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Radicalismo nas fileiras militares

(am)7 de novembro de 2003

Um dos generais das Forças Armadas alemãs foi demitido do posto pelo apoio a declarações anti-semíticas de um político. A posição do general é caso isolado ou existem mais anti-semitas nas Forças Armadas?

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Ideologia de direita entre os integrantes da Bundeswehr?Foto: ap

Segundo o ministro alemão da Defesa, Peter Struck, o general Reinhard Günzel não foi despedido com honras e sim "posto para fora". Günzel era o comandante da Unidade de Forças Especiais (KSK), tropa de elite das Forças Armadas alemãs. Ou seja, tinha um posto importantíssimo dentro da Bundeswehr.

O motivo para a reforma compulsória foi uma carta pessoal de Reinhard Günzel ao político Martin Hohmann, da União Democrata Cristã (CDU). Nela, o general elogiou explicitamente as declarações anti-semíticas de Hohmann. Para Peter Struck, o posicionamento de Günzel foi "inaceitável". Com as suas opiniões "absurdas" e "desnorteadas", ele teria causado danos graves à República Federal da Alemanha e à Bundeswehr, segundo o ministro.

Questão não é inédita

O caso de Günzel levantou algumas questões por parte dos políticos e da população alemã: Até que ponto opiniões como as do general demitido são disseminadas dentro das Forças Armadas alemãs? E como é que alguém com tais posições pôde fazer carreira dentro da Bundeswehr? Estas são perguntas que não surgem pela primeira vez.

A opinião pública alemã ocupou-se do assunto, pela última vez, há cerca de seis anos. Na época, descobriu-se uma gravação de vídeo feita num quartel da Bundeswehr, em que soldados alemães encenaram atos de violência, acompanhados por lemas neonazistas e canções dos radicais de direita.

Renitente e intratável

O próprio Reinhard Günzel não era nenhum desconhecido, no que se refere a seu posicionamento. Era tido como renitente e intratável. Quando dava entrevistas ou era citado pela imprensa, "sempre havia problemas", conforme se afirma nas fileiras da Bundeswehr.

Apesar de toda a relevância política do caso, o general é um caso isolado dentro das Forças Armadas, afirma contudo o coronel Bernhard Gertz. É inadmissível que seja tomado tal exemplo para afirmar a existência de ampla tendência de radicalismo de direita na Bundeswehr, diz Gertz.

Ocorrências extraordinárias

A Bundeswehr está firmemente ancorada no sistema democrático da Alemanha, afirmou também em entrevista à DW-WORLD o encarregado da Defesa no Parlamento alemão, Wilfried Penner. Apesar disto, Penner recebeu em 2002 um total de 111 denúncias de "ocorrências extraordinárias" nas Forças Armadas, contendo suspeitas de radicalismo de direita ou xenofobia. No corrente ano, ele conta até mesmo com um aumento do número de tais denúncias.

O social-democrata Wilfried Penner ressalta, porém, que tais denúncias referem-se quase exclusivamente a delitos de propaganda. Por exemplo, o escandir de lemas direitistas ou a descoberta de pichações políticas nos banheiros. Com um total de 280 mil soldados na Bundeswehr, as ocorrências constituem um número relativamente pequeno e são praticamente inevitáveis, afirma Penner. Além disto, cerca de dois terços dos casos apurados envolvem exclusivamente recrutas ou soldados rasos. Somente em 1,5% dos casos houve participação de oficiais.

Organização fascinante

"As Forças Armadas alemãs são uma instituição democrática, mas isto não impede que elas despertem um interesse especial nos extremistas de direita", diz Wilfried Penner. "A rígida organização da Bundeswehr é fascinante para pessoas com tais convicções políticas." O uso de farda e o porte de arma exercem uma atração especial para elas.

Isto não ocorre, contudo, apenas na Alemanha, mas também em outros países. A Bundeswehr tem conhecimento disto, segundo Penner, e tomou as providências necessárias para combater tal tendência – através de observação permanente e do controle parlamentar. E o caso de Günzel demonstra que este controle é eficaz.