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Os acertos da Nova Zelândia no combate à covid-19

8 de junho de 2020

Confinamento rígido, testagem em massa e comunicação eficiente com a população. País da Oceania colhe frutos de política consistente e não registra mais casos ativos de covid-19 em seu território.

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Neuseeland | Coronavirus | Premierministerin Jacinda Ardern
A premiê Jacinda Ardern. "Fique em casa. Ajuda a quebrar a cadeia de transmissão. Salve vida", diz o cartaz à esquerda.Foto: Getty Images/AFP/M. Mitchell

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, disse nesta segunda-feira (08/06) que chegou a "dançar" de alegria quando recebeu a notícia de que o último cidadão da Nova Zelândia com coronavírus havia se recuperado.

O país tem bons motivos para comemorar. A Nova Zelândia exibiu ao longo da pandemia uma das respostas mais eficazes do mundo ao desafio imposto pela doença.

De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, foram registrados no país 1.504 casos de covid-19 e apenas 22 mortes.

Para efeito de comparação, a Irlanda, outra nação insular com população semelhante, registou mais de 25 mil casos e 1.679 mortes.

Veja como a Nova Zelândia conseguiu estabelecer uma das estratégias mais eficazes para vencer a covid-19:

O confinamento foi duro e imposto rapidamente

"Temos que ser duros e devemos fazer isso cedo", foi a mensagem da primeira-ministra Ardern no início da crise.

Em 15 de março, quando a Nova Zelândia tinha apenas 100 casos confirmados e ainda nenhuma morte registrada, o governo ordenou o fechamento das fronteiras para viajantes estrangeiros e obrigou os cidadãos que voltavam ao país a ficar em quarentena em casa por 14 dias. Também foram proibidos eventos com mais de cem pessoas.

Dez dias depois, o governo introduziu medidas amplas de confinamento (lockdown) para todo o país, rígidas pelos padrões internacionais. Somente mercearias, farmácias, hospitais e postos de gasolina puderam permanecer abertos. Mesmo as viagens com veículos particulares foram restritas, e a interação social foi limitada ao núcleo familiar.

Essas restrições duraram mais de um mês antes de serem gradualmente suavizadas. Agora, todas as medidas sociais e econômicas de isolamento foram levantadas e restam apenas as restrições nas fronteiras.

As regras de confinamento foram vitais, pois "suprimiram a disseminação do vírus mais cedo e compraram um tempo precioso que outros países desperdiçaram", disse à DW Oksana Pyzik, professora da Escola de Farmácia da University College London (UCL).

As novas regras foram comunicadas de forma eficaz

Pouco antes do confinamento rígido, o governo enviou mensagens de emergência aos celulares de todos os residentes. "Esta é uma mensagem para toda a Nova Zelândia. Estamos dependendo de você", dizia o texto. "Onde você fica esta noite é onde deve ficar a partir de agora... é provável que [as medidas mais rígidas] permaneçam em vigor por várias semanas."

À medida que a crise avançava, a premiê Ardern deixou clara a abordagem que queria aplicar na luta contra a covid-19. "Temos a oportunidade de fazer algo que nenhum outro país conseguiu: a eliminação do vírus", disse ela ao país em uma entrevista coletiva em 16 de abril.

"O governo foi muito bom em gerenciar as expectativas das pessoas", disse à rede CNBC um morador da capital Wellington. "Disseram-nos que levaria duas semanas para que surgissem os primeiros sinais de que o confinamento estava baixando os números. Isso tornou fácil o entendimento e a aceitação do objetivo do confinamento."

A curva da doença achatou dez dias após o início do confinamento. Mesmo assim, não houve imediatamente um relaxamento das restrições. 

Pyzik, da UCL, também acredita que o governo acertou no tom das mensagens. "Mensagens consistentes sobre priorização da saúde e comunicação frequente e entrevistas coletivas diárias diretamente à população – incluindo crianças – ajudaram a garantir a adesão do público."

