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Nada de pânico

9 de agosto de 2011

Prossegue a queda das cotações nas principais bolsas de valores do mundo. Mas, apesar de todos os presságios, as perdas se mantiveram dentro dos limites. Seja como for, a hora não é para pânico, opina Henrik Böhme.

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As manchetes atuais não poderiam ser mais dramáticas. Pelo menos a palavra "pânico" não pode faltar, assim como "crash" e "crise econômica mundial". Há quem se pergunte se não estamos diante de uma bancarrota global. A hora é dos profetas do apocalipse. "A crise voltou", ouve-se por toda parte. Errado: a crise nunca se foi, nós simplesmente a ignoramos .

O que acontece, no momento, nas bolsas de valores de todo o mundo, não é um crash. Certo, alguns trilhões de dólares em títulos foram pulverizados nos últimos dias, mas isto não é motivo para pânico. Pois, a rigor, o que ocorre é totalmente normal: são os mercados se adaptando à realidade. Após as cotações exageradas dos últimos meses, eles se dão conta de que o boom em que apostaram não é real, seu preço é um gigantesco endividamento do mundo.

A dívida global alcança, no momento, inimagináveis 95 trilhões de dólares, no curso de duas décadas, ela quadruplicou. Ainda assim, o recente colapso nas bolsas, em si, não indica uma nova crise global. O rebaixamento da credibilidade financeira dos Estados Unidos não constitui nenhuma surpresa. Ele fora anunciado. O país continua sendo a maior economia do mundo, mas o "número um" não superou, de fato, a crise mais recente.

Sua conjuntura está estagnada, apenas a montanha de dívidas cresce sem parar. E numa proporção tão assustadora que até o maior credor dos EUA, a China, está perdendo a paciência.

Não é preciso ser admirador da agência de classificação de riscos Standard & Poor's: mas cabe esperar que os Estados Unidos tenham compreendido esse tiro de advertência e adotem finalmente um curso econômico mais sustentável.

O problema não é a economia, e sim o clima inveterado de desavença política em Washington. Mas, de fato, existem riscos maiores do que investir dinheiro próprio em títulos públicos norte-americanos.

Quando só se olha para a Alemanha, o quadro realmente parece distorcido: aqui a economia floresce, os livros de encomendas da indústria estão repletos. Só que, para a conjuntura mundial, o futuro não é tão colorido assim.

As economias emergentes sofrem, entre outros motivos, devido ao afluxo excessivo de dinheiro em seus mercados. Este torna as moedas nacionais fortes demais, encarece as exportações e emperra o crescimento econômico.

A China, por sua vez, continua crescendo com ímpeto, porém não consegue controlar a inflação. Além disso, criaram-se gigantescos excedentes de capacidades, os quais, no momento, ainda são necessários à ampliação da infraestrutura. Contudo, quando essa bolha estourar, é bom estar a uma boa distância do epicentro: o impacto se fará sentir também na Alemanha.

E depois, a Europa. Definitivamente, não são nada bonitos os conceitos em circulação: pacote de resgate, fundo de resgate, resgate para todo lado. Agora vem a desforra de, contra todo bom senso econômico, ter incluído no clube do euro membros como a Grécia e Portugal, que estão a quilômetros de serem nações industriais desenvolvidas.

Dentro do mecanismo da economia mundial, esses países são tão insignificantes que os danos seriam relativamente pequenos se eles declarassem insolvência. Uma bancarrota estatal não é o fim do mundo, mas sim uma boa oportunidade para o recomeço.

Mas o que o investidor comum deve fazer agora? Embarcar junto nesse delírio de vendas? Tarde demais. Como sempre, é o momento errado. Não: agora a hora é de levantar a gola, fechar os olhos, e atravessar a tempestade. A turbulência deve prosseguir por alguns dias, talvez semanas. Mas ela vai passar. E o interessante será ver como ficou o mundo depois de a tempestade ter passado.

Autor: Henrik Böhme (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer