a maioria desprevenida.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o coronavírus talvez nunca mais desapareça. E adverte sobre as possíveis consequências de não se levar a sério as medidas de distanciamento e de se voltar aos padrões de comportamento de antes da pandemia.

Em muitos países, lojas e restaurantes foram reabertos. Na Austrália, o governo voltou a endurecer as restrições de movimentação após vários casos de infecção entre os frequentadores de bares.

O desejo de viajar também está em alta novamente no Hemisfério Norte, onde agora é verão e, em muitas partes, época de férias – outro motivo para o aumento das taxas de infecção. Muitas pessoas estão se movendo em uma pequena área, festas estão ocorrendo novamente, o risco de infecção está aumentando. Na Alemanha, houve um forte aumento do número de infecções no final de julho. O chamado número de reprodução "R"  também subiu novamente.

A taxa de reprodução "R”

O número de reprodução "R" indica quantas outras pessoas um infectado em média contamina. Este número ajuda a prever melhor as novas infecções. Por exemplo, se R for 3, significa que um infectado passará o vírus para outras três pessoas. Se a cifra de reprodução for 1, a taxa de infecção permanece praticamente a mesma.

Frequentadores celebram reabertura de pub em Londres
Frequentadores celebram reabertura de pub em LondresFoto: picture-alliance/empics/Y. Mok

Na Alemanha, este número de reprodução subiu para mais de 1 no final de julho. Isso poderia ser devido, entre outras coisas, aos turistas que mais uma vez se aglomeram sem se preocupar, ainda que a pandemia esteja longe de ter terminado.

Quando os números de infecção caem, é o primeiro êxito contra o vírus. Mas se tudo se transformar no oposto, e a taxa de reprodução aumentar, pode-se estar diante de uma segunda onda de infecção.

EUA e Brasil experimentaram recentemente os aumentos mais dramáticos nas taxas de infecção, seguidos por Índia e África do Sul. Somente no Brasil, mais de 2,4 milhões de pessoas já foram infectadas pelo vírus.

Gripe espanhola

Não há um padrão internacional uniforme para a definição do que seria uma segunda onda. Mesmo a OMS não tem diretrizes claras. O porta-voz da organização, Christian Lindmeier, escreveu em um e-mail para a DW: "O termo refere-se [apenas] a novos surtos que ocorreram após um declínio inicial. O mesmo se aplica a uma 'terceira' onda."

Já no início da pandemia, os virologistas alertavam para uma nova onda de infecções e apelavam à população para não ver a queda do número de infectados como uma licença para agir sem preocupação.

Os cientistas comparam o coronavírus com a gripe espanhola, que circulou no mundo inteiro de 1918 a 1920. De acordo com a OMS, a gripe de um século atrás matou entre 20 milhões e 50 milhões de pessoas em todo o mundo.

A pandemia de então progrediu em três ondas. A segunda onda foi muito pior do que a primeira e causou muito mais mortes. Entre as fases, o vírus sofreu uma mutação. E isso também pode acontecer com o coronavírus.

Mutações

Todo vírus pode sofrer mutações. Na melhor das hipóteses, um vírus torna-se mais fraco – ou seja, fica menos perigoso e mata menos. Para que isso aconteça, entretanto, muitas pessoas já teriam que ter desenvolvido uma imunidade ao coronavírus. Se este é o caso da covid-19, os pesquisadores ainda não sabem.

As pessoas desenvolvem imunidade contra a maioria dos vírus. Uma vez infectado, o corpo produz antígenos, e o infectado se torna imune. O vírus então deixar de ser perigoso para essa pessoa. Se isso também é verdade para o coronavírus, não está claro.

Um teste sorológico permite aos especialistas determinar se alguém desenvolveu anticorpos para o vírus. Esse teste não fornece, porém, nenhuma informação sobre se a pessoa é então também imune ao vírus e, em caso afirmativo, por quanto tempo. Os cientistas estão agora tentando responder a esta pergunta.

No auge da crise do coronavírus, se ouvia com frequência que somente a chamada imunidade de rebanho poderia conter a pandemia. A imunidade de rebanho ocorre quando uma alta porcentagem da população já está imune.

Então, o patógeno não pode mais se espalhar tão rapidamente – mas estima-se que entre 70% e 90% da população teriam que estar imune a um vírus para detê-lo dessa forma.

A revista The Lancet publicou recentemente um estudo que diz que a imunidade de rebanho não poderia ser alcançada contra o coronavírus. Os cientistas do madrilenho Instituto de Saúde Carlos 3º, do Ministério da Saúde espanhol e da Universidade de Harvard colaboraram com o estudo. É o maior estudo europeu de anticorpos até o momento, envolvendo 60 mil pessoas.

As pesquisas mostraram que apenas cerca de 5% de todos os espanhóis haviam formado anticorpos contra o coronavírus.

O vírus gosta do frio

Os vírus se sentem confortáveis em ambientes frios. Isso é demonstrado por vários exemplos, como o caso dos surtos de coronavírus em abatedouros de animais na Alemanha, onde as temperaturas são geralmente bastante baixas. Em contraste, eles não se espalham tão rapidamente no tempo quente como no frio.

Na estação quente, portanto, deve haver naturalmente menos infecções com vírus. Se estiver frio lá fora, as pessoas passam mais tempo dentro de casa. Entretanto, a troca de ar dentro de casa não é tão boa e intensa quanto fora. Isso significa que as partículas de aerossóis podem se espalhar mais facilmente pelo ar.

No início da pandemia, os especialistas acreditavam que o coronavírus se espalharia por gotículas ou pela superfície infectada por elas. Mas hoje sabe-se que o vírus também se espalha pelo ar.

Se estiver seco e frio lá fora, o vírus tem as condições ideais para se propagar. Os aerossóis permanecem no ar por muito mais tempo do que em dias quentes. O inverno ainda não começou no Hemisfério Norte.

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