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Protestos não são ameaça ao setor financeiro de Hong Kong

Hang Shuen Lee (msb)2 de outubro de 2014

Especialista avalia que setor financeiro não será afetado no curto prazo, mas instabilidade política pode prejudicar competitividade e o apelo da cidade no longo prazo.

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Foto: picture-alliance/dpa/JEROME FAVRE

Protestos exigindo sufrágio universal vêm tomando as ruas de Hong Kong há dias. Os manifestantes, a maioria estudantes, defendem o direito democrático de escolher livremente seus próprios governantes nas eleições de 2017 – e não se contentarem com aqueles pré-selecionados por Pequim.

Mas nem todo mundo nesse centro financeiro asiático apoia a ideia. Muitas pessoas se opõem ao movimento pró-democracia e acusam os manifestantes de perturbar a ordem e as atividades financeiras na cidade. Mas até que ponto os protestos podem de fato afetar a economia dessa região administrativa especial?

"O movimento não vai afetar o setor financeiro da cidade em curto prazo", avalia Ricky Tam, presidente e fundador do Instituto de Investidores de Hong Kong. "Os aluguéis na área central de Hong Kong – alvo do movimento Occupy Central – já subiram muito nos últimos cinco, seis anos, forçando muitas empresas a transferir seus negócios para outras áreas", diz.

Bildergalerie Proteste in Hongkong 02.10.2014
Manifestantes resistem nas ruas exigindo sufrágio universal e a saída do chefe do ExecutivoFoto: Reuters/Carlos Barria

Ele destaca ainda que o movimento não apareceu de repente, e que as instituições financeiras tiveram tempo suficiente para definir planos de adaptação.

No entanto, ainda que o impacto não seja drástico em curto prazo, a instabilidade política pode prejudicar a competitividade e o apelo de Hong Kong no longo prazo. "Pode ser que empresas que planejavam montar seus escritórios em Hong Kong busquem outras alternativas, como Cingapura", avalia o especialista. "A agitação política está atrapalhando o funcionamento do governo."

Mais do que o impacto econômico, o que preocupa a administração local é a repercussão política dos protestos. "Acho que o movimento deve motivar até mesmo aqueles que até agora não se preocupavam com política", diz Shiu Ka-chun, professor da Universidade Batista de Hong Kong. A "desobediência civil" poderia servir para esclarecer os cidadãos, que deixariam de aceitar uma "falsa democracia", considera.

Um dos criadores do Occupy Central, Shiu acredita que o êxito de uma cidade não deve ser medido apenas por seu Produto Interno Bruto (PIB). "Competitividade não é a única coisa importante numa sociedade. Também temos que levar em consideração o bem-estar e a felicidade dos cidadãos", diz o ativista, ressaltando que pobres, estudantes e minorias nunca tiveram chance de desempenhar um papel nas questões envolvendo a cidade.

Shiu ainda critica o governo por gastar dinheiro público de maneira insensata, esbanjando milhões em esquemas inúteis, segundo ele. "Na atual administração, a competitividade de Hong Kong não está à altura do mercado há muitos anos."

Pouca chance de mudança

Ainda é imprevisível saber se os protestos vão mudar o futuro de Hong Kong. A secretária-chefe Carrie Lam, a "número 2" do governo de Hong Kong, afirmou na última segunda-feira que o governo vai adiar futuras discussões sobre reformas políticas, mas ressaltou que não é realista pensar que Pequim vai reverter sua decisão de analisar candidatos.

Shiu concorda que o governo em Pequim não está disposto a ceder, mas faz uma observação: "Provavelmente não poderemos mudar a decisão do governo chinês, mas Pequim não pode mudar nossa decisão de lutar por real democracia."