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Papel de bananeira pode substituir celulose tradicional

(sv)18 de setembro de 2002

Japonês desenvolve projeto de produção de papel a partir de resíduos de bananeira. Embora já tenha sido usado no Brasil no século 19, o método hoje pode facilitar a entrada de países pobres no mercado da celulose.

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Papel produzido a partir da bananeira pode ser alternativa para Terceiro MundoFoto: africa-photo

Muitas bananas e pouco dinheiro. São estas as condições econômicas básicas da Jamaica e da Tanzânia, duas das nações mais pobres do mundo. O professor japonês Hiroshi Morishima monitora em universidades destes países um projeto piloto com o objetivo de gerar celulose a partir dos resíduos da banana: o chamado pseudocaule, as folhas e o engaço.

Um livro infantil produzido exclusivamente com papel de bananeira é, para o professor, a prova de que o método funciona. "Confeccionamos um papel muito bonito. Das fibras dos resíduos temos uma polpa, que depois é transformada em papel. O método é simples. Não usamos produtos químicos nem necessitamos gastar energia. Trata-se de uma técnica japonesa tradicional, combinada com uma certa tecnologia", explica Morishima.

Desenvolvimento sustentável -

O consumo global de papel cresce a cada dia. Isso faz com que se torne urgente encontrar novas alternativas, que respeitem os parâmetros de um desenvolvimento sustentável. Estima-se que no ano de 2010, o consumo mundial de papel atinja 400 milhões de toneladas. Razão suficiente para a procura de novas matérias-primas.

No Brasil, a primeira fábrica de papel – que já utilizava as fibras da bananeira – foi inaugurada em 1848 na Bahia. Hoje, são desenvolvidos projetos esparsos, que visam o aproveitamento industrial de fibras de banana na produção da celulose. No entanto, os métodos alternativos acabam destinados a pequenos nichos do mercado, como a produção de papéis artesanais especiais. Dependendo da parte da bananeira usada e da técnica utilizada, é possível confeccionar papéis com diferentes texturas, brilho e resistência.

Revolução no mercado -

Para o professor japonês, seu método pode causar uma verdadeira revolução no mercado da celulose. Morishima acredita que a fabricação do papel de bananeira poderá suprir metade da demanda mundial de papel, salientando que todo ano são eliminados, em plantações espalhadas por 129 países, bilhões de toneladas de resíduos da banana.

Morishima, que trabalha há três anos no projeto piloto na América Central, vê no crescimento da produção do papel de bananeira a possibilidade de gerar empregos na região. Uma vez em funcionamento, uma eventual fábrica poderia, segundo o professor, produzir livros escolares em grande escala, que hoje precisam ser importados.

Reações céticas -

Pesquisadores e produtores do papel tradicional reagem com boa dose de ceticismo às idéias de Morishima. O Professor Göttsching, do Departamento de Produção de Papel da Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha, não acredita no sucesso de mercado do papel de bananeira. "Pode-se conseguir a matéria-prima para a produção do papel de todas as espécies de plantas, porque elas contêm fibras avulsas. Da banana, se for o caso, também. Só que ninguém vai querer fazer isso".

Pelo menos, segundo Göttsching, ninguém vai se dispor ao trabalho pensando no mercado mundial de celulose. Para o professor alemão, considerando a produção em grande escala, tais métodos artesanais de fabricação de papel mostram-se simplesmente caros demais. "Para uma fábrica de celulose, necessita-se de unidades grandes, para que o trabalho seja rentável economicamente, respeitando também o meio ambiente. E essas fábricas são tão grandes, que só os países mais ricos conseguem mantê-las".

Pequenos passos -

Pelo menos para o professor alemão, é aí que o cerco se fecha: enquanto os países produtores de banana não tiverem dinheiro suficiente para construir uma fábrica de grande porte, a eventual exportação de produtos confeccionados com o papel fica apenas na vontade. O japonês Morishima, no entanto, não se deixa abater por tais argumentos. "É melhor um pequeno passo do que nenhum", conta o professor, enquanto planeja novas produções do papel de bananeira em Uganda e na Tanzânia.