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PolíticaLíbano

Premiê do Líbano anuncia renúncia do governo

10 de agosto de 2020

Hassan Diab deixa o cargo seis dias após megaexplosão em Beirute, que acirrou ainda mais as tensões já inflamadas no país em crise. Ao menos um terço de seu gabinete pediu demissão nos últimos dias.

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Hassan Diab, primeiro-ministro do Líbano
Foto: Reuters/M. Azakir

O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou nesta segunda-feira (10/08) a renúncia de seu governo, em meio à crise acirrada no país pela megaexplosão que atingiu a capital, Beirute, há quase uma semana. Nos últimos dias, um terço de seu gabinete já havia pedido demissão.

A detonação de mais de 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas no porto de Beirute matou ao menos 163 pessoas e deixou mais de 6 mil feridos, destruindo parte da cidade.

Em um breve discurso transmitido ao vivo pelas emissoras do país, Diab disse ter chegado à conclusão de que a corrupção no Líbano é "maior do que o Estado". A decisão de renunciar foi tomada com o objetivo de "dar um passo atrás" para que ele possa "lutar na batalha por mudanças" ao lado da população, afirmou o premiê.

"Declaro hoje a renúncia deste governo. Que Deus proteja o Líbano", afirmou, repetindo três vezes a última frase. A decisão poderá abrir caminho para pôr fim ao impasse sobre a nova composição do governo, em meio a pedidos urgentes de reformas no país.

Protestos em massa vêm ocorrendo no país desde outubro do ano passado, com os manifestantes acusando o governo de corrupção, incompetência e negligência. Mas a oligarquia que governa o Líbano desde o fim da guerra civil em 1990 acabou se mantendo por um tempo prolongado no poder, ao ponto de dificultar a tarefa de encontrar uma liderança política confiável que não seja manchada pela associação com os atuais governantes.  

Diab culpou políticos corruptos que o antecederam no governo pelo "terremoto" que sacudiu o Líbano. "Eles deveriam estar envergonhados de si mesmos, porque foi sua corrupção que levou ao desastre que esteve oculto durante anos", afirmou.

"Descobri que a corrupção é maior do que o Estado e que o Estado está paralisado pelo grupo dominante, e não há como confrontá-lo ou nos livrarmos deles." Antes de assumir o cargo, Diab era professor na Universidade Americana do Líbano.

Com o aumento da pressão nos últimos dias, o primeiro-ministro vinha evitando renunciar e chegou a propor permanecer no cargo por mais dois meses, de modo a permitir que os vários grupos políticos do país chegassem a um acordo sobre as reformas.

O governo de Diab foi formado após a renúncia de seu antecessor, Saad Hariri, em outubro passado, em reação aos protestos em massa. Foram meses de negociações até as lideranças concordarem na nomeação de Diab como chefe de governo.

Seu governo, que tinha o apoio do grupo islâmico Hisbolá e seus aliados e era visto como parcial, recebeu a incumbência de atender às demandas por reformas, mas era composto pelos mesmos grupos que os defensores dessas reformas queriam ver longe do poder.
 
No último sábado, manifestantes invadiram os ministérios do Exterior, da Energia e da Economia, sendo depois retirados pelo Exército. Segundo a Cruz Vermelha libanesa,130 pessoas ficaram feridas nos confrontos entre a polícia e os manifestantes, e 28 foram hospitalizadas. Um policial morreu.
 
A situação continuava tensa neste domingo, quando os manifestantes tentaram se aproximar da sede do Parlamento. Centenas de pessoas com os rostos cobertos com as cores da bandeira libanesa atiraram pedras contra as barricadas erguidas pela polícia, que reagiu com bombas de gás lacrimogêneo.

Mais tarde nesta segunda-feira, o presidente do Líbano, Michel Aoun, aceitou a renúncia de Diab e disse que permanecerá como líder de um governo interino até a formação de um novo gabinete.

Investigações sobre a tragédia

A última medida tomada pelo governo de Diab antes da renúncia foi encaminhar o inquérito sobre a explosão no porto de Beirute para o Supremo Conselho Judicial, a mais alta instância jurídica do país, que lida com as violações à segurança nacional e crimes políticos e de Estado.

Os juízes interrogaram líderes das agências de segurança libanesas. Segundo a apuração, o Departamento de Segurança de Estado havia finalizado no dia 20 de julho um relatório alertando sobre os perigos do armazenamento de nitrato de amônio no porto da capital. As investigações têm como objetivo descobrir como esse material foi parar no local e por que nenhuma medida foi tomada sobre a questão.

Em torno de 20 pessoas foram presas após a tragédia, incluindo o chefe da alfândega, seu antecessor no cargo e o administrador do porto. Segundo fontes do governo, dezenas de pessoas foram interrogadas, incluindo dois ex-ministros.

Neste domingo, líderes mundiais se comprometeram a enviar milhões de euros em ajuda para o Líbano. Uma conferência online de doadores organizada pelo governo da França juntamente com as Nações Unidas reuniu representantes de 36 países e organizações internacionais.

Os doadores prometeram financiar a ajuda de emergência, com foco principal no apoio médico e aos hospitais, escolas, alimentação e habitação. Segundo a França, mais de 252 milhões de euros (1,6 bilhão de reais) foram arrecadados.

"Os participantes concordaram que a assistência deve ser coordenada sob a égide das Nações Unidas e fornecida diretamente à população libanesa, com o máximo de eficácia e transparência", afirma a declaração final da reunião, que também contou com representantes da União Europeia (UE), Liga Árabe, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI).

RC/ap/rtr

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