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Eleições na Rússia

5 de dezembro de 2011

Observadores falam das eleições "mais sujas" da última década. Apesar das grandes perdas, o partido Rússia Unida conseguiu obter maioria na Duma, mas os tempos deverão ficar mais difíceis para Putin, preveem analistas.

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Putin irá se candidatar à presidência em 2012
Putin irá se candidatar à presidência em 2012Foto: dapd

Apesar de ter sofrido grandes perdas nas eleições parlamentares russas realizadas neste domingo (04/12), o Rússia Unida, partido do primeiro-ministro Vladimir Putin, conseguiu a maioria absoluta na Duma, câmara baixa do Parlamento russo.

A comissão eleitoral anunciou nesta segunda-feira que o Rússia Unida angariou 238 dos 450 assentos, perdendo assim a maioria de dois terços que detinha na Duma.

Com 92 assentos, o Partido Comunista da Federação Russa ficou em segundo lugar, seguido do partido de centro-esquerda Rússia Justa, que obteve 64 cadeiras. O Partido Liberal Democrata (LDPR, na sigla em russo), de extrema direita, conseguiu fazer 56 deputados.

O atual presidente russo, Dimitri Medvedev, e Vladimir Putin, que concorrerá à presidência russa no próximo período legislativo, disseram que tal resultado espelha a verdadeira relação de forças na política russa. No entanto, observadores eleitorais independentes falam das eleições "mais sujas" da última década.

Partidos vencedores

Até agora, o partido de Putin detinha 312 das 450 cadeiras da Duma. Dessa forma, os outros três partidos que conseguiram representação na câmara baixa do Parlamento em Moscou podem sentir-se ganhadores das atuais eleições. Em algumas regiões, como em Novosibirsk, os comunistas quase conseguiram igualar o resultado do Rússia Unida.

Mas também o moderado partido oposicionista Rússia Justa, com 13% dos votos, e o ultranacionalista LDPR, com 11,6%, obtiveram um número bem maior de votos que na última eleição, em 2007.

Já pouco depois de as primeiras projeções terem sido anunciadas na noite de domingo, Putin e Medvedev se posicionaram diante das câmeras, tentando tirar um balanço positivo do resultado eleitoral. Em suas expressões, todavia, notava-se que os políticos gostariam de ter obtido um melhor resultado para o seu partido.

"Apesar dos tempos difíceis em nosso país, apesar da crise, apesar de o Rússia Unida ter tido de assumir a completa responsabilidade – já que é a principal liderança política –, apesar de todos os agravantes, os nossos cidadãos ratificaram o Rússia Unida como principal força política", declarou Putin.

Dimitri Medvedev e Vladimir Putin tentam tirar balanço positivo do resultado
Dimitri Medvedev e Vladimir Putin tentam tirar balanço positivo do resultadoFoto: dapd

Dourando a pílula

Para observadores eleitorais como Lilia Shibanova, diretora da organização Golos ("voz" em russo), essas eleições mostraram claramente "como se pode atingir a necessária 'porcentagem', violando todas as regras". Além disso, o portal da Golos e de alguns órgãos de mídia russos foram colocados fora do ar no dia das eleições, após ataques de hackers.

Shibanova declarou que foi constatada uma série de irregularidades na votação, em particular a expulsão de observadores das seções eleitorais. "Após o fechamento das urnas, às 20h, recebemos diversas denúncias de expulsão de observadores, como também de Golos e de partidos dos locais de votação", disse Shibanova, acrescendo que, sem testemunhas, o resultado da votação pode ter sido manipulado.

Além disso, foram registrados diversos casos de votos múltiplos. Observadores eleitorais mostraram em Moscou um vídeo da cidade de Ekaterinburg, nos Montes Urais, mostrando um ônibus levando os mesmos eleitores para diferentes locais de votação. Violações semelhantes teriam sido registradas em toda a Rússia.

Recado ao Kremlin

Observadores alemães, todavia, acreditam que o fato de o partido de Putin ter sofrido grandes perdas nesta eleição mostra que a Rússia se torna mais diversa. "E eu espero que na próxima Duma exista realmente uma concorrência de ideias", declarou à Deutsche Welle o encarregado do governo alemão para assuntos sobre a Rússia, Andreas Schockenhoff.

Da mesma forma, Ralf Mützenich, da oposição social-democrata em Berlim, vê no mau resultado do partido Rússia Unida uma prova de que "as pessoas não estão mais de acordo com as atuais lideranças".

Resta agora a pergunta de que consequências as atuais eleições terão para Vladimir Putin, que será o candidato do Rússia Unida nas eleições presidenciais de 4 de março de 2012. Para políticos alemães como Wolfgang Gehrcke, do partido A Esquerda, a eleição de Putin é considerada certa, mas a atual perda de votos nas urnas o coloca sobre pressão. "Ele terá de fazer uma análise crítica e deverá haver mudanças", disse.

Da mesma forma, Marina Schuster, deputada do Partido Liberal Democrático em Berlim, acredita que os tempos serão mais difíceis para Putin a partir de agora. "Ele terá de se afirmar, naturalmente, e implementar as reformas desejadas pela população", declarou Schuster.

Autores: R. Goncharenko / S. Laack / C. Albuquerque
Revisão: Roselaine Wandscheer