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Refugiadas na mira de traficantes na Alemanha

11 de março de 2022

Polícia alemã alerta contra homens que tentam se aproveitar da situação desesperadora de mulheres ucranianas que fogem da guerra. Perigo da prostituição forçada é real, no país considerado "bordel da Europa".

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Plataforma de estação de trem cheia de viajantes
Chegada em Berlim: 109 mil já buscaram refúgio na Alemanha, escapando da invasão russaFoto: Nikita Jolkver/DW

Lá está o homem de 55 anos que oferece carona até Hamburgo a mulheres especialmente jovens da Ucrânia, e já é conhecido da polícia por assédio sexual. E aquele de 29 anos com seu amigo 21 anos mais velho, que abordam especificamente mulheres viajando sozinhas ou com crianças. E tem aqueles dois, de 50 e 53 anos, que, no setor de primeiro atendimento aos refugiados, oferecem dinheiro às jovens que quiserem ir para casa com eles.

"Infelizmente há gente que quer se aproveitar do desespero e da necessidade dos refugiados que chegam", comenta um porta-voz da Polícia Federal na estação ferroviária central de Berlim. "Eles agem de modo tão suspeito, que chamam a atenção tanto dos voluntários quanto dos nossos próprios agentes. Temos umas poucas dezenas desses casos, mas até agora nenhum delito, quer dizer, que uma dessas tentativas tenha tido sucesso."

No momento uma gigantesca onda de solidariedade e prestimosidade com os refugiados da Ucrânia varre a Alemanha. No entanto, diante dos mais de 109 mil que, até agora, buscaram no país refúgio da guerra de agressão russa, traficantes de pessoas e outros predadores também farejam uma boa chance. O caos diário da estação lhes oferece condições quase perfeitas para fazer caça às mulheres.

"Acabamos de atender uma ucraniana, totalmente fora de si, a quem aconteceu justamente isso. Também já tivemos que expulsar alguns por esse motivo. Então, no momento temos um número enorme de cidadãos que querem honestamente ajudar, e do outro, gente que quer se aproveitar dessa situação de confusão", diz o porta-voz da Polícia Federal.

Refugiados e voluntários em torno de bancada com gêneros alimentícios
Caos na central ferroviária de Berlim oferece condições quase perfeita para predadoresFoto: Jörg Carstensen/picture alliance

Conselhos úteis para recém-chegadas

Voluntários contam que tiveram que seguir presumíveis traficantes até eles deixarem as mulheres em paz. A polícia reagiu, postando advertências nas mídias sociais, em alemão, ucraniano, russo e inglês. Nas reuniões matutinas na estação central com a equipe de ajudantes, eles agora são também sensibilizados para a temática. Mas isso bastará para proteger as mulheres e jovens ucranianas recém-chegadas?

"Seria melhor que quem acolhe uma mulher ou família ucraniana tivesse que se cadastrar", sugere a pedagoga social Monika Cissek-Evans. "Infelizmente aqui tem também gente que tenta explorar outros que são de fora. E não são só homens que abordam os refugiados: também não se deve confiar cegamente nas mulheres."

Mais de 20 anos atrás, Cissek-Evans criou em Munique a central de aconselhamento Jadwiga, para vítimas de tráfico humano. Não é por acaso que a organização leva um nome feminino polonês (Hedwig, em alemão): as mulheres do Leste Europeu são as vítimas preferenciais dos criminosos na Alemanha. No momento, a ativista e sua equipe estão elaborando um panfleto em ucraniano para ser distribuído nas estações de trens.

"Ele contém informações como: não entregue seu passaporte a ninguém; mantenha seu telefone sempre consigo; fotografe a placa antes de entrar no carro; peça para ver um documento de identidade se lhe oferecem um apartamento ou quarto; anote o nome e endereço; tenha cuidado se alguém de repente lhe prometer muito dinheiro."

Ex-profissional do sexo, ativista e autora alemã Huschke Mau
Ex-profissional do sexo Huschke Mau é a favor do fim da prostituiçãoFoto: Michael Philipp Bader

Alemanha, "bordel da Europa"

Poucas são capazes de explicar tão bem como Huschke Mau como é fácil alguém cair na prostituição forçada. Tendo trabalhado dez anos como profissional do sexo, a ativista que se apresenta sob pseudônimo agora escreveu um livro autobiográfico, cujo título é programático para sua luta pessoal: Entmenschlicht – Warum wir Prostitution abschaffen müssen (Desumanizada – por que precisamos acabar com a prostituição).

"A cada dia, 1,2 milhão de homens procuram uma prostituta. A Alemanha é o país de destinação número um para o tráfico humano, em toda a União Europeia. Nós somos o bordel da Europa, nós devíamos nos envergonhar. E como o mercado e a demanda são tão grandes, os traficantes e cafetões abordam as ucranianas já na plataforma de trem, porque sabem que as refugiadas podem lhe render muito dinheiro."

No Twitter e nos assim chamados "fóruns de clientes", já circulam declarações públicas de alemães sobre as novas "putas ucranianas" nos bordéis preferidos deles, assim como fantasias de estupro de "escravas sexuais". Huschke Mau teme que, depois das pavorosas vivências da guerra, o próximo trauma já esteja à espreita na Alemanha, para muitas mulheres e adolescentes que viajam sozinhas.

"Uma voluntária me contou que uma ucraniana sequer tinha coragem de beber alguma coisa na plataforma da estação, de medo de lhe darem um entorpecente e ela ir parar num bordel. Logo vamos ver como eles vão estar cheios de ucranianas, e isso é uma vergonha. Muita gente quer simplesmente ser prestativa, mas quando uma ucraniana chega aqui, ela deve ver, atrás de cada homem, primeiro um predador", avalia a ativista.