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Secretária da Academia Sueca é destituída após escândalo

12 de abril de 2018

Sara Danius, que chefiava instituição que concede o Nobel de Literatura, deixou o cargo após crise gerada por acusações envolvendo o marido de um membro da academia.

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A ex-secretária da Academia Sueca, Sara Danius.Foto: Getty Images/AFP/J. Ekstomer

Sacudida por revelações de assédio sexual, a Academia Sueca, que concede todo ano o Prêmio Nobel de Literatura, destituiu seu secretária-permanente, Sara Danius, anunciou nesta quinta-feira (12/04) a instituição.

"A Academia quer que eu deixe meu cargo de secretária permanente", anunciou Sara Danius ao fim de uma reunião da instituição.

"Decidi também deixar meu assento, o de número 7. Esta decisão é imediatamente efetiva", acrescentou, dizendo que teria gostado de "continuar" na Academia.

A onda de denúncias generalizadas que vieram à tona com o movimento #metoo provocou em novembro a revelação de relações estreitas entre a Academia e "uma personalidade do mundo da cultura" de nacionalidade francesa acusada de estupros e agressões sexuais por acadêmicas, esposas de acadêmicos, suas filhas e outras mulheres.

Em novembro passado, o jornal Dagens Nyheter publicou os testemunhos de 18 mulheres que afirmavam ter sofrido violência ou assédio por parte dessa pessoa, marido de uma acadêmica sueca, a poetisa e dramaturga Katarina Frostenson.

A academia rompeu suas relações com o francês e pôs fim aos subsídios ao local de exposições que dirige em Estocolmo, frequentado pelas elites culturais.

Na quinta-feira passada, a Academia Sueca submeteu à votação a exclusão de Frostenson. Contudo, a maioria necessária de dois terços não foi alcançada, dando início a um novo capítulo da crise.

O que aconteceu?

No centro das discussões estão a escritora Katarina Frostenson e seu marido, o fotógrafo Jean-Claude Arnault. Ele é um dos nomes mais influentes na cena cultural da Suécia, também em decorrência de seu casamento com Frostenson, membro da Academia Sueca.

Devido a várias acusações, inclusive de corrupção, Frostenson deveria ter sido – mas não foi – excluída do órgão em uma reunião na última quinta-feira.

O caso motivou três membros a deixarem a academia. Agora, sem Danius, só 12 dos 18 assentos da Academia seguem ocupados.

Frostenson, que é membro da Academia Sueca desde 1992 e, portanto, tem poder de voto na concessão do Prêmio Nobel de Literatura, é alvo de uma série de acusações. Uma delas é a de que ela teria violado a regra de confidencialidade ao revelar ao marido os nomes dos futuros ganhadores do Nobel de Literatura.

Além disso, descobriu-se que ela era sócia do clube de arte comercial particular do marido. A instituição recebia regularmente apoio financeiro da Academia Sueca, permitindo assim que, na prática, a escritora de 65 anos decidisse sobre doações para si mesma.

No próprio clube, também teriam sido cometidos delitos, tal como a distribuição ilegal de bebidas alcoólicas e fraude fiscal. Um escritório de advocacia a serviço da Academia Sueca chegou a propor que o clube fosse formalmente denunciado.

De assédio sexual a estupro

E como se tudo isso não fosse o bastante para desacreditar a até então prestigiosa academia do Nobel de Literatura, em novembro do ano passado, bem em meio ao debate da campanha #MeToo, também vieram à tona acusações de assédio sexual.

Dezoito mulheres afirmaram ao jornal sueco Dagens Nyheter terem sido assediadas pelo marido de Frostenson – e em um caso, até com relato de estupro. Muitos dos abusos teriam ocorrido no centro cultural de Arnault, cofinanciado pela academia, mas também em apartamentos em Estocolmo e Paris, que foram disponibilizados a ele pela Academia Sueca.

Arnault teria usado suas ligações com a instituição para pressionar as vítimas, dentre as quais estariam aspirantes a escritoras e ex-funcionárias do clube de arte. Ele nega todas as acusações.

Como a Academia Sueca lida com o caso?

Depois do escândalo, a agora ex-secretária permanente da academia, Sara Danius, apontou um escritório de advocacia para investigar as alegações de obtenção de vantagens pessoais. A maioria das acusações contra Arnault, as quais perfazem um período de 21 anos, provou não ser passível de punição.

Já a questão de apropriação indevida de fundos continua sob investigação. Segundo a agência de notícias alemã DPA, conclusões são esperadas até o fim desta semana.

O que será da instituição?

Após a tentativa fracassada de excluir a escritora, três membros disseram ter abandonado seus assentos na academia, mas isso, na verdade, não é permitido de acordo com o estatuto da entidade. Quem é eleito para a academia adquire o status de membro vitalício e pode decidir apenas não participar das sessões.

É possível, porém, que isso mude em breve. Antes da demissão, Danius anunciou que a possibilidade de deixar um assento no futuro será revista. "Se um membro quiser deixar a academia, isso deveria ser possível."

JPS/afp

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