O país aumentou sua capacidade de testagem

Na semana passada, a premiê Ardern anunciou que o país seria capaz de processar até 8 mil testes por dia, uma das maiores taxas de testes per capita do mundo. No total, o país testou pouco menos de 295 mil pessoas, novamente mostrando uma taxa per capita de testes comparativamente alta. Foram 60,98 testes por grupo de 1 mil pessoas. Para efeito de comparação, o Brasil realizou menos de 3 testes por grupo de 1 mil pessoas.

Shaun Hendy, chefe do Te Punaha Matatini, um órgão científico que assessora o governo na resposta à covid-19, disse ao site de notícias Axios que o confinamento rígido na Nova Zelândia permitiu ao governo rastrear mais facilmente as pessoas que precisavam se isolar conforme os casos iam sendo identificados .

Pyzik concorda que isso foi eficaz. "Seguir o conselho da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre testes em massa e uma política de rastreamento robusta de contatos foi essencial para limitar o número de mortes."

Geografia ajudou

O fato de a Nova Zelândia ser uma nação insular relativamente isolada ajudou muito na resposta. Isso permitiu que o país tivesse mais controle sobre quem podia entrar do que outros países com grandes fronteiras terrestres.

O país também tem uma densidade populacional relativamente baixa, o que significa que o vírus não pode viajar tão facilmente pela população, pois menos pessoas mantêm contato umas com as outras.

Pyzik aponta que isso ajudou a Nova Zelândia. "É uma nação insular remota e pouco povoada. Mesmo com testagem em massa e fechamento de fronteiras, seria difícil obter o mesmo grau de sucesso [em outros países]", diz ela.

No entanto, isso não significa que a Nova Zelândia não possa ser usada como referência por outros países. "Apesar das vantagens da pequena população e da localização remota da Nova Zelândia, as lições que outros países podem e devem aprender envolvem a importância de agir rapidamente", acrescenta Pyzik.

Mostrar o exemplo

Quando o próprio ministro da Saúde do país, David Clark, violou as regras de confinamento para ir a uma praia remota com sua família, a premiê Arden repreendeu o titular publicamente.

Ele chegou a oferecer sua demissão, mas a premiê disse que o país não poderia se dar ao luxo de uma mudança abrupta na pasta. Clark foi mantido, mas teve seu status rebaixado e perdeu uma de suas funções paralelas no Ministério das Finanças.

Ardern apontou que, em circunstâncias normais, Clark teria perdido o cargo. "Não podemos nos permitir a um grande transtorno no nosso sistema de saúde", explicou. "Espero algo melhor, e a Nova Zelândia também", disse a premiê.

Já Clark teve que pedir desculpas publicamente. "Eu fui um idiota e eu entendo que as pessoas estejam bravas comigo", disse. "Como ministro da Saúde, é minha responsabilidade não só cumprir as regras, mas dar exemplo a outros neozelandeses", declarou no início de abril.

A atitude da premiê frente à pandemia levou Jacinda Ardern a se tornar a primeira-ministra mais popular da Nova Zelândia em um século.

Em maio, uma pesquisa mostrou os resultados: 59,5% dos neozelandeses veem Ardern como a melhor pessoa para ocupar o cargo de premiê, um crescimento de 20,8 pontos em relação à última pesquisa. É a cifra mais alta de qualquer líder na história dos levantamentos do instrituto Reid Research, responsável pela pesquisa.

Os números também mostraram que a popularidade do Partido Trabalhista de Ardern aumentou 14 pontos percentuais, chegando a 56,5% – a maior já registrada por um partido em toda a história da Nova Zelândia.

Governo manteve política de modo consistente

O governo da Nova Zelândia seguiu algumas das melhores diretrizes para lidar com o coronavírus – e se manteve consistentemente nessa tota.

"A pedra angular da resposta pandêmica que cada país deve procurar envolve testar, isolar e cuidar de todos os casos, além de rastrear e colocar em quarentena todos os contatos de um infectado", diz Pyzik. "Essa é a melhor defesa à covid-19 e foi assim que a Nova Zelândia conseguiu superar a doença."

Agir rapidamente e de modo eficaz tem suas recompensas. Isso significa que o país pode começar sua recuperação econômica mais cedo.

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