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Opinião: Europa dividida, Putin fortalecido

Robert Schwartz ca
15 de novembro de 2016

Ante a crescente influência política de Moscou no Leste Europeu, a UE terá de encontrar uma política coerente para que a história de 60 anos de sucesso da Europa não venha a fracassar, opina o jornalista Robert Schwartz.

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Robert Schwartz é jornalista da redação romena da DW
Robert Schwartz é jornalista da redação romena da DW

Os resultados das eleições presidenciais na Bulgária e na República da Moldávia não são um bom presságio para o Ocidente. Mas esses recentes desenvolvimentos não devem ter surpreendido os tomadores de decisão na União Europeia (UE) nem na Otan. Passado um quarto de século do fim da Cortina de Ferro, cada vez mais pessoas no antigo bloco oriental estão decepcionadas com o Ocidente.

Muitos se veem negligenciados como europeus de segunda categoria. Os valores comuns tão enaltecidos, como a democracia, o Estado de direito e o respeito aos direitos humanos foram minados pelas velhas oligarquias, corrupção generalizada e severa crise econômica. O entusiasmo inicial pela Europa deu lugar a uma resignação que se tornou terreno fértil para tendências populistas e nacionalistas.

Embora não se vislumbre – exceto na Moldávia – uma guinada total em direção a Moscou, a situação na Europa Central e no Sudeste Europeu é de grande efervescência. Já há algum tempo a República Tcheca, a Eslováquia e a Hungria flertam com a Rússia e seu autoritário presidente Putin. Tais países criticaram com frequência as sanções da UE contra os russos devido à anexação da Crimeia e à guerra no leste da Ucrânia, sem se preocupar com o consenso em Bruxelas. E, assim, os líderes desses países – sejam socialistas ou liberais – sempre deixaram em aberto a opção de uma maior proximidade com Moscou.

Também os países eslavos ortodoxos dos Bálcãs ocidentais não querem se afastar do big brother em Moscou, apesar das tentativas de integração na UE. Putin habilidosamente entendeu como transformar a dependência econômica, principalmente no setor energético, em moeda política. E com um visível sucesso: cada vez mais políticos pró-russos vencem eleições. Bruxelas não quis perceber esses desenvolvimentos e, por isso, os negligenciou. A divisão que se alastra pela Europa vai ser difícil de consertar.

Atualmente, também na Otan a situação é instável. A Turquia é governada de forma cada vez mais autoritária e também procura se aproximar da Rússia. E o futuro presidente americano Donald Trump anunciou mudanças decisivas: a Europa deve assumir mais responsabilidades na Otan, ficando, portanto, cada vez mais por conta própria.

Ninguém sabe ao certo como deverá ser essa nova responsabilidade. Já agora nem todos os Estados pretendem ajudar da mesma forma no flanco oriental da aliança, embora seja consenso que ela deva ser fortalecida. Os Países Bálticos, a Polônia e a Romênia são os únicos na Europa Oriental que, junto aos EUA, se preparam ativamente para uma possível ameaça militar por parte da Rússia.

Não há dúvida: as crescentes tendências pró-russas na Europa Oriental não são apenas resultado do resgate de uma ligação histórica. Elas são antes consequência de uma profunda crise na UE. Há anos, a resposta de Bruxelas a essas tendências é uma só: ficar de fora e olhar de longe. Isso tem que acabar. Os países-membros do bloco europeu e aqueles que pretendem sê-lo devem se comprometer claramente com os valores comuns da democracia e liberdade. Iniciativas solitárias nacionalistas e populistas não podem mais definir a agenda da comunidade.

Agora são necessárias mensagens claras. Tanto internas quanto externas. Só poderá haver distensão quando uma mudança na postura imperial de Moscou for perceptível. Não foram as sanções contra a Rússia, mas a atitude e forma de agir agressivas de Putin que desencadearam o recente conflito entre o Leste e o Ocidente.

As pessoas na Rússia precisam do apoio da Europa, para encontrar uma saída da lógica de autoisolamento de Putin. A propaganda antiocidental de políticos e da mídia russas deve ser desmitificada. Não é o Ocidente que quis essa nova polarização. Mas são os ocidentais que, finalmente, terão de encontrar uma política coerente para assegurar que a história de 60 anos de sucesso da Europa não venha a fracassar.