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Década agitada

28 de dezembro de 2009

Terrorismo, crise financeira e mudanças climáticas mexeram com as vidas dos cidadãos da Alemanha na primeira década do século 21. Mas também acontecimentos internos representaram reviravoltas dramáticas.

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A virada do século em BerlimFoto: AP

As explosões que se fizeram ouvir no sul da ilha de Manhattan, no dia 11 de setembro de 2001, ecoaram por todo o mundo. Dois aviões de passageiros dirigidos contra as torres do World Trade Center as fizeram desabar. Quase ao mesmo tempo, caía uma terceira aeronave sobre o Pentágono – o Departamento norte-americano da Defesa –, e ainda outra num campo da Pensilvânia.

De seu jeito notoriamente simplório, o então presidente dos EUA, George W. Bush, traçou uma clara imagem hostil: o inimigo seria uma rede radical de terroristas, assim como todos os governos que a apoiassem. Pouco depois, abria a caça a Osama Bin Laden, líder da organização radical islâmica Al Qaeda.

11 de Setembro e segurança

Na Alemanha – assim como em toda a Europa – eram grandes a solidariedade e a disposição de participar da recém-conclamada "luta contra o terrorismo internacional". Falando ao Parlamento alemão, o chanceler federal Gerhard Schröder mencionou uma "declaração de guerra contra todo o mundo civilizado" e prometeu "manter-se firme ao lado dos Estados Unidos".

Poucos dias depois, o ministro do Interior Otto Schily anunciou a intenção de proteger o Estado contra o terrorismo diversificando os meios de "obter informação". Estava dado o tiro inicial para leis que legitimaram a restrição dos direitos civis, a vigilância da comunicação telefônica ou o relaxamento do sigilo postal.

Bundeswehr Afghanistan
Soldado alemão e afegãesFoto: AP

Mais tarde, foram introduzidos passaportes biométricos, segundo o modelo estadunidense. O país ficou semeado de câmeras de vigilância, os dados dos que viajassem entre a Alemanha e os EUA passaram a ser enviados aos serviços secretos norte-americanos.

Essas medidas mudaram a vida dos cidadãos do país. Assim como o envio de soldados alemães ao Afeganistão. Em dezembro de 2001, as Nações Unidas formaram uma tropa internacional para aquele país asiático, supostamente território de treinamento e esconderijo de grupos terroristas radicais islâmicos. Segundo uma frase do ex-ministro da Defesa Peter Struck, o Bundeswehr defendia "a segurança dos alemães no Hindu Kush".

Para a consciência coletiva de um país que estivera excluído de toda confrontação militar desde 1945, eram novas as imagens dos soldados mortos em combate sendo devolvidos à pátria em caixões. Novo também era o debate sobre a ordem de um comandante alemão de que se bombardeasse um caminhão perto de Kunduz, em setembro de 2009. Quase 150 pessoas morreram, entre as quais, numerosos civis.

Crise global

Ela começou com os proprietários de casas endividados nos Estados Unidos. Milhões estavam incapacitados de saldar as dívidas contraídas em tempos de juros baixos, sem fixação de taxas e sem capital próprio. Mas os bancos já haviam transformado esses créditos "podres" em pacotes e os vendido a outros institutos financeiros.

Foi assim que a inadimplência dos proprietários estadunidenses desencadeou uma crise financeira global. O primeiro a cair foi o Lehman Brothers, então o quarto maior banco de investimentos do país, arrastando os institutos que nele investiam e pulverizando poupanças pelo mundo afora.

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Hypo Real Estate foi estatizado à forçaFoto: AP

Para evitar consequências mais drásticas, o governo alemão possibilitou a estatização de bandos e injetou um total de 500 bilhões de euros no sistema financeiro do país. Porém o preço do combate à crise é alto: ao fim da primeira década do século, os orçamentos públicos alemães apresentam um déficit de 1,8 trilhão de euros – cerca de 21 mil euros per capita.

Mas não se tratava de um mero jogo matemático: a situação se faz sentir dentro dos próprios lares. E a confiança no sistema financeiro alemão encontra-se abalada: enquanto milhões de poupadores, acionistas, aposentados e pequenos investidores perdiam a base de sua segurança financeira, os altos gerentes embolsavam indenizações milionárias, apesar de sua incompetência gritante.

Clima: questão de sobrevivência

A terceira crise no início do século 21 é a mudança climática. Na Alemanha, cada vez mais pessoas levam a sério as advertências dos climatologistas, porém é mínimo o número dos que realmente se preocupam com a vida futura de seus filhos e netos.

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Geleira de Morteratsch, na Suíça, derrete visivelmenteFoto: ullstein bild - Ex-Press/Adair

Pois o aquecimento global não é algo de que se deva cuidar "alguma hora": ou se alcança uma mudança de rumo climático nos próximos anos, ou nunca. Como alertou o ministro do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, num debate do Bundestag: "A crise ecológica que virá, se nós não mudarmos, tem dimensão existencial. É uma questão de sobrevivência para centenas de milhões de pessoas".

Na Alemanha, as medidas tomadas desde então determinam cada vez mais o dia-a-dia dos habitantes. Instituiu-se uma "plaqueta ambiental", sem as quais os automóveis não podem trafegar no centro das cidades; dos aparelhos elétricos constam selos ecológicos e dados de consumo; foram introduzidas lâmpadas econômicas e novas formas de propulsão automobilística.

Direita e esquerda

Eventos internos também afetaram profundamente a vida na Alemanha. Um deles foi o "escândalo das doações", envolvendo o ex-chanceler federal Helmut Kohl. A participação do líder democrata-cristão no caso evidenciou a decadência da moral na política do país.

A queda de Kohl marcou a ascensão de sua correligionária e "mascote" Angela Merkel. Em pouco tempo ela se promoveu de secretária-geral da União Democrata Cristã a chanceler federal: como primeira mulher, primeira alemã oriental e primeira cientista.

Não só os conservadores determinaram a política alemã nos dez primeiros anos do terceiro milênio: os verdes ganharam considerável projeção. Após os sete anos (1998-2005) do governo Schröder e quatro de coalizão com os conservadores cristãos, o Partido Social Democrata atravessa uma fase dura de reformulação. Marcante para o panorama político do país foi também a criação da Esquerda, sucessora do partido do governo da Alemanha comunista.

Nova cara da Alemanha

O ano de 2005 presenteou os alemães com um highlight internacional: em 19 de abril o cardeal bávaro Joseph Ratzinger era escolhido como papa, adotando o nome Bento 16. É a primeira vez, em 480 anos, que um alemão lidera a Igreja Católica Romana.

WM Bilder des Tages 09.06.2006
'O mundo entre amigos'Foto: picture-alliance/ dpa

Assim como a política e a religião, os esportes agitam as multidões. Sob o slogan "O mundo entre amigos", a Copa do Mundo 2006 transcorreu na Alemanha. Uma boa escolha, pois os alemães provaram ser anfitriões perfeitos e excelentes organizadores. Em quase todo automóvel tremulava a flâmula preta, amarela e vermelha, exprimindo um orgulho nacional que não implica desprezo pelas outras nações.

O evento futebolístico transformou a imagem dos alemães no mundo: de mal-humorados burocratas, eles se revelaram seres humanos abertos e agradáveis. Após quatro semanas, haviam conquistado milhões de amigos e dado um grande passo – no caminho de se tornar "uma nação perfeitamente normal".

Autor: Matthias von Hellfeld / Augusto Valente
Revisão: Simone Lopes