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Ordenação de "sacerdotisas" acirra debate sobre papel da mulher na Igreja

1 de julho de 2002

Sete mulheres "ordenam-se" em cerimônia celebrada por "arcebispo" argentino, originando ira da Igreja oficial e manifestações de apoio de movimentos de base.

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Gisela Forster, uma das "sacerdotisas", conversa com jornalistasFoto: Bilderbox

Uma cerimônia religiosa celebrada a bordo de um barco de passageiros no Rio Danúbio no sábado (29), no trecho entre Passau (sul da Alemanha) e Linz (Áustria), originou reações divergentes da Igreja Católica e de movimentos de base. Sete mulheres entre 40 e 70 anos foram "ordenadas" pelo argentino Romulo Braschi, que se auto-intitula arcebispo e não é reconhecido pela Igreja Católica.

O ato conta com a rejeição categórica da Igreja oficial, que vê nele "um teatro absurdo e o mais puro espetáculo sectário", segundo declaração divulgada em Munique. O Direito Canônico reserva a ordenação a homens batizados. Os bispos austríacos apressaram-se em declarar a ordenação "inválida", condenando o ato de um "pequeno grupo de mulheres" que, "contrariando a doutrina e a tradição da Igreja Católica" quiseram forçar o caminho para a ordenação.

Já o movimento de base alemão Nós Somos a Igreja vê a iniciativa com bons olhos, considerando-a "um sinal contra o sistema estático" da Igreja, ainda que considerando a cerimônia a bordo do barco questionável em alguns aspectos. "As mulheres fizeram bem, porque ficar calado não adianta nada", afirmou, nesta segunda-feira (01), um porta-voz do movimento. Representantes do catolicismo crítico na Áustria reivindicaram igualmente passos no sentido de uma "abertura da Igreja para as mulheres em todos os patamares".

As iniciadoras e o celebrante —

Várias das mulheres que se ordenaram (quatro alemãs, duas austríacas e uma americana) são casadas e algumas portam o título de doutoras em Teologia. Para a alemã Gisela Forster, a exclusão das mulheres da ordenação atenta contra o espírito divino. Faz 40 anos que as mulheres estão argumentado perante a Igreja Católica e sempre ouviram um "não" em resposta, agora vão lutar "pelo reconhecimento desta ordenação", garante Forster. As "sacerdotisas" pretendem celebrar missa diariamente e administrar os sacramentos em círculos de pessoas que compartilhem de suas idéias.

Romulo Braschi, de 60 anos, pertence à igreja apostólica carismática Jesus Rei, que o Vaticano não reconhece. Ele distanciou-se da Igreja Católica na época da ditadura na Argentina, mas nunca chegou a ser excomungado. A crítica à sua decisão de ordenar as mulheres não o inquieta: "Vamos prosseguir firmes na nossa tarefa pastoral".

A igreja Jesus Rei, sediada em Munique, conta com 13 mil seguidores em todo o mundo.

Os fiéis —

Muitos católicos acreditam que abrir a ordenação para as mulheres poderia solucionar o problema crônico da falta de sacerdotes que assola a Igreja Católica. Em pesquisa de opinião realizada na Alemanha, 71% dos católicos praticantes declararam-se favoráveis. E, em consulta feita pelo teólogo vienense Paul Zulehner entre 2500 padres na Alemanha, Áustria, Polônia, Croácia e Suíça, 58% afirmaram considerar a ordenação de mulheres como possível sob o ponto de vista teológico. (lk)