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PolíticaColômbia

Quem é Francia Márquez, primeira vice negra da Colômbia

20 de junho de 2022

Ex-empregada doméstica, advogada e ativista dos direitos humanos, ela tornou-se um fenômeno político e símbolo das comunidades marginalizadas de seu país. Críticos apontam sua falta de experiência em cargos públicos.

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Francia Márquez
Márquez promete um governo dos "ninguéns" que fará da Colômbia um país onde se "vive gostoso"Foto: Fernando Vergara/AP Photo/picture alliance

Ativista do meio ambiente e dos direitos humanos, a advogada Francia Márquez tornou-se neste domingo (20/06) a primeira vice-presidente negra eleita da Colômbia, um país historicamente governado por elites masculinas e brancas, após uma campanha em que se destacou como fenômeno eleitoral capaz de cativar dezenas de milhares de cidadãos moradores de periferias que anseiam por mudanças.

Ao lado do senador e ex-guerrilheiro Gustavo Petro, ela venceu o segundo turno da eleição presidencial e a partir de 7 de agosto fará parte do primeiro governo de esquerda da Colômbia.

Nascida em uma família pobre em Suárez, cidade do conturbado departamento de Cauca, no sudoeste colombiano, ela ocupará aos 40 anos seu primeiro cargo público.

"Avançamos em um passo muito importante. Depois de 214 anos, conseguimos um governo do povo, um governo popular, o governo do povo com as mãos calejadas, o governo do povo comum, o governo dos ninguéns da Colômbia", disse Márquez em seu primeiro discurso após a vitória, diante de uma multidão de apoiadores em um centro de eventos em Bogotá.

"Viver gostoso"

Vestida com trajes coloridos e com uma oratória afiada, Márquez cativou parte do eleitorado, especialmente os jovens, com sua promessa de fazer da Colômbia um país para se "viver gostoso".

A ambientalista lutou por muito tempo contra a exploração ilegal de ouro em Cauca, região marcada pela violência, e foi repetidamente ameaçada de morte. Seu engajamento rendeu-lhe em 2018 o renomado prêmio Goldman, considerado o Nobel do meio ambiente.

Apesar de quase 10% dos 50 milhões de colombianos reconhecerem-se negros, a população negra do país vive à margem da política, mergulhada na pobreza e cercada pela violência.

Em meio à guerra suja da campanha presidencial, Márquez tornou-se alvo de uma fúria racista e classista alimentada por redes sociais. Várias personalidades locais lançaram ataques contra ela relacionados à sua cor de pele e origem pobre. Desde abril, ela recebeu mais de mil comentários e mensagens racistas, segundo o Observatório de Discriminação Racial da Universidad de Los Andes.

Mãe solteira e empregada doméstica

Márquez foi mãe solteira aos 16 anos. Em 2014, teve que fugir da região em que vivia por causa de ameaças, trabalhou como empregada doméstica para sobreviver e estudou direito antes de entrar na política.

Em 2019, sofreu um atentado junto com outros ativistas, perpetrado com granadas e rajadas de fuzil, por defender a água de sua comunidade, em uma região onde grupos armados impõem suas regras, financiados pelo narcotráfico e pela mineração ilegal.

"Os ninguéns, aqueles de nós que não são reconhecidos por nossa humanidade, aqueles que não são reconhecidos por nossos direitos neste país, levantam-se para mudar a história, para ocupar a política", afirmou em entrevista à agência de notícias AFP em março, cercada por guarda-costas.

Fenômeno político

Márquez ficou conhecida na campanha com um discurso feminista, ambientalista e esquerdista. Tornou-se um símbolo de comunidades tradicionalmente marginalizadas e abriu uma janela de esperança por representação e mudança.

No entanto, esse elemento de novidade no cenário político também rendeu críticas por sua inexperiência, já que muitos de seus adversários consideram que ela não tem experiência para assumir o cargo. Além da Vice-Presidência, Márquez também deverá comandar o Ministério da Igualdade que o presidente eleito pretende criar.

"Muitos dizem que não tenho experiência para acompanhar Gustavo Petro para governar este país e me pergunto por que a experiência deles não nos permitiu viver com dignidade? Por que a experiência deles nos manteve durante tantos anos submetidos à violência que gerou mais de oito milhões de vítimas? Por que a experiência deles não permitiu que todos os colombianos vivessem em paz?", disse no mês passado, no encerramento da campanha do primeiro turno.

md/bl (AFP, EFE)