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O fim da revolução de esquerda na Grécia

Spiros Moskovou
8 de julho de 2019

Vitória conservadora põe fim ao governo de esquerda de Alexis Tsipras, eleito com a promessa de rasgar planos de austeridade. Os eleitores estão desiludidos, e as expectativas em relação ao novo premiê são enormes.

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Conservador grego Kyriakos Mitsotakis comemora vitória eleitoral em Atenas
Conservador Kyriakos Mitsotakis comemora vitória eleitoral em AtenasFoto: Reuters/A. Konstantinidis

"Não se deve estragar as férias do povo na praia", rebateu o então primeiro-ministro da Grécia, Andreas Papandreou, nos anos 80, quando seus assessores tentavam convencê-lo a convocar eleições antecipadas em pleno verão.

O atual chefe de governo, o esquerdista Alexis Tsipras, ignorou essa velha sabedoria política e marcou o pleito legislativo antecipado durante as férias de meio do ano. Mais de 40% dos gregos ficaram longe das urnas, Tsipras e seu partido Syriza foram retirados do poder. A vitória ficou para o Kyriakos Mitsotakis, candidato do conservador Nova Democracia, com uma clara vantagem e maioria parlamentar.

Contudo não se deve atribuir exclusivamente ao calor de verão a mudança de poder em Atenas. Os eleitores do abalado país estão desiludidos e sabem perfeitamente que um retorno à época pré-crise é impossível.

Tsipras foi eleito em 2015 por uma maioria dos gregos, por ter anunciado que "rasgaria" os planos de austeridade para o país falido e ditaria sua vontade aos mercados financeiros. Em vez disso, e após três pleitos em um ano, ele fechou um terceiro pacote de resgate com os credores internacionais da Grécia, dando continuidade à política de austeridade de seus antecessores. A revolução de esquerda se transformou numa gestão social-democrática da crise.

Apesar de tudo, o governo Tsipras foi o mais longevo desde 2010, quando Atenas pediu ajuda a seus parceiros por não ser mais capaz de se refinanciar nos mercados internacionais. Durante o mandato do Syriza, a Grécia retomou um fraco crescimento, e o terceiro e último programa de resgate foi concluído em meados de 2018, como esperado. O país é novamente capaz de se refinanciar, acumulou uma pequena reserva financeira e lucra com o florescimento do turismo.

Em outras palavras: Kyriakos Mitsotakis, um político mais para moderado, não assume um país à beira do abismo. Ainda assim são enormes as expectativas em relação ao descendente de uma velha dinastia política. A Grécia continua sob a fiscalização intensificada de seus credores, e precisaria de um crescimento muito mais pronunciado para alcançar os superávits acordados para os próximos anos.

O desemprego caiu de 26% para 18%, porém permanece o mais alto da União Europeia. O país precisa urgentemente dos investimentos que o Syriza não conseguiu promover, devido à sua aversão original ao setor privado. Como um dos partidos que arcam com a maior responsabilidade pela crise grega, o Nova Democracia precisa agora se afirmar como força responsável.

Por isso, ele não mexerá na maior conquista de Tsipras: o acordo com a Macedônia do Norte, que deu fim a décadas de uma disputa anacrônica sobre o nome do país vizinho. Mitsotakis criticou o pacto por diversas vezes, anunciando a intenção de renegociá-lo em parte. Provavelmente não o fará como premiê, pois, com uma pitada de patriotismo além do necessário, ele talvez atraia eleitores "de mentalidade étnica", mas só afastará a comunidade internacional.

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