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Política russa para a Síria abala relações entre Moscou e países ocidentais

11 de julho de 2012

Para especialistas, Rússia quer evitar que o Ocidente determine sozinho o destino da Síria e, ao mesmo tempo, firmar posição e garantir influência no cenário político internacional.

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Foto: AP

Hoje em dia, já é quase um ritual: todas as vezes que o governo russo critica o presidente sírio Bashar al-Assad, mídia e políticos ocidentais celebram com manchetes como "a Rússia está se movimentando". Mas Moscou acaba sempre desmentindo o que foi dito, afirmando que "nossa posição não mudou". A frase foi repetida diversas vezes pelo ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, nos últimos meses.

Nesta quarta-feira (11/07), Lavrov reúne-se com representantes da oposição síria em Moscou, num encontro que suscita novamente esperanças de que seja encontrada uma solução para a guerra civil que assola o país. Mas será que a Rússia irá mudar sua posição e, por fim, aprovar uma resolução mais severa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como exigem a oposição síria e os países ocidentais?

"Para a Rússia, o que importa não é apenas a Síria"

A atual postura da Rússia frente à questão pode ser resumida numa frase: "Tirem as mãos da Síria". Moscou não quer que o destino de seu parceiro no Oriente Médio seja decidido por potências externas, diz Ernst-Jörg von Studnitz, ex-embaixador alemão em Moscou e presidente do Fórum Teuto-Russo, em entrevista à DW.

Der russische Außenminister Sergei Lawrow
Ministro russo do Exterior, Serguei LavrovFoto: picture-alliance/dpa

O especialista compara a divergência entre Moscou e o Ocidente com a ação da Otan na Guerra da Iugoslávia, em 1999. Como naquele momento, a Rússia agora quer evitar "que o Ocidente, sobretudo sob a liderança norte-americana, mas também europeia, determine sozinho os rumos da Síria". Este é, segundo Von Studnitz, o principal motivo da resistência russa.

Margarete Klein, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP, na sigla em alemão), vê a situação de maneira semelhante: "Para os russos não se trata tanto de defender seus próprios interesses econômicos ou militares" no país. Há, segundo ela, muito mais coisa em jogo. "Trata-se de princípios da ordem internacional que a Rússia quer firmar, principalmente o 'não' a uma intervenção de fora", diz a especialista.

Fiodor Lukianov, editor-chefe da revista moscovita Rússia na política global, acentua em entrevista à DW: "Não se trata de proteger a Síria". Segundo ele, a política russa para o país tem muito mais a ver com a posição da Rússia no mundo e com a sua influência na política internacional.

Resfriamento, mas sem Guerra Fria

Os especialistas são unânimes na afirmação de que a perpetuação do conflito na Síria contribui para um resfriamento das relações entre a Rússia e o Ocidente. O caso da Síria é "um fator agravante. Mas não acredito que seja o ponto decisivo que irá determinar as relações entre a Rússia e o Ocidente no futuro", aponta Klein.

Der russische Flottenstützpunkts in Tartus
Ponto de apoio militar russo na SíriaFoto: picture-alliance/dpa

Lukianov não vê sentido em tentar comparar o atual conflito na Síria com a Guerra Fria. Para Von Studnitz, há no momento apenas "dificuldades" entre Moscou e o Ocidente, em função do conflito na Síria. No entanto, tanto a Rússia quanto a China e os países ocidentais estão cientes de que a guerra civil no país tem que ser encerrada. "Diverge-se sobre a maneira de encerrá-la", analisa Von Studnitz.

"Possibilidade de movimentação com relação à Síria"

Nenhum dos especialistas acredita que a Rússia vá, de fato, mudar sua posição frente à Síria no curto prazo, embora isso não seja de todo impossível. Tanto o ex-diplomata Von Studnitz quanto o jornalista Kukianov acreditam que o destino do presidente sírio Assad seja um dos pontos cruciais desta questão.

Assad Syrien Porträt Interview
Destino de Assad não está definidoFoto: Reuters

"Se for possível fazer com que Assad renuncie, mas tenha sua vida, família e certo patrimônio assegurados, é possível que haja movimento na questão da Síria", analisa Von Studnitz. A Rússia poderia, neste caso, segundo ele, dar um impulso.

"Assad vai se despedir mais cedo ou mais tarde", diz Lukianov, ao cogitar até mesmo que o presidente sírio venha a receber asilo político da Rússia. "Esta seria uma boa solução para todos", completa. No entanto, o ministro do Exterior Lavrov definiu tal possibilidade como "uma piada" durante conversa recente com seu colega de pasta alemão, Guido Westerwelle, em Moscou.

Autor: Roman Goncharenko (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer