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Grécia aprova mais cortes e população reage com violência

13 de fevereiro de 2012

Parlamentares concordam em reduzir salário mínimo e demitir 150 mil funcionários públicos. Manifestantes reagem, incendiando prédios e saqueando lojas. País precisa economizar ainda mais para receber socorro financeiro.

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Manifestantes incendiaram cinema histórico na capitalFoto: AP

O protesto contra a decisão do parlamento grego de aprovar um novo pacote de austeridade se estendeu pela manhã desta segunda-feira (13/02) na capital Atenas. Manifestantes quebraram vidraças, atearam fogo em prédios e se chocaram com policiais.

Eles são contra os cortes aprovados pelos parlamentares neste domingo, depois de dez horas de debate em Atenas. Segundo a decisão, o governo irá reduzir o salário mínimo em 22% e irá demitir, até 2015, cerca de 150 mil funcionários públicos.

A lei aprovada pelos parlamentares é o preço que o Estado-membro da União Europeia (UE) tem que pagar pelo socorro financeiro urgente. O país depende do recebimento do segundo pacote de ajuda, de 130 bilhões de euros, próxima parcela do pacote de resgate da UE e do Fundo Monetário Internacional, (FMI), para evitar a falência no próximo mês.

A pressão sobre o governo de Lucas Papademos só aumenta: ele precisa economizar 325 milhões de euros do orçamento e implementar as reformas prometidas mesmo depois das eleições gregas, previstas para abril. Os ministros de Finanças da zona do euro irão se encontrar nesta quarta-feira para avaliar a liberação da segunda parcela do crédito.

Griechenland Parlament Abstimmung Sparpaket
Parlamentares discutiram dez horas antes de aprovar cortesFoto: picture-alliance/dpa

O país altamente endividado vive desde 2010 uma ameaça de colapso financeiro. O pacote de 110 bilhões de euros acordado naquela época não foi suficiente para solucionar a crise. O dinheiro do segundo acordo deve vir do Mecanismo Europeu de Estabilidade.

Danos ao país em crise

Estima-se que 120 pessoas tenham ficado feridas devido aos protestos na Grécia nesta madrugada. Enquanto os parlamentares votavam a lei de austeridade neste domingo, mais de 100 manifestantes se reuniram em frente ao prédio.

Segundo os bombeiros, pelo menos 48 edifícios foram incendiados na capital, entre eles o histórico cinema de Attikon, de 1870. Cerca de 150 lojas foram saqueadas, a polícia prendeu 130 pessoas acusadas de participar dos tumultos. Não houve registro de violência em outras cidades gregas, segundo as autoridades.

Por que nada deu certo

A tróica formada por representantes da UE, FMI e Banco Central Europeu é vista como bode expiatório do drama grego. Embora o próprio comitê admita que tenha cometido erros sérios, o responsável pela crise não deixa de ser o governo. Numa situação de desespero, a administração federal clamou pelo aumento de impostos por temer alternativas, ou seja, atacar o sistema político, baseado no clientelismo e na corrupção, através de cortes de gastos governamentais e abolição de privilégios.

Mesmo dois anos depois da introdução de políticas de austeridade duras, a burocracia continua sufocando a economia, alegou Stelios Stavridis, vice-presidente do fórum empresarial grego, em entrevista a uma emissora de tevê grega. "Os custos da burocracia no país chegam a 14 bilhões de euros por ano, o dobro da média europeia."

Mesmo em tempos de crise, os mais próximos da classe política são sempre agraciados com um posto de trabalho interessante. O exemplo mais recente: Kostas Theo, até recentemente chefe de gabinete do ex-primeiro-ministro, Giorgios Papandreou, foi eleito vice-presidente da empresa nacional de energia elétrica – embora o cargo não estivesse realmente vago. O antigo vice-presidente precisou renunciar para dar espaço.

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Choque entre policiais e manifestantes em AtenasFoto: Reuters

"O preguiçoso sistema político não pode ser confundido com as pessoas que trabalham duro na Grécia. Isso também tem que ser dito às pessoas no exterior. Elas não podem continuam acreditando no clichê do 'grego preguiçoso' e puxar para baixo todo um povo. Isso é um grande erro", criticou Alexis Papachelas, comentarista político.

Autores: N. Pontes /J. Papadimitriou
Revisão: Roselaine Wandscheer