1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Os brasileiros que morreram lutando pela Ucrânia

8 de agosto de 2023

Desde o início da guerra de agressão da Rússia, quatro brasileiros que se juntaram às forças ucranianas morreram em combate.

https://p.dw.com/p/4UvOx
Militares ucranianos
Foto: Karl-Josef Hildenbrand/dpa/picture alliance

O estudante de medicina Antônio Hashitani, de 25 anos, é o quarto brasileiro a morrer na Guerra da Ucrânia, segundo relatos de familiares dele. Ele morreu num combate em Bakhmut no início de agosto, mas a família relatou só ter ficado sabendo da morte nesta segunda-feira (07/08).

Desde o início da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022, vários brasileiros já se alistaram para lutar do lado ucraniano. Desde então, quatro mortes foram confirmadas. A primeira foi a do gaúcho André Luis Hack Bahi, em junho de 2022.

Estes são os quatro brasileiros mortos na guerra:

André Luis Hack Bahi, 43 anos

Natural de Porto Alegre, Bahi morreu no início de junho de 2022. Segundo a família e amigos, ele morreu num combate em Sieverodonetsk, no leste da Ucrânia, que permanece sob ocupação russa.

Bahi já tinha experiência em conflitos internacionais quando decidiu participar da guerra na Ucrânia defendendo o país invadido pela Rússia. Hack serviu no Exército brasileiro por um ano. Depois, segundo sua família relatou à imprensa brasileira, se alistou na Legião Estrangeira, um ramo das Forças Armadas da França que permite voluntários estrangeiros. Ainda segundo sua família, elechegou a participar de uma missão militar francesa na Costa do Marfim.

Ele foi gravemente ferido em combate em 2017 e levado para passar por um tratamento médico na França. Na guerra contra a Rússia, o brasileiro passou a integrar, como voluntário, a Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia a partir de 28 de fevereiro, ou seja, praticamente desde o início do conflito.

Antes de ir para a Ucrânia, Hack havia se mudado para o Ceará porque detestava o frio do Rio Grande do Sul, relataram familiares. Os pais e irmãos permaneceram na região metropolitana da capital gaúcha. À imprensa brasileira, eles falaram com orgulho da convicção de Hack de ajudar o povo ucraniano e o trataram como herói de guerra.

Douglas Búrigo, 40 anos, e Thalita do Valle, 39 anos

Em 30 de junho morreram na Ucrânia Douglas Búrigo, de 40 anos, e Thalita do Valle, de 39 anos. Ambos lutavam no mesmo pelotão da Legião Internacional e morreram ao serem atingidos por bombardeios russos na cidade de Kharkiv, no leste da Ucrânia, hoje novamente sob controle de Kiev mas ainda alvo de ataques regulares da Rússia.

Segundo relatos de outros combatentes, também brasileiros, Búrigo foi morto ao tentar salvar Thalita do Valle. O comandante do pelotão, o brasileiro Sandro Carvalho da Silva, relatou ao site UOL que Búrigo "acabou arriscando a própria vida para salvar a colega” e "morreu como um herói”.

Búrigo era natural de São José dos Ausentes, pequena cidade da região dos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul, perto da divisa com Santa Catarina. Ele serviu durante cinco anos no Exército brasileiro. Segundo a imprensa gaúcha, ele deixou a cidade natal em 22 de maio para ir para a guerra. Silva contou ao jornal Zero Hora que Búrigo retornou a um bunker que havia sido atacado por forças russas para tentar retirar Thalita do Valle de lá. O bunker foi novamente bombardeado e o voluntário gaúcho foi morto. Thalita do Valle foi retirada com vida pelos colegas, mas morreu de asfixia pouco depois, segundo o relato. Após a morte de Búrigo, a cidade de São José dos Ausentes decretou luto de três dias. Em áudios enviados a um amigo pouco antes da sua morte, ele relatou que tinha medo de morrer na Ucrânia e que não tinha certeza que deixaria o país vivo.

Thalita do Valle, de 39 anos, por sua vez, era uma ex-modelo e ativista em favor dos animais. Três anos atrás, havia se alistado como socorrista no Exército curdo no Iraque para lutar contra o grupo terrorista Estado Islâmico. Lá recebeu treinamento para se tornar atiradora de elite. Ela era natural de Ribeirão Preto, mas morava em São Paulo e compartilhou diversos vídeos de sua experiência anterior no Curdistão iraquiano. O irmão disse que, quando foi morta, ela estava havia apenas três semanas na Ucrânia. "Era uma heroína, e a vocação dela era salvar vidas, correndo atrás de missões humanitárias", declarou ao UOL.

Antônio Hashitani, 25 anos

O paranaense Antônio Hashitani, de 25 anos, era estudante de medicina na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), em Curitiba. Segundo relatos de amigos, ele decidiu ir lutar na Ucrânia pouco antes de concluir o curso. Ele já havia feito algo semelhante em 2017, quando trancou a matrícula para trabalhar como voluntário de uma ONG no Malauí e na Tanzânia, países do continente africano. A família recebeu a informação de que a última missão dele foi nas proximidades de Bakhmut, cidade ucraniana que há meses é palco de intensos combates entre forças de Kiev e tropas russas. Hashitani lutava como voluntário num grupo paramilitar.

A notícia da morte, segundo familiares, chegou por meio de um telefonema do Itamaraty na segunda-feira. No entanto, a morte pode ter ocorrido entre 2 ou 3 de agosto.

Ex-colegas da ONG em que Hashitani atuou e sua antiga universidade lamentaram a morte do voluntário. A PUC-PR expressou "condolências e solidariedade aos familiares" e estendeu os "sentimentos e forças ao povo ucraniano diante do quadro de violência e guerra que enfrentam".