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Partidos alemães lucram com lobby

Estelina Farias23 de julho de 2002

O escândalo que provocou a demissão do ministro da Defesa da Alemanha, Rudolf Scharping, na semana passada, serviu para mostrar o lobby nas entranhas do poder.

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Hunzinger vende contatos entre empresários, políticos e a mídia. Sua agência faturou 24 milhões de euros em 2001Foto: AP

Não só políticos isoladamente, mas os partidos lucraram com pagamentos generosos da agência de relações públicas Hunzingen. A única exceção é o Partido do Socialismo Democrático, o neocomunista PDS. Tanto as legendas irmãs de centro-direita CDU-CSU e o Partido Liberal, de oposição, quanto as governistas SPD e Verde receberam doações da agência chamada de relações públicas, mas que na realidade faz lobby e cujo maior cliente é a indústria armamentista.

Em conseqüência dos escândalos dos honorários do ministro e do empréstimo do deputado verde Cem Özdemir na agência de Frankfurt, o Parlamento em Berlim deverá aprovar em setembro uma lei para garantir maior transparência às finanças dos políticos alemães. Ela deverá criar novas regras de conduta para evitar relações promíscuas entre o poder e os lobistas. O projeto de autoria do deputado social-democrata Christian Lange será, provavelmente, aprovado durante as sessões extraordinárias do Parlamento, em 12 e 13 do próximo mês, convocadas durante o recesso para votar o orçamento da União de 2003.

Agência vira império

O setor empresarial de relações públicas na Alemanha fala mal da agência de Moritz Hunzinger e a entidade máxima de RP anunciou a abertura de um processo para expulsão dela. Justificativa da organização patronal: o que Hunzinger faz não tem nada a ver com relações públicas.

Moritz Hunzinger criou a empresa de uma só pessoa (ele mesmo), em Frankfurt, em 1979, quando tinha 20 anos de idade. Hoje ele tem representantes em 22 países, além de escritórios em várias cidades alemãs, como Berlim, Bonn, Hamburgo e a sede em Frankfurt. A empresa teve prejuízo em 2001, mas o seu faturamento cresceu 4,3%, chegando a 24 milhões de euros. No final do ano, a Hunzinger AG tinha 143 empregados, 100 autores livres e mais de 600 fotógrafos.

Vendedor de contatos

Hunzinger, de 43 anos, vende contatos entre empresários, políticos e a mídia. As empresas pagam somas de no mínimo seis dígitos ou financiam eventos, incluindo honorários de 10 mil euros para oradores políticos. Este preço não é fixado por acaso, pois pela antiga lei de financiamento dos partidos políticos as doações de até 20 mil marcos (10 mil euros) não precisam ser divulgadas. Na lista de oradores pagos por Hunzinger constam o ex-ministro da Defesa Rudolf Scharping (SPD) e seu antecessor Rex Rodt (CDU), o atual ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, do Partido Verde, e o governador Roland Koch (CDU), só para citar alguns.

Quem não é bom orador, pode tentar a sorte de integrar o conselho fiscal da Hunzinger AG, cujo presidente atual é o último primeiro-ministro da antiga República Democrática Alemã (RDA), Lothar de Maizière.

Entre os clientes do lobista Hunzinger destacam-se as indústrias de armas, como a Thyssen, fabricante dos cobiçados tanques Fuchs. Dois ex-dirigentes desta indústria bélica foram condenados nesta terça-feira a prisão por causa de propina numa remessa desses tanques para a Arábia Saudita.

Durante a última visita do chefe de governo alemão à China, a Hunzinger mediou um debate da delegação em Xangai e, entre inúmeros serviços prestados ao poder, organizou entrevistas coletivas do ministro da Defesa no Kosovo. Notável no curriculum vitae do empresário Hunzinger é que este filho de oficial das Forças Armadas alemãs muito condecorado não fez nem vestibular.