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Pafos é Capital Europeia da Cultura em 2017

Andrea Kasiske md
7 de janeiro de 2017

Com orçamento apertado, cidade litorânea no Chipre usa criatividade e prepara eventos em sítios arqueológicos e ao ar livre, aproveitando calor que dura quase o ano todo.

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Paphos
Foto: picture-alliance/robertharding/J. Miller

"É um pesadelo", diz o britânico de cabelos brancos, assim que salta de sua van e continua caminhando rumo a seu escritório. Há semanas que a cidade antiga de Pafos é um canteiro de obras. Até mesmo pedestres têm dificuldade de passar pelo labirinto de interdições. "Até o início do ano as novas calçadas estarão prontas", prometia o chefe da empresa de construção local em meados de dezembro passado.

Quando há anos a cidade costeira cipriota foi nomeada Capital Europeia da Cultura de 2017, junto com Aarhus, da Dinamarca, o orçamento parecia ser maior. Mas, em seguida, a crise financeira também chegou ao Chipre. A prefeitura resolveu deixar de lado a cultura e o estado decadente da cidade velha, preferindo se concentrar no calçadão da região do porto, popular entre russos e chineses.

A coisa ficou ainda mais difícil depois de alguns patrocinadores terem abandonado o projeto Capital Europeia da Cultura, deixando disponíveis apenas 8,5 milhões de euros. A quantia era suficiente para cobrir um terço dos custos estimados e correspondia ao menor orçamento da história das capitais culturais.

"Pafos era uma zebra absoluta, mas nosso conceito, que nasceu da necessidade, acabou convencendo", diz Georgia Doetzer, diretora artística do projeto Capital da Cultura. Afinal de contas, Pafos tem duas vantagens: os sítios arqueológicos – a deusa do amor Afrodite teria nascido aqui, segundo a lenda –, que são destaques turísticos, e o calor da cidade, que dura quase o ano todo.

O anfiteatro de Pafos é um dos orgulhos da cidade
O anfiteatro de Pafos é um dos orgulhos da cidadeFoto: Foto Larko

Sítios arqueológicos como palcos

O Projeto Open Air Factory (fábrica a céu aberto) contribuiu para a escolha da cidade como capital cultural e concedeu a Pafos o prêmio cultural Mercouri Melina, de um milhão de euros. Uma dádiva para o orçamento apertado.

"Queremos abrir os sítios arqueológicos para eventos culturais, mansões antigas, o anfiteatro, porque a cultura deve chegar às pessoas", explica Doetzer. Novos locais serão também construídos, mas a maioria dos eventos vai acontecer ao ar livre. A Orquestra Filarmônica de Berlim será uma das atracões, com um concerto no dia 1° de maio no calçadão do porto, tendo a fortaleza medieval da cidade ao fundo.

Os organizadores querem atrair, com um programa internacional, visitantes estrangeiros e também cipriotas do norte da ilha dividida. As atrações incluem temas da história nacional, como o golpe grego de 1974 e a posterior intervenção militar turca. Até hoje, a divisão da ilha é um ponto sensível para ambas as nações. Em Mouttalos, a cidade velha, que está sendo reformada, existe uma mesquita do tempo em que o convívio turco-grego ainda funcionava. Agora, lá vivem principalmente gregos expulsos do norte – e os "novos" refugiados.

Exército de voluntários

"Quando eu vou ao norte, turco, não digo nada aos meus amigos gregos", conta a alemã Ute Georgiades, de 76 anos. O assunto ainda é delicado. Ela acha bom que o problema seja tematizado. Após anos vivendo em Pafos, ela se sente em casa na cidade. Por isso, também não hesitou em se inscrever como voluntária para o projeto. Cerca de 400 pessoas, principalmente jovens, estão inscritas para colaborar como voluntários.

Conheça as Capitais Europeias da Cultura de 2017

Os muitos eventos que antecedem a programação principal parecem já ter contribuído para abolir algumas barreiras. No começo, muitos eram céticos, mas agora cada vez mais pessoas participam. Doetzer está convencida de que o projeto será um sucesso. Não só mais turistas virão, mas Pafos se beneficiará a longo prazo das atividades da Capital Europeia da Cultura, acredita.

"Deserto cultural"

Charalamos Margaritis, um dos artistas locais, espera o mesmo. "Pafos era até agora um deserto cultural, com apenas uma sala de cinema comercial, sem teatro, sem sala de concertos. Tínhamos que ir a Nicósia ou Larnaca para ver algo", diz. Antes só era possível organizar exposições em hotéis, e hoje já existem duas galerias de arte para esse propósito.

Após viver em Paris, Margaritis se juntou com outros artistas para criar a única escola de arte privada da cidade, chamada Kimono, que oferece, entre outros, cursos de pintura, gravura, filme de animação e até arte de rua. O artista cipriota vai realizar dois eventos integrantes do projeto Capital Europeia da Cultura, incluindo um festival de desenhos animados, com oferta de workshops. Neste ano, ele espera não somente internet gratuita em toda a cidade, como também que a vida cultural de Pafos se torne tão interessante que atraia também os moradores de Nicósia e Larnaca